Trauma Insuperável

Trauma Insuperável

Sophia corria pelos corredores da delegacia, chegando a sala de reuniões dos seus colegas, avisou:

– Pessoal, o Saramago ligou: tem um caso de homicídios que querem que nós investiguemos.

Todos se levantam e seguem até o carro para irem ao local indicado, onde Saramago os esperava. Durante o percurso, Camilo o contatou pelo rádio:

– Qual a situação, Saramago?

– Cinco corpos deixados em cinco prédios. Todos deixados esta noite, todos de mulheres. Idade entre 16 a 18 anos. Aparentemente todas mortas da mesma maneira: intoxicadas com gás, depois tiveram suas pernas quebradas e foram estranguladas. Essas são as informações, Camila.

No carro Aline comenta:

– Chefe não é melhor pedir para a Sophia verificar essas informações, já que as informações do Saramago não são tão confiáveis assim.

– Eu ouvi, Aline. E fique você sabendo que quem passou essas informações foi uma equipe enviada pelo doutor Roberto. Eu posso ser burro, mas não incompetente!

– Mas de qualquer forma, Sophia fará a análise detalhadas dos corpos já que essa é a sua especialidade. Daqui, quinze minutos, chegaremos aos locais dos crimes.

No tempo determinado, a equipe chegou onde um dos corpos se encontrava, o grupo de legistas já levavam o corpo pra o IML. Camilo, rapidamente, começou a dar as ordens:

– Sophia, acompanhe eles! Lui, peça a solicitação as empresas de segurança e verifique as câmaras dos prédios onde foram achados os corpos. Aline, descubra quem são essas jovens e avise as famílias delas. Saramago, nós vamos brincar de jogo das semelhanças e diferenças!

Horas depois, na delegacia, Camilo pergunta a todos:

– O que temos? A única informação relevante que consegui foi que todos os prédios foram construídos em 1984.

– A ação do assassino em colocar os corpos em todos os prédios durou cerca de uma hora.

Sophia olhou para Aline e comentou:

– Vamos dar a eles informações relevantes, amiga?

– Quer começar?

– Já que insiste. As meninas não sentiram dor. Todas foram intoxicadas com um determinado gás caseiro composto por enxofre, muito comum na fabricação de queijos também utilizado em massas de bolos e pães, logo estavam inconscientes antes de serem espancadas e mortas, como Saramago já tinha informado. Também colhi dos corpos das vítimas resíduos de metal envelhecido, está em análise no meu espectrômetro.

– Identifiquei as vítimas, todas as famílias disseram que as jovens saíram de casa para trabalhar na Padaria São Gonçalo, essa padaria só existe no papel. Mas todas foram contratadas para trabalhar em uma entrevista feita na Agência Melhoramentos Recursos Humanos.

Saramago, imediatamente, mudou o semblante: ficou apático, assustado, algo o tinha impressionado.

– Acho que já vi isto. Cinco jovens foram violentadas, espancadas e mortas no ano de 1984. Uma das vítimas era a filha do dono da Padaria São Gonçalo. O homem acabou deixando a profissão.

– Informações colhidas. Ora de agir! Sophia vá para o laboratório e encontre algo que possa identificar o local do crime, através do material colhido no corpo das vítimas! Aline e Luimar vão até essa agência e verifiquem quem ressuscitou a Padaria São Gonçalo: como as vítimas foram selecionadas para a morte; e como e por quê a agência permitiu isso! Saramago faça uma entrevista com o tal assassino, meliante, monstro, sujeito, o que você quer quiser chamar! Eu vou brincar de caça ao tesouro!

Assim, todos saíram para os seus afazeres.

No laboratório, o seu espectrômetro já havia analisando a substância colhida no corpo da vítima. Pela composição química apresentada, Sophia começou a procurar um possível local onde aquele resultado obtido poderia ser encontrado. Percebendo que encontrou uma provável região, ligou para o capitão:

– Capitão, teve sorte?

– Não, tive não. O assassino de 84 terminou de cumprir pena no final do mês passado. Ele, com a ajuda de uma comunidade de reabilitação de presos, conseguiu trabalho em uma chácara produtora de leite na região de Barretos. Ele tem um álibi incontestável no momento em que o último corpo foi deixado, