Capítulo 5
O PEDÓFILO DE LUZ
 
     Vonaldo nasceu na cidade de Luz-e-ana, no início da década dos anos sessenta, com mais quatro irmãos, o pai caminhoneiro, a mãe doméstica, moravam em uma casa simples, e desde cedo foi praticamente expulso de casa para procurar emprego, não interessava quanto ganhasse, mas que trabalhasse, esse era o lema da senhora sua mãe. Estudar nem pensar, estudo não enchia barriga de ninguém e muito menos era garantia de futuro – assim diziam seus pais.
     Começou fazendo pequenos serviços próximo de casa, e o melhor que conseguiu foi o trabalho de trocador em ônibus. Precisava acordar cedo, de segunda a sábado, e como não estudava aquela era sua obrigação imposta por sua mãe, que não perdoava gente preguiçosa. Porém, ao que parecia não havia amor, mas uma necessidade pelo dinheiro para fugir da fome. Ao contrário de incentivar e colaborar para o engrandecimento do futuro cidadão, seus pais, preferiram explorar a força do trabalho dos filhos menores. E assim foi sua pré-adolescência e do seu irmão mais velho, tudo já começava errado.
     Por volta dos onze anos teve a grande decepção, seus pais decidiram separar. O pai metido a galã de cinema em suas viagens terminou por arrumar algumas aventuras que deixavam rastro e quando chegava em casa facilmente era perceptível pela esposa. Mas, separação não é o fim do mundo, o problema foi que o pai o abandonou, não quis saber dos filhos, jogando-os a própria sorte.
     Com a dissolução da sua família a vida que já era difícil ficou pior, não bastasse ter que trabalhar ao contrário de estudar agora seu pouco dinheiro era mais solicitado em casa para o alimento de todos. Até aí era suportável, porém, já diz os mais experientes: não há situação ruim que não possa ser piorada. Seu tio começou a abusá-lo sexualmente, se aproximou com promessas de presentes, passeios, e outras vantagens até conseguir o seu intento. Os abusos eram frequentes, houve semana que acontecia todos os dias, até que sua mãe desconfiou e talvez por vergonha, Vonaldo decidiu fugir de casa, iria à procura do pai, que nessa data já morava no nordeste, em Teresina.
     Contou uma história fantasiosa para sua mãe, disse que queria visitar o pai, pois há dias sonhava com ele, quem sabe aquele sonho fosse um chamado do próprio pai. E uma vez com o pai poderia arrumar um emprego e todo dinheiro que ganhasse enviaria para ajudar no sustento dos irmãos, mas na verdade estava era fugindo do tio.
     Autorizado pela mãe pegou seus quase nada e não teve dúvida, não seria a “mulher” do tio pelo resto de sua vida. Às escondidas comprou uma passagem e falou para a mãe que estava tudo certo, antes telefonou para o pai lhe pedindo o endereço para visitá-lo, no que foi atendido, mas no seu íntimo sabia que jamais voltaria.
     Tudo pronto chegou o grande dia, foi embora sem o tio saber, pois com certeza seria impedido da fuga. Sua mãe o levou na pequena rodoviária e assim despediu-se da sua cidade natal, agora iria à busca de dias melhores, talvez trabalhasse menos e não sofreria os abusos do tio.
     Durante a viagem vivia a pensar em uma nova vida, quem sabe ganharia muito dinheiro e voltaria para buscar sua mãe e irmãos. Com seus treze anos e com a dor interior do que sofreu na mão do tio queria esquecer seu passado, imaginava um mundo melhor ao lado do pai, quem sabe poderia ser ajudante de caminhão e em pouco tempo poderia ser motorista, sua imaginação fértil estava a mil por hora. Pela janela começa a ver os primeiros sinais de Teresina, agora era real, ele havia conseguido, estava livre do passado, um futuro incerto o esperava.
Afonso Luciano
Enviado por Afonso Luciano em 05/12/2014
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