Eliott Scoch em: O roubo do colar Olho de Gato

- Bom dia senhora Mara. Hoje eu trouxe as melhores jóias que a senhora já viu.

- Olá Michael. Entre querido. Fique à vontade.

Michael Bruce era um rapaz trabalhador. Vivia isolado do caos da cidade. Gostava do vilarejo onde morava e da comodidade que ele trazia. Michael era um vendedor de jóias. De todos os tipos desde colares de pérola até os mais simples anéis de diamantes. Mas, de todos, o que mais ele tinha orgulho de apresentar era o famoso colar Olho de Gato.

- É lindo Michael! Lindo!

Tinha forma circular feito de ouro e dentro deste círculo havia o formato do olho de um gato feito de esmeralda. Valia muito dinheiro.

- Pena que não posso comprar. Mas, como o senhor sabe, vou levar os outros.

- Sim senhora.

Michael colocou o colar delicadamente sobre o sofá. Mara olhava o tempo todo para ele. Estava a hipnotizando. Sua criada, Úrsula, se aproximou.

- Que belo colar. – ela levou a sua mão até ele, mas sua patroa disse em um tom de alarme, o que fez Úrsula afastar os seus dedinhos da jóia.

- Não toque nele Úrsula. É delicado.

- Lindo e delicado.

- Peça única. – disse Michael analisando um anel com sua lupa especial para examinar as pedras preciosas.

Naquela mesma manhã, Michael saiu com a sua mala e foi até outra residência. A pequena, ainda que luxuosa naquele vilarejo, casa dos Morens. Nela viviam o senhor Felisberto Moren, sua esposa Magda Moren e sua filha Joyce Moren.

- São todas belas senhor Michael. Todas. – disse Magda com os olhos brilhantes.

- E eu lhes apresento uma das minhas jóias mais valiosas. Estou à espera de quem a compre.

Ele mostrou o colar e eles se encantaram.

- Quanto ela vale? – indagou Felisberto tirando o charuto da boca.

- Oitocentos mil dólares. – disse Michael radiante.

- Oitocentos mil dólares? – mais radiante ainda ficou Magda. – O que estamos esperando Felisberto? Vamos comprar.

- Não. – impediu Felisberto soando a voz de maneira autoritária. – É muito dinheiro. Sabe que somos ricos, senhor Michael e que podemos conseguir esta jóia de outra maneira.

- De qualquer forma – disse Michael com um sorriso. – eu trouxe as outras para que vocês possam ver.

- Seria uma perda de tempo comprar este colar. – disse Joyce que estava compenetrada em um livro. Depois, os seus olhos se moveram na direção das mãos de Michael que guardava o colar na valise.

Agora ele se direcionava para outra casa. Era uma casa pequena, humilde. Subiu as escadas na entrada e tocou a campainha.

- Bom dia. Eu vendo jóias. O senhor gostaria de vê-las.

Eliott não era um grande apreciador de jóias, mas pela simpatia de Michael ele aceitara ao pedido. Minutos depois ele analisava algumas pulseiras e braceletes de ouro.

- São muito bonitos. E caros, eu creio.

- Um complementa o outro senhor Scoch. O barato além de muitas vezes não ser tão belo, sai caro. Se você comprar além de ser caro, será uma peça valiosa e bela para sempre.

Michael abriu a valise e mostrou a Eliott o colar Olho de Gato. Eliott ficou pasmo com tamanha beleza. Muito bem fabricado e acabado. Brilhava como a luz radiante do sol.

- É muito lindo. Um ótimo presente para namorada, esposa. O senhor é casado?

- Não, não. Claro que não. Sou detetive. Não tenho muito tempo para isso. Não ainda, pois, penso em me aposentar.

- Mas já?

- Sim, eu sei que estou novo, mas prefiro curtir o meu mundo. Porém, enquanto aparecer alguns casos, eu estou pronto para tudo.

Michael estava de saída. Cumprimentou Eliott e antes de sair, fez uma observação.

- Você gosta de jaca?

- Bem... Não muito. – respondeu com certa estranheza.

- Aquele pé de jaca – ele apontou para a árvore do outro lado da rua. – está sempre carregado e são as melhores. Se o senhor algum dia quiser experimentar, valerá à pena. São excelentes.

- Eu não quero mais que você continue trabalhando desse jeito Michael. Pode ser perigoso sair por aí com essas malas recheadas de jóias. E esse colar Olho de Gato? Você já viu o quão valioso ele é? É muito perigoso.

Elizabeth Bruce era a mulher de Michael. Era alta, esguia, de cabelos negros e curtos, olhos castanhos penetrantes e rosto fino.

- Eu não posso deixar o meu trabalho Beth. Senão, não teremos o que comer.

- Eu se fosse você venderia para alguma joalheria essas jóias e procurasse outro emprego. Ou trabalhasse na própria loja para evitar esta exposição constante.

- Levar as jóias para os meus clientes é como levar a luz para as suas vidas.

