O PARAÍSO É LOGO ALI cap. 1

A velha ponte que ligava GreenVile a Vila Verde, era muito bonita. Tinha sido feita a muito tempo e ninguém sabe se ela foi feita antes da cidade ou o contrário. Na verdade, sempre esteve ali e todos a usavam para ir e vir com naturalidade. Ela, agora era o motivo de eu ter voltado a cidade depois de tanto tempo.Ela havia sido serrada bem no centro e provocara uma tragédia. Os jovens, que costumavam tomar banho de cima da ponte, e estavam todos fazendo a maior algazarra naquele domingo, despencaram de uma altura de seis metros de altura sem esperar por isso. Geralmente pulavam desta altura sem prejuízo. Mas cair é outra coisa. No meio dos destroços da ponte, ficaram gravemente feridos. Cinco meninas, bem espoletas, de idade entre quinze e 22 anos e dezoito rapazes entre 17 e 26 anos de idade estavam sobre a ponte no momento do desabamento.

Depois de comprovado que as pilastras de madeira da ponte (que já eram bem antigas) foram realmente serradas, fui chamado pra tentar desvendar o mistério. Quem faria uma coisa dessas? Nem eu, renomado detetive, investigador da polícia da capital, seria capaz. Tive medo de manchar minha reputação com este mistério.

A ponte era local muito frequentado pelos moradores de Candance Citty. Embaixo da ponte se conseguia pescar muitos peixes bem graúdos. A água límpida era motivo de banhos frequentes para todos. Era pleno verão e isto acontecia todos os fins de semana além de passarem pra lá e para cá a toda hora. Ninguém passaria despercebido cortando as pilastras da ponte com uma motosserra barulhenta.

A cidade era bem pacata e havia muitos anos que não acontecia nada de extraordinário. Deixei Candance Citty, desde que ajudei a resolver o caso dos beija-flores, pois aqui não haveria trabalho para investigar. Mas este lugar pacato é realmente uma lindeza e adoro ficar aqui.

Os bairros próximos à ponte foram assim chamados pelos moradores, pois do lado de lá as pessoas queriam mudar o nome da cidade para Green Vile mas do lado de cá, queriam em Português, Vila Verde. Os dois títulos cairiam bem a cidade, mas o prefeito e a Câmara de vereadores, não aceitaram a mudança e o nome da cidade continuou o mesmo. Em teimosia, os moradores, começaram a chamar os seus bairros assim. O lugar está crescendo muito.

O crescimento da cidade se deve ao Dr Fritz que resolveu investir na cidade e em seus alunos superinteligentes. Ele construiu a Faculdade de Ciências gerais (FACIG) e instituiu vários cursos. A região ao redor da FACIG foi redecorada. Ela foi construída do outro lado do rio, bem na saída do parque. Ficou um lindo prédio de dois andares com cores que lembram as nossas amigas aves. Tem cinco entradas que lembram o pentágono Norte americano. Cada entrada dá para um dos cursos oferecidos pela FACIG. O curso de Engenharia Mecatrônica, é o mais frequentado. Os outros cursos são de Biologia Genética, Engenharia Química, Engenharia Civil e Física Quântica. Os professores vieram de longe. Todos aposentados e apaixonados pela ideia do dr. Fritz. A ideia de reconstruir o mundo através da educação de jovens talentos. Vieram alunos de muitos lugares, mas a prioridade era para os alunos mais aplicados de Candance Citty. Claro que a Gisele era a principal aluna da faculdade, a mais aplicada e a mais inteligente. Tinha outros alunos que foram descobertos na cidade, com talentos especiais e graças a esses talentos foram criadas as faculdades todas. Gisele faz Biologia Genética. Tem dado show! Todos a elogiam muito.

Mas voltando ao problema da ponte, fico horrorizado com o desastre que aconteceu. Recebi do Dr Fritz um relatório sobre os alunos e os estou estudando para ver se chego a alguma conclusão. “Dos 23 alunos que tomavam banho na hora do desabamento, apenas cinco ao todo, entre meninas e meninos, escaparam. Os dezoito que morreram, eram duas meninas e dezesseis meninos. Curiosamente estes alunos não eram os melhores alunos da FACIG. Dos alunos que morreram apenas dois tiraram média em todas as matérias, para passar no final do período. Os outros estavam em apuros. Provavelmente seriam expulsos da FACIG. Pois quem não tira notas excelentes, não fica aqui. Esta faculdade é somente para alunos gênios. Como esses alunos conseguiram passar no vestibular não dava pra saber. Era uma incógnita. E mais difícil ainda era saber como estavam todos na ponte na hora da confusão.

