LIVROS E TIROS (Capítulo terceiro)

Havia uma figura na cidade, meio budista, meio cristã, que dava cursos de auto ajuda com o intuito de vender seus livros. Pois bem, acontece que este budista cristão, à noite, frequentava os mesmos lugares de Notório. Não podemos dizer que fossem amigos, mas dividiam garrafas e mulheres.

Uma noite, em um bar sujo da cidade, este sujeito foi ter com Notório.

- Tive uma ideia.

- Diga.

- Tá ligado nessa nova onda de crimes né?

- Que onda?

- Estão roubando livros. Vê se pode. Você é desligado mesmo. Faz mais ou menos uma semana. Não se sabe se é apenas uma pessoa, ou várias. O fato é várias pessoas já relataram que foram assaltadas, tendo seus livros roubados e nada mais.

Notório olhou surpreso para seu companheiro, mas não relatou nada em relação ao sonho que teve. Em seguida bebeu um gole do seu trago e falou:

- Que maluquice!

- Acho que dá um bom marketing.

- Como assim?

- Essa gente, não sei por qual motivo está roubando. Mas uma coisa sei. São pessoas perdidas. Sem rumo na vida.

Notório ficou com uma expressão severa, mas em seguida deu uma risada e olhou ao redor. Como se tivesse a intenção de perguntar: "E nós? Somos o quê?" Mas este sujeito não tinha tal sensibilidade pra perceber coisas que não fossem pronunciadas e, mesmo quando pronunciadas, muitas vezes fingia não ouvir. Continuou:

- Então...presa fácil. Logo meus cursos estarão lotados. Sei tipo um gurú dos marginais, tá ligado? Talvez até mesmo saia nos jornais.

- Que seja.

Algumas noites transcorreram e o sujeito ligou para Notório.

- Tá aonde?

- Em casa. Por quê?

- Tá afim de comemorar?

- Qual a ocasião?

- Saí com uma dúzia de meus livros hoje a tarde. Levaram tudo. Deixei meu cartão em um ou dois. Ia deixar em todos, mas achei que daria muito na cara.

- E você quer comemorar o fato de ter sido roubado?

- Marketing, cara!

- Ah sim...

- Então?

- Na verdade não estou me sentindo muito bem, deixa pra próxima.

- Você que sabe. Qualquer coisa estou na esquina da Auto Estima com a Avenida Esperança.

- É claro que está. Até mais.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 01/09/2014
Código do texto: T4945841
Classificação de conteúdo: seguro