Um lápis esquecido... parte Quatro

Fechei os olhos e preparei-me para o fim. Um filme passou pela minha frente. Nele eu era protagonista de uma vida inteira dedicada a polícia e a minha família. Vi meu pai e tudo o que aprendi com ele. Minha esposa, e perguntei-me o que seria dela se eu não estivesse mais aqui. Isto me deu força pra reagir e então abri meus olhos e olhei pro bandido. .Duque estava parado com os olhos parados. Era como se ele estivesse em outro lugar. Tirei os meus sapatos para não fazer barulho, levantei e sai de fininho. Ele não percebeu. Quando cheguei a porta de saída ouvi um tiro. E corri o quanto pude. Não sei como escapei porque ele correu também. Esconder não adiantaria nada. Entrei num taxi depois de uma esquina e pedi ao motorista pra sair em disparada porque eu estava fugindo de um bandido armado. Ele conseguiu sair da linha de fogo e Duque me perdeu de vista. Mostrei minhas credenciais da polícia e expliquei que estava a paisana por isso não estava armado. Não era o caso. Minha arma estava em baixo da minha roupa mas eu não queria atirar pela rua com medo de ferir um inocente.

Saltei do táxi em frente a delegacia e lá já tinha um bilhete esperando por mim em cima da minha mesa. Duque me dizia que não me matou porque não quis, e ria seu KKKK.

O pior é que eu sei que ele estava falando a verdade. Porque ele estava fazendo isso comigo? O que ele estava tentando fazer? Porque não me matou? São respostas que talves eu nunca vá obter. O delegado me chamou na sala dele e pediu pra eu sentar. Quando ele fazia isto a coisa era séria e exigia muita destreza da parte dele. Pra meu dezespero ele começou a falar bem devagar:

_Cara, você sabe que pode contar comigo sempre não é? Sei que sua família é muito importante pra voce mas a gente tem que ser forte quando se é policial. Este cara é perigoso e você já sabia o que ele representava. Que bom que ele não conseguiu te acertar no cinema.Senti um arrepio percorrer o meu corpo nessa hora. Uma lágrima desceu pelo meu rosto em brasa. E então eu falei pra Delegado:

_Pelo amor de Deus, o que aconteceu?

Ele desviou o olhar e escolhendo as palavras falou:

_Tivemos que deslocar sua esposa de onde ela estava por motivo de segurança. Ela recebeu isto na casa dos pais. Lçigou pra você e vc não respondeu então ela confiou em mim. Nas mãos do delegado estava um lindo buquê de flores, que ele pegou embaixo da mesa. O cheiro era muito doce. Parecia que era pra comer.

_Alguém borrifou as flores com uma essencia adocicada para que seu bebê comesse. Ela desconfiou das flores e me chamou até lá. Fui e trouxe as flores comigo. Estão envenenadas. Se você quizer abandonar este caso eu vou compreender. Va para longe com sua família que eu vou pegar o cara.

Pensei muito no que ele disse mas não aceitei. Levantei bravo dizendo:

_Agora ele me deixou realmente muito bravo!!! Não sabe com quem se meteu!!!

_ Calma Lúcio, Vê lá o que vai fazer. Pensa na sua esposa e filha. Esse cara é louco.- Mas as lágrimas não me deixavam ouvi-lo. Pensava na Lili comendo aquelas flores com cheirinho de balas e ficava com ódio maior ainda. Saí dali com a determinação de um louco.

O dia estava no fim mas eu não fui para o hotel. Fiquei na praça olhando pra todos que passavam esperando uma oportunidade de atacar. Já tinha decidido por fim aquele miserável de uma vez por todos. Porque não havia matado ele no cinema. Tive oportunidade e não fiz.

Ali sentado nem percebi a presença de uma freira que sentara-se a meu lado e me observava esperando ser vista pra falar. Levei um susto quando a percebi.

_Já estava ficando preocupada com você meu filho!!

_ Oi irmã. Desculpe-me não havia visto a senhora.

_Eu sei disso mas fazem dez minutos que estou aqui a gesticular e voc não atendia meus chamados. O que está acontecendo de tão grave. Como estão Lili e Regina?

A irmã Terezinha está na paróquia de Nossa senhora do Carmo há muito tempo. Desde que fez os votos há uns dez anos. Conhece todo mundo por aqui. Adora Regina e as vezes me pergunto se as duas não foram irmãs em outra vida. Estão sempre a fofocar alguma coisa da igreja. Ela estava de férias e fora visitar a família no interior. Quando voltara não conseguia contato com a Regina.. Fazia umas cinco horas que estava a minha procura. Na delegacia lhe informaram que eu estava de folga. Agora ao me encontrar tão absorto em meus pensamentos ficara preocupada. Eu gostava daquela freira baixinha também. Era como uma irmã pra mim. Por isso quando ela terminou de falar eu já estava abraçado com ela e choramos os dois por um tempo até esclarecer pra ela o que estava a acontecer. Ela me acalmou e se acalmou. Disse que iria pedir ajuda na celebração da noite na igreja. Os fiéis iriam ajudar a dar uma solução pro caso.

Depois que deixei a irmã Terezinha fui para o Hotel descansar. Eu precisava disso. Tinha que por as idéias no lugar. Mas na hora da celebração noturna da igreja católica fui pra igreja. Resolvi rezar e assim buscar alívio para a alma. Mas encontrei lá mais do que alívio. A irmã falou no púlpito depois da celebração eucarística e explicou que precisava de alguma idéia pra ajudar a Regina e a família dela. Todo mundo começou a discutir dentro da igreja. Nem se lembraram do santíssimo.Quando a irmã conseguiu reestabelecer o silêncio, pediu que levantasse o dedo quem tivesse algo relevante pra dizer. Um homem levantou a mão e perguntou?

_Como achar alguém que não se sabe nem o nome?

Eu não podia envolver aquelas pessoas nestas história. Ou será que podia? Resolvi contar a eles a história desde o começo. Expliquei que o cara era louco e que era muito perigoso se envolverem. Que aceitava ajuda de alguém que fosse experiente em casos parecidos. Que quem não fosse experiente fosse embora e deixasse na igreja só quem pudesse realmente ajudar sem correr riscos. Que evitassem comentar sobre o caso na rua e se precisassem comentar, que fossem cautelosos. Se precisássemos dos outros não exitaríamos em recorrer a eles. Foram saindo em silêncio mas faziam um gesto de apoio ao sair. Ficaram na igreja dez pessoas, mais eu e a irmã. O padre colocou-se a disposição no que precisássemos mas disse que não era experiente e não queria atrapalhar.

continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 23/02/2015
Reeditado em 24/02/2015
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