O CRIME PROMOVE BIS

O CRIME PROMOVE BIS

Tudo que se quer, linda musica da trilha o “fantasma da ópera”. Aquela noite tinha acabado a força elétrica na hora em que ouvia essa musica.

Minhas economias estavam precárias naquela época, não podia armar coisa furada pra voltar pra cadeia. Teria que ter uma boa ideia pra por em prática, pois o bom estelionatário é expert nesse tipo de coisa.

Fuçando entre meus contatos, encontrei o nome de Sergio Carrasco, um boliviano que morava em Corumbá-MT. Peguei o Celular e vi que era da mesma operadora, liguei para o meu suposto amigo e ouvi uma voz forte e meio rouca com sotaque castelhano..falei: - Buenas noche Carrasco, de lá veio uma voz meio gritada. - Quem estás ablando ai? Repondi que era seu amigo Jose Fandango, me respondeu com raiva – non tengo amigo, se és mi amigo que quieres de mim?

- Tengo una propoesta pra ti....- ablas luego porque non tengo tiempo.

Pensei por um instante, pois tinha que asseverar-me de que estava arguindo direito para aquele interlocutor castelhano, pois pelo que soube o bandido era formado em direito na Universidade de La Paz, Bolivia.

Mas sou atrevido, sei os termos técnicos da lei por ter que me livrar sozinho da cadeia.

- Tu me viste uma vez em Santa Cruz de La Sierra, na baiuca do Gonzalez...Lembras?

- si

- Te ablei que tengo desenvoltura para hacer documiento falso.

- Se tiene algum para hacer, me mande que provo o que te ablo..

- outra coisa, te passo o meu email e vc. me manda os dados....

- Se aprovado, te cobro.....ok?

Vem aquela voz acastelhenada falando meio gritado, que até pensei que não ia ter negocio.

Ledo engano, o bandido queria negocio pois tinha alguns condenados querendo sair do país, mas não tinham passaporte..

Uma semana depois veio a qualificação do pedido. Era um nome bem brasileiro, com sobrenome Santos.

Tudo perfeito, foto sete por cinco colorida, a mesma do passaporte brasileiro. Ai contatei meu fornecedor e foi só colar a foto e carimbar com o timbre da PF. Mas havia algo estranho no ar e desconfiei, no entanto toquei o barco. Tudo conforme reza o figurino, mandei o documento para o Carrasco e assim que recebeu me mandou o pagamento. Deu até pra descolar uma japonesa numa boate da Liberdade.

Pelo jeito a coisa foi pegando, pois logo uma semana depois veio outro pedido. Dessa vez era um nome estrangeiro, nacionalidade suíça. Outra vez achei estranho, mas pensei, estou na chuva para me molhar.

Achei por demais estranho pois o Carrasco me pediu um passaporte francês com visto americano. Nesse caso o preço seria pra tirar o pé da lama. Contatei novamente o meu excêntrico guru, pois dessa vez era difícil. Mandei os dados e uma semana depois recebo um envelope com a encomenda com tudo em cima, falsificação de primeira, que dificilmente uma autoridade iria desconfiar. Só que o Carrasco solicitou minha presença na Bolivia. Disse que tinha que conversar sobre outros documentos mais elaborados.

Todo cheio de si, pensando na grana que ia receber, viajei de avião para Santa Cruz de La Sierra, cidade cheia de contrastes, parecia mais uma Calcuta, cheia de barracas de bugigangas de todos os lados, mercadorias vindas de todas as partes do mundo, menos do Brasil, não sei porque.....

Logo que cheguei fui direto ao encontro do meu suposto amigo Carrasco.

Estava cheio de planos..

Até de comprar um ap na Rua Paim, bairro do Bexiga em Sampa.

Dizem que o crime não compensa e a recíproca é verdadeira.

O nexo do direito se faz a coerência do ser em certos caminhos.

Meu caminho sempre foi desviado para o mal.

Não que eu seja mal e sim a necessidade que me põe a prova da solidez do ser.

Tudo nessa vida é transbordante. Até um copo vazio, pois a natureza humana é farta de coisas simples, só que esse miserável ser não delineia os quesitos para por virtudes naquilo que fazem.

Quando cheguei no local indicado, senti um certo calafrio.

De soslaio observei ao redor o que estava para acontecer.

Minha percepção logo se deu o que me esperava.

Era uma casa de entrada simples e bem cuidada. Senti que estava sendo observado, pois acima de mim pairava uma câmera meio ultrapassada.

De dentro da residência veio aquela voz meio gritada – Entre meu amigo Fandango.

Pensei em dar meia volta e retornar para o lugar de onde não deveria ter saído, mas já estava molhado dos pés a cabeça com tudo aquilo.

Até que a cordialidade foi sutil e educada, porém quando olhei para um compartimento a minha direita, vi algo que me fez tremer.

- Como vai Fandango, tá lembrado de mim?

Olhei bem aquela figura esquisita, não tinha nada de meu amigo Carrasco.

Porém tinha um sorriso sarcástico e vi que o cara estava armado com uma pistola 7.65.

Demorei um pouco para saber com quem estava lidando.

Era nada mais nada menos que um Delegado da Policia Federal que certa vez tive o desprazer de ser pego por ele. No entanto naquele momento estávamos no mesmo patamar.

Nisso chega o destemido Carrasco.

- Como estás homble?

- bem, mas não estou entendo nada por aqui.

Ai o Carrasco disse que a encomenda era para o seu amigo da Policia.

Logo pensei, estou ferrado..., mas para minha surpresa o Delegado tirou do bolso o combinado e me pediu pra ver se estava certo. Entreguei-lhe o documento e ele verificou e gostou do que viu, modéstia a parte o serviço era de primeira.

Então nesse interim me disseram para eu esquecer que estive naquele lugar e que nunca tinha visto tal Policial por ali.

Voltei para o Brasil e bisbilhotando com o pessoal conhecido da policia, soube do desaparecimento do delegado, sacudi a cabeça e tirei uma soneca leve e sonhadora. Realmente esqueci daquela façanha que me fez tremer e pensar que o crime está em todas as partes, mas que devemos sempre ter em mente que tudo isso é passageiro e que um dia acaba.

Entrei de sócio com um honesto rapaz num barzinho no centro de São Paulo e hoje estou levando a vida que sempre vislumbrei. Servir petiscos e bebidas para todo tipo de gente. Documentos só os meus......

E comprei o tal ap na rua paim......

Nino Campos