Marina, Menina, Mulher. Cap Final

O amor vence tudo.

5 de Junho de 2014

O médico retirou os aparelhos da Marina. Ela estava um pouco melhor, só não voltava a si. Parecia que não queria viver. Achei que talvez as amigas lhe fizessem bem.Chamei a Priscila e a Renata pra visitá-la. Elas gostavam muito dela e todos os dia me ligavam pra saber notícias. Quem sabe a Marina não acordava ao ouvir a voz delas. O Ernesto levou as duas pessoalmente e o hospital permitiu a entrada das meminas e eu e Ernesto ficamos de fora assistindo. Marina estava tão pálida que parecia de cera. Estava também muito magra. Só se alimentava de soro. Não abria os olhos e parecia que não respirava. Eu rezava todos os dias por ela. Naquele dia, já podia ficar ao seu lado e até pegar em sua mão. Usava máscara e tinha que passar por um processo especial para poder entrar lá. As meninas tiveram que passar por isso. Foram todos avizados, que era uma visita bem curta.

Quando as meninas entraram no quarto, pedi pra elas falarem com a Marina como se ela estivesse ouvindo. Ela está ouvindo" - eu disse. Elas conversaram com ela dizendo tudo o que estava na garganta delas. Desde a saudade que sentiam dela, até a prisão da Baronesa e seus cúmplices. Contaram da ajuda dos amigos da escola. Da mobilização da sociedade. Disseram que elas nunca iriam se separar. E choraram muito ao ver a amiga nesse estado.

Quando se preparavam pra sair, Marina abriu os olhos e sorriu. Perguntou onde estava e segurou as mãos das amigas. Dei pulos de alegria e comecei a falar como um gravador e agradecer a Deus.

Marina precisará ficar muito tempo ainda no hospital, pois não sentia as pernas. O médico disse que era emocional por causa de tudo o que ela viveu nos últimos dias. Mas fizeram muitos exames. Conseguimos autorização para que a turma da escola a visitasse. Todos entraram de uma vez com flores nas mãos cantando uma canção, que a Marina mais gostava, do consagrado cantor Milton Nascimento. Era algo assim: "Amigo é coisa pra se guardar / debaixo de sete chaves / dentro do coração / assim falava a canção / que na América ouvi / mas quem cantava chorou ...” e como na música, todos choraram junto com Marina. Inclusive eu, que prometi que nunca mais ela iria chorar na vida.

A visita fez muito bem a Marina e ela reagiu. Quis andar tanto, que foi melhorando a cada dia. A fisioterapia ajudou, mas quem ajudou mais, foi ela mesma.

15 de Junho de 2014

Levei Marina na roça. Ela parecia ter cinco anos de idade. Corria para todo o lado. O sítio dela ainda estava lá. A madrinha reconstruiu a casa do jeito que era. E tudo estava perfeito. Ela pensava em adotar Marina um dia, mas desistiu depois da história que lhe contamos e da surpresa do fim do dia. Remunerei-a pelos gastos na casa.

Almoçamos uma deliciosa comida da roça feita pela madrinha Ana. Então eu chamei todos e revelei a surpresa final. Mostrei um papel que segurava na minha mão e disse:

O juiz de Menores deu a guarda definitiva de Marina pra mim e eu já a adotei. Esta é sua nova certidão de nascimento. Todos ficaram embasbacados. Sem fala. Então eu disse:

_ E aí? Não vai dar um abraço na sua mãe? E abri meus braços que logo foram prenchidos por uma menina chorosa. Beijei-a muito e prometi novamente que nunca mais ela iria sofrer de novo.

Advinha quem apareceu pra festejar conosco? O Ernesto e o Nhô Chico. Se encontraram no caminho e chegaram juntos pois o Ernesto deu carona pra ele. O velho é realmente uma figura. Rimos muito das histórias dele. Marina ficou feliz e parecia ter recuperado a inocência da infancia perdida. Mas todos nós sabemos que esta se perdeu para sempre. Mas prometi que vou tentar fazê-la criança enquanto eu puder. Enchê-la de bonecas, brinquedos e muito amor.

Eu e Marina fomos morar na roça. A Pri e a Re sempre íam nos visitar e levavam um dos colegas de vez em quando.

Não iria querer que a Marina sequer lembrasse, daquele casarão. Ele pertencia a ela. O pai dela era o verdadeiro dono e foi roubado na partilha da herança dos pais dele. o prédio foi transformado em um orfanato por pedido da própria Marina.

Instiguei Marina a escrevermos sua história, para que ela sirva de exemplo para as meninas da idade dela. Tem que confiar na justiça. Mesmo que tudo pareça perdido, alguém lhe ajudará. Ela Topou, e só pediu para lhe trocarmos seu nome. Por isso todos os personagens desse livro são fictícios. Os nomes verdadeiros não serão divulgados.

20 de junho de 2014

Deixei Marina com a Ana, que tem se mostrado uma segunda mãe para ela. Tinha um assunto a resolver. Ela ficou bem e está muito feliz aqui no sítio Boa esperança.

Segui de carro pela rodovia até a cidade pra resolver tudo o que deixamos pra trás. Vendi a casa e comprei o terreno vizinho a casa de Marina na roça. Era só pra ter certeza de que, o que é dela seria resguardado. Acertei as contas do orfanato, que agora tem 10 crianças abandonadas ou que foram retiradas pela justiça das mãos de cafetinas e cafetões, ou ainda, que foram tomadas dos pais que perderam o pátrio poder. Assim, a própria Justiça se encarregou de pagar as despesas de agora em diante, com uma pequena contribuição nossa.

Segui pela rua dos espinhentos até o bairro maior da cidade que era o Divino são lourenço.

Entrei no "Campo Santo de Cadência Citty" e andei até um pequeno túmulo branco no canto esquerdo. Dei um beijo e coloquei flores e a foto de uma menina em cima do túmulo. Ela agora descansava em paz. Na placa de metal estava escrito: Marina de Oliveira Santos – Nasc em 07/02/1998 - falec. 12/12/2010. Nas flores havia uma faixa onde estava escrito: Saudades Eternas de sua mãe Diana.

Disse-lhe: Ela já paga por tudo o que fez a você e as outras meninas. Perdoe-me querida, descanse agora, que a mamãe vai ser feliz com alguém que precisa muito de mim. Tenho certeza de que foi você que a colocou no meu caminho. Vou começar uma vida nova. Longe da civilização e da maldade do mundo. Adeus.

E segui para o carro rumo a minha felicidade. Boa Esperança era o meu refúgio e meu lar agora. Marina, aqui vou eu, minha filha.

FIM

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 03/09/2014
Reeditado em 04/09/2014
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