O mistério do Beija flor. 3° capítulo

Perguntei ao primeiro homem que encontrei no parque, qual era o nome do psiquiatra e onde eu o encontrava. Ele me respondeu que o psiquiatra da cidade tinha ficado louco. Agora era uma espécie de Professor Pardal e inventava coisas que ninguém nunca via. Morava ali perto do Parque Jensen. Mas ninguém o visitava. Tinham medo dele.

Eu estava ferrado. Não dormia bem a dias. Umas duas horas por noite e olhe lá. Precisava descansar a cabeça pra colocar as ideias em ordem. Saí caminhando pelo parque e voltei pra casa. Já estava entardecendo e eu não tinha pista alguma. O beija flor sumiu e eu não o vi mais naquele dia.

O delegado me ligou umas duzentas vezes e eu não retornei a ligação. Sabia que ele iria me cobrar. Não tinha respostas.

Qual era o mistério? Não conseguia ligar os fatos. Marquei um encontro com o Pedro, o namoradinho da Francine. Ele queria ajudar de qualquer jeito e deu pra me seguir pela cidade. “Quando não se pode contra os loucos, a gente se junta a eles.” Pedro me falou muitas coisas que a Fran gostava e coisas que ele sabia que as outras meninas gostavam. Nada demais. Todas gostavam das mesmas coisas que toda adolescente. Baile, celular(nenhuma levou?!?!), Beija flores, natureza, passeios, namorar, etc.

Eu e Pedro fomos no meu carro (um modelo novo que acabei de comprar) pra parte do Parque Jensen que eu ainda não tinha visitado. Parei perto de uma árvore velha que ficava num canto escuro do parque, onde o paredão de rocha era tão alto que o sol não pegava. Lá tinha um vagão abandonado de trem. Pedro me disse pra não ir até lá. Era lá que morava o tal Médico maluco. Perto dali muitos beija flores voejavam, apesar de lá não haver flores. Mas como havia beija flores em todo lugar na cidade, não estranhei. De repente os beija flores voltaram-se para nós e voaram a toda velocidade em nossa direção. Corremos para o carro e fechamos os vidros. Alguns se machucaram gravemente. Fiquei com pena mas não podíamos socorrê-los e por isso resolvemos ir embora. O incidente dos beija-flores me intrigou tanto que eu investigaria o que deixaria pássaros geralmente mansos, malucos assim!?!?

Uma coisa não havia me passado pela cabeça, a menina que eu vi pela janela do táxi era a Fran? Pedi a Pedro que me descrevesse a menina e ele me mostrou a foto dela. Tive certeza. Era ela.

Acrescentei a minha lista de detalhes, na frente do nome dela : “Correndo atrás de beija flores no parque Jensen.”

Parece que o estranho caso dos beija flores doidos tem tudo a ver com a ver com o desaparecimento das meninas. Mas não compreendia como eles podiam carregá-las. Será que eram levadas pra longe e lá eram mortas e enterradas por alguém? Não havia vestígios de sangue em lugar algum. Ninguém ouviu gritos. Onde andariam essas meninas meu Deus?

Tudo me levava ao médico maluco. Pedi a um amigo meu pra investigar a vida dos beija flores. O que levaria esses bichinhos a agirem estouvadamente.? Contei-lhe tudo o que me aconteceu. A pesquisa me deixou mais intrigado ainda. Ele me respondeu muito rápido, que eles nunca se irritariam. São calmos por natureza e morrem muito fácil. São muito delicados. Perguntou-me se eu estava ficando louco? Beija flor atacando alguém?!?! Fora de cogitação.

Resolvi investigar o tal médico. Chamava-se Fritz e era normal até sua filha desaparecer da cidade atrás de um garoto. Ela fugiu do pai pois ele era contra o namoro. O tal rapaz era muito novo e ela não teria futuro com ele. Foi encontrada dias depois toda suja e perdida da ideia. Ele a levou pra casa e nunca mais foi vista. Então se mudou pro Parque e vive dentro de um vagão abandonado, perto do lajão. Raramente é visto, mas dizem que ele virou inventor porque já ouviram barulhos de ferramentas perto de onde ele foi morar. Não abre a porta pra ninguém.

Fiquei dois dias esperando perto do vagão. Fiz um estoque de alimentos que dava pra muito tempo. Pedro apareceu me procurando e eu tive que puxá-lo pra dentro do carro pra não ser encontrado. Camuflamo-nos atrás de uns arbustos para que os pássaros não nos vissem. Fiquei com medo dos beija flores. Não queria fazer mal aos bichinhos mas, também não queria ser alvo fácil para eles. O vagão abandonado não parecia nada abandonado.Tinha luzes dentro dele. Pela janelinha dava pra ver quase tudo o que acontecia dentro dele. O estranho é que de repente o homem sumia da vista e não dava pra vê-lo por muito tempo. E de repente, ele aparecia do nada. Cheguei a conclusão de que dentro do vagão, tinha uma passagem para dentro do paredão de rocha.

