O silêncio de Dalhia Camilotti

Uma noite fria, pouco vento, gritos e muito barulho acordava o silêncio daquela noite. Os gritos viam do 12º andar de um apartamento de luxo da Avenida Lamin.

– Onde estão esses políciais, onde estão – Apelava desesperadamente Beatriz uma senhora de seus 56 anos, que andava de um lado para o outro em seu apartamento andar abaixo.

Os poucos minutos que se passavam depois de sua ligação para polícia parecia uma eternidade.

Foi quando um tiro acompanhado de um grito horrível foi ouvido nos corredores daquele prédio e um grande silêncio depois deste. O coração daquela senhora e seu intimo lhe dizendo que nada mais poderia ser feito. O silêncio revelava que algo de muito grave havia ocorrido.

Assim que a polícia chegou, Beatriz resolveu subir e viu de perto o trabalho árduo de retirada daquele homem, sentado no meio de um rio de sangue que se formara no chão frio do banheiro, segurando uma arma com uma bela mulher sobre suas pernas, tão linda que mais parecia que estava dormindo ao invés de morta.

O homem parecia estar paralisado pelo que havia ocorrido, não expressava sentimento nenhum, nem dor, nem fala, parecia um morto vivo.

Beatriz encarou aquele homem firmemente nos olhos antes de ser levado pela polícia e começou a esmurrando-lo:

– Por quê? Seu cretino. Por que fez isso com ela?

Um dos policiais a segurou:

– Foi à senhora que fez o telefonema?

– Sim – Respondeu ela, chorando muito.

–Poderia nos acompanhar até a delegacia?

A Senhora concordou em ir até a delegacia, mas devido a sua idade avançada convenceu os policiais que ela faria, assim que um de seus filhos a pudesse levar, ela precisava de alguém de sua confiança naquele momento. No meio de policiais e peritos, Beatriz achou um lugar para se sentar e esperar seu filho.

Na delegacia, indignado pela crueldade dos fatos revelados pelos policiais, o delegado Moreira pediu para que aquele homem cruel fosse colocado junto com os criminosos mais perigosos que estavam presos ali.

Depois de alguns minutos o senhor Camilotti acompanhado de sua esposa, aproxima de Moreira, com sua imponência de um homem poderoso.

–Onde está o garoto?

–Sr. Camilotti, sinto muito. Tentamos chegar o mais rápido que pudemos. –Moreira tentava convencer que fizeram o possível para aquela tragédia não ter ocorrido. Foi quando outro homem entrou na sala, era o Sr. Borsarini, inimigo de sangue dos Camilotti.

– Onde está Pedro, meu filho? - Disse o Sr. Borsarini, olhando firmemente para o delegado.

Moreira sem saber a quem dar explicação, começou a ficar tremulo, visto que não tinha dado muito atenção ao chamado policial.

–Sinto muito, seu filho Pedro está preso.

–Preso, soltem meu filho agora.

–Não podemos, ele é matou aquela garota.

–Pode solta-lo, aquela garota era minha filha. – ordenou o Sr. Camilotti.

O Moreira ficou sem muito saber o que estava acontecendo, provavelmente uma divida antiga poderia explicar aquela solicitação.

– Sinto muito, mas não posso fazer, ele matou sua filha.

– Não ele não matou minha filha, minutos antes ele me ligou e explicou o que estava acontecendo, tentei chegar o mais rápido que pude, mas..., preciso resolver essa injustiça. Minha filha...

Antes mesmos de continuar Beatriz chega desesperada na presença de todos, com choro e pedindo, para soltar aquele homem, entregando dois pequenos bilhetes para Moreira.

– Soltem Pedro, agora. –Ordenou Moreira, depois de ler o primeiro bilhete.

Como se tivesse uma trégua momentânea entre aqueles dois homens, inimigos, mas em paz momentânea eles se cumprimentaram em olhares.

Moreira lê o segundo bilhete que foram trocados por baixo da porta do banheiro um pouco antes de Dalhia Camilotti tirar sua própria vida.

– Nos conseguiremos viver com sua doença, esqueci isso, vamos viver cada segundo que ainda nos resta junto, poderemos tentar novos tratamentos, novas esperanças... Não ha dor maior que a falta de seu sorriso... Não há sofrimento maior, você foi minha melhor essência e nossos momentos foram os melhores vinhos... Não me culpe não se culpe, não foi culpa nossa, apenas vivemos e que seja sempre momentos felizes, de ruim fique apenas o passado antes de nos conhecer... Não há pena e estou disposto a mostrar isso, não tirando sua vida como você me pediu, mas tirando a minha se você se for...

Ass.: Pedro Borsarini. (Bilhete).

O silêncio de uma lagrima e a declaração de um Carcereiro:

– Sr. Moreira, ele está morto, os presos o mataram.

Gilberto Rodrigues
Enviado por Gilberto Rodrigues em 26/07/2014
Código do texto: T4897919
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.