LIVROS E TIROS (Capítulo segundo)

"Voltava ele de um dos seus passeios ao parque, onde levava um ou dois livros para ler. Já era tarde e o sol caia lentamente, acompanhando a velocidade da própria cidade, quando foi abordado por um cara armado com nada a mais nada a menos que uma pistola. Aquilo não era coisa comum. Numa cidade de poucos assaltos, geralmente estes eram feitos com facas de cozinha. De fato, era tão estranho este assalto que ele, por um momento, pensou que a arma fosse de brinquedo. Se sim ou se não, preferiu não arriscar; pois, apesar da medíocre vida que levava, lhe agradava menos a ideia de morrer. Além disso, não tinha muita coisa pra roubar.

- Passe os livros - foi o que o ladrão falou.

- Como assim? Não quer meu dinheiro? Ou o celular? Ele não vale muito - disse tirando o celular do bolso - mas...

- Os livros, eu falei.

- Mas estes livros não valem nada.

- Como não? - disse o ladrão pegando os livros das mãos dele - Dostoievski! Se você acha mesmo que isso não vale nada, então, para o bem da humanidade, devo te matar - falou o ladrão em um tom de brincadeira, como se fossem amigos íntimos - Já esse aqui não conheço, mas vou arriscar a leitura. Adiós!"

Sobre este sonho inusitado, ele tinha uma preocupação mais inusitada ainda. Ficara pensando se o ladrão gostaria daquele outro volume que roubara. Mas que volume seria este? Foi quando lembrou que fora apenas um sonho e estupidamente voltou a si.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 25/08/2014
Reeditado em 26/08/2014
Código do texto: T4936189
Classificação de conteúdo: seguro