Não havia melhores alunos, pois todos eram excelentes. Com exceção destes alunos. Claro que cada um deles tinha um talento especial em alguma área. Por exemplo, havia entre eles um aluno que se chamava Igor e não era muito bom em Língua Portuguesa, mas em compensação era um gênio em matemática. Não havia cálculo que Igor não conseguisse fazer. Havia o Ignácio que era muito bom em quase tudo, mas não se desenvolvia em assuntos que dependiam de sua oratória. O coitado era gago que só Deus pra ajudá-lo. Era motivo de chacota entre todos os alunos.

A Dayse era um gênio em matemática, em Química e em quase tudo, mas estava tendo problemas sérios em gravar os conteúdos e passar para o papel na hora da avaliação. O Heraldo era muito bom em tudo o que fazia mas não conseguia fazer nada em desenho artístico, por isso não fazia gráfico nenhum. Em se tratando de aluno de Engenharia, fica difícil ir pra frente. O Sílvio era um gênio, mas era uma negação em escrita. Acho que devia ser egípcio na outra encarnação. Como seria possível para qualquer professor entender a sua caligrafia horrorosa. A Wanda era muito esperta em organizar os grupos mas não sabia fazer nada sozinha. Tinha na cabeça tudo o que precisava mas precisava falar com alguém. Sem um grupo a pobre se perdia toda e o seu saber se perdia. Nas aulas em que precisava expor suas ideias no papel pra efeito de avaliação, ela era um fracasso...”

Cansei de ler o relatório do Doutor e resolvi dar uma volta pra tentar conversar um pouco com alguém e tirar minhas próprias conclusões.

Sem outra alternativa pra passar pelo rio as pessoas providenciaram um barco a motor para fazer o trajeto Green Vile & Vila verde. Resolvi tomar o barco e dar uma olhada debaixo dos destroços da ponte. O barco movia-se devagar e assim pude observar todos os detalhes. Sei que sempre escapará algum detalhe que não conseguirei ver. As pilastras foram serradas em diagonal de cima para baixo, possibilitando o arriamento da ponte assim que fosse excedido o peso adequado para estas condições. A ponte, apesar de velha parecia muito segura, porém pude observar que a madeira das pilastras estava bastante deteriorada na parte que ficava dentro da água. Havia paus flutuando na margem e estes estavam com um dos lados podres. Será que a ponte cairia antes que o culpado pudesse imaginar? Sendo assim talvez, nem cortasse as madeiras. Quem quer que fosse, queria que a ponte caísse urgente. Mas por quê? Não fazia sentido. Assassinato premeditado?!? Precisava de um motivo.

Saltei do barco e subi nos destroços da ponte. Cheguei bem perto e observei que os cortes eram estranhos. Linhas se formavam na extensão deles. Como se fossem cortados de tempos em tempos. O limo faria então essas linhas. Mas haveria limo se a madeira estivesse longe da água?

Tomei novamente o barco e desembarquei do outro lado. Andei, por alguns minutos, pensativo, e fui entrando no parque sem perceber.Do outro lado do rio uma mulher olhavas pra cá com olhos chorosos. Estendia o braço como se quisesse vir até aqui. Estranho. Porque não tomava o barco. O barulho dos pássaros que cantavam e micos que pulavam de árvore em árvore causando rebuliço entre as aves com seus gritos me distraiu. Olhava pra cima enquanto percorria um pequeno pedaço de grama próximo do rio e quase caí n'água quando tropecei em alguma coisa. Seria um simples incidente se “a coisa” não fosse uma bela mulher. Ela levantou-se assustada e gritava me enxovalhando com todo o estoque de palavões que tinha em seu vocabulário. Fiquei sem palavras diante da beleza da moça por um bom tempo, e só então percebi que ela tinha parado de me xingar e perguntava insistente:

_ Ei, Não vai se explicar? Que história é essa de andar tropeçando nas pessoas? Não olha por onde anda?

Acordei de repente e comecei a rir diante da cena ridícula que causei.Uma crise de risos tomou conta de mim. Ria tanto que a moça começou a rir também. Quando passou a crise, me apresentei.

_Desculpe-me, vai. Estava olhando os micos e os pássaros e não te vi. Meu nome é Jhon Henrique, mas todos me chamam de JH.

_Tudo bem! Helen Cristina, Professora de Física Quântica da FACIG.

_ Ah! Que bom! Eu precisava mesmo conversar com um professor desta faculdade.

_Encontrou uma. Às ordens!

_Está aqui desde quando?

_Desde que a faculdade foi criada. Na verdade ajudei nos cálculos para a construção. Vim para cá em Abril de 2014. Nosso professor de engenharia e eu somos responsáveis por criar este lindo prédio que você vê hoje.

_ Disseram-me que todos os professores da FACIG eram aposentados e trabalhavam pela causa. Não acha que é um tanto novinha pra ser um deles?

continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 31/10/2014
Reeditado em 06/11/2014
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