- Tudo bem, tudo bem. – disse Elizabeth um tanto exasperada com a insistência do marido. - Depois não diga que eu não avisei. Enquanto você leva o brilho para a casa dos seus clientes, qualquer um deles pode roubar este brilho de você.

E na manhã seguinte, Michael acordou desesperado. Vestiu o seu blazer azul marinho e saiu correndo pelas ruas em direção à casa de Eliott.

- Roubado?

- Sim, senhor Eliott. O colar foi roubado!

- Fique tranqüilo senhor Michael. – Eliott serviu-lhe um copo d’água. – Pode me dizer o que o senhor estava fazendo, se viu alguma coisa, ouviu?

- Bem, eu... Eu estava em meu quarto e a minha esposa dormia. Não escutei nenhum barulho. Fui notar a ausência do objeto hoje pela manhã quando notei que a valise não estava entre os meus pertences de venda.

- E sua esposa? Sabe de alguma coisa?

- Ela ficou calada quando me viu desesperado. Ontem ela havia me alertado de que poderia ser perigoso eu sair por aí vendendo essas jóias. Cogitou a idéia do roubo e acertou em cheio.

- O senhor não acha que ela poderia tê-lo roubado?

- Não. Beth não seria capaz disso.

- Ontem quando o senhor saiu nas casas vendendo as jóias, quem exatamente viu o colar Olho de Gato?

- Bem... Deixe me ver, deixe me ver... Sim. Primeiro eu fui à casa da senhora Mara, uma senhora simpática. Depois à casa do senhor Moren, onde estavam na sala sua filha, Joyce e sua esposa Magda. Depois eu vim até aqui.

- Com certeza todos eles apreciaram com bons olhos a peça.

- Sim, claro. Ela é muito bonita. Como eu disse ótima para presentear alguém.

- Você tem alguém em mente que possa tê-la roubado?

- Talvez, não sei senhor Eliott. Peço-lhe que venha até a minha casa para investigar o local. O portãozinho dos fundos foi arrombado.

- Ai! Ai! – Beth tentava erguer o seu corpo. – Mas que sono é esse? – e caiu novamente na cama. – Meu corpo está molenga e sem forças.

Lentamente ela colocou os pés no chão. Com os olhos fechados, mesmo sem ver nada, ela sentiu que pisara em algo gélido.

- Droga! O que é isso?

Apanhou um pequeno frasco transparente e tentou ler o rótulo. Tratava-se de um barbitúrico.

- O ladrão entrou por aqui. – apontou Michael para o portãozinho que estava aberto.

Eliott analisou. Iria perguntar, mas Michael estava mais a frente. Eles entraram na casa.

- Percorreu a cozinha, sorrateiramente, subiu as escadas e entrou no meu pequeno depósito no fim do corredor.

Parados no meio da cozinha, Michael disse reluzente:

- Ah! Lembra-se da jaca que lhe falei?

- Sim.

- É esta daqui. – Michael aproximou-se da fruta.

- Por que não corta um pedaço?

- Mas, agora detetive? Acabei de colher do pé, precisa amadurecer.

Beth descia as escadas. As mãos pressionando a cabeça e os olhos baixos como um farol de um carro.

- Michael... Pode me explicar o que... Quem é esse?

- Eliott. – respondeu. – Um cliente.

- O que é isso? – ela mostrou o frasco. – Encontrei perto da minha cama. – ela bocejou.

- Posso ver senhora Bruce?

Eliott apanhou o frasco.

- Barbitúricos? – ele voltou o seu olhar para Michael.

- São meus. – ele tentou remover o frasco das mãos de Eliott, mas foi impedido.

- Seus... Ou ingeridos por sua mulher? Seus... Ou foi o senhor quem montou o cenário do roubo? – Eliott o confrontava.

- Você está maluco!

- Seus... Ou você acha que me engana?

Eliott se aproximou da jaca. Antes de apanhá-la virou-a. Havia um buraco no fundo. Levou as suas mãos dentro da fruta e como pensou antes, encontrou o colar no meio dos caroços.

- Seus... Ou foi o senhor quem roubou o colar Olho de Gato?

Michael Bruce havia preparado o cenário antes de cometer o roubo. Ministrou no leite da esposa os barbitúricos para que ela dormisse sem poder escutar o momento que ele acordasse. Desceu as escadas, foi até o portão, deixou-o aberto, escondeu o cadeado. Foi até o depósito, apanhou o colar e colocou dentro da jaca. Michael Bruce disse à polícia que queria apenas... Presentear a esposa. Iria embora do vilarejo com a sua mulher, com o dinheiro da joia, levando a jaca com ele. Pode parecer algo bobo, mas ele levaria a joalheria para qual trabalhava para vender à jóia, para as manchetes dos jornais. Pode também ter parecido idiotice da parte de Michael procurar um detetive, mas até que para Eliott foi divertido e para Michael também. Principalmente a parte em que Eliott colocou a mão dentro da jaca. Dali em diante, ele passou a comer muitas delas e com aquela esperança ilusória de encontrar uma jóia dentro dela.

FIM

Rogério Varanis
Enviado por Rogério Varanis em 12/11/2014
Código do texto: T5032649
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