Dormimos e acordamos bem cedo com o barulho de uma perua Arrural saindo de trás do vagão. Pensei que estes carros nem existissem mais. Este até que estava bem conservado. O homem estava dentro dele sozinho. Deixei-o se afastar e entrei no vagão, deixando Pedro a vigiar dentro do carro. Se aparecesse alguém ou ele visse o carro chegando me ligava no celular. Por incrível que pareça, a porta não tinha tranca, abriu e rangeu ao meu leve toque. Dentro dele parecia um laboratório. Um boneco em forma de palhaço tinha uma câmera e com ela o homem conseguia ver quase tudo do lado de fora menos a área de onde eu estava. Graças a Deus. Um caderno em cima de uma mesinha continha anotações a respeito de beija flores. Cada página anotava o nome de um beija flor diferente. O estranho era que ele continha fotos de pessoas de costas. Foram tiradas no escuro de modo que só ele sabia quem eram as pessoas.

Uma estátua de barro perfeita exibia uma menina linda. Em baixo uma dedicatória que dizia: Papai vai trazer você de volta. Perdão minha filha.

Outro caderno de anotações estava em cima de uma cama. Ao lado da cama estava uma porta como eu imaginava. Dava pra dentro da montanha. Resolvi ler o caderno. Era um diário do Médico.

Ele não colocava datas. Era maluco mesmo. A primeira anotação dizia:

“Busquei minha filha na cidade. Ela está completamente desorientada. Enlouqueceu. O sofrimento foi demais pra ela. É tudo culpa minha. Vou abandonar meus clientes e vou morar em um lugar retirado pra tentar tratá-la.

Inventei uma máquina que transforma as pessoas em seres bem calmos que não se irritam e não se abalam nunca. Vou usar nela. Já fiz o teste com os beija-flores. Prendi alguns na cabine e eles ficaram muito doidos querendo sair. Liguei a máquina e eles ficaram calminhos. Voaram normalmente. E comeram normalmente alegres como sempre. Vai ser amanhã.”

Pedro me ligou no celular e eu me assustei e saí correndo. Entrei no carro e ele me falou que a irmã dele estava vindo para o Parque. Sentiu a falta dele, e vinha procurá-lo.

Disse a Pedro que era melhor ela não vir. Expliquei a ele que lá dentro tinha um laboratório muito suspeito e que eu tinha medo por ela. Mas ele disse que ela era especialista em biologia e genética. Que tinha feito várias experiências de DNA e gostava muito do assunto. Talvez nos ajudasse. Esperamos a menina chegar e fiquei muito desconfiado quando a vi. Ela era muito pequena pra ser esse gênio que ele descreveu.

O seu nome era Gisele e me disse na maior cara de pau que tinha 14 anos de idade e que era irmã gêmea de Pedro. Seus pais lhes deram nomes bem diferentes pois não se pareciam em nada. Eram bivitelinos e por isso a diferença. Um era grande e forte e a outra era um cisco. Mas nada inferior na inteligência. Mais tarde pude comprovar isso, ela era demais. Um pequeno gênio.

Como o carro do homem não voltava, resolvemos voltar pro laboratório e dessa vez Gisele me acompanharia. Pedro continuaria de vigia. Deixamos o diário do médico com Pedro e entramos no vagão. Gisele ficou encantada com tudo e foi me falando os nomes de todos os equipamentos que tinha por lá.

Ela chegou a conclusão que ele estava fazendo experiências genéticas. Provavelmente transformações genéticas. Pedro ligou desesperado dizendo que chegou em uma página em que o cientista afirmava que a filha dele tinha virado um beija flor. Isto explicava tudo. Porque os beija flores corriam atrás da gente. Eram as meninas!!! Estavam querendo dizer alguma coisa. Meu Deus!!! Ele é realmente louco.

Gisele disse que veio atrás da gente porque chegou a conclusão que era a próxima vítima. Explicou um detalhe que eu não havia percebido:

_Que espécie de policial investigador é você que ainda não percebeu que ele está usando o fichário da clínica dele? Eu sou a próxima letra. A paciente de número sete. Conheço aquele fichário pois ele deixava eu ajudar a organizar quando eu ia na clínica. Era vizinha da minha casa.

Continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 16/09/2014
Reeditado em 16/09/2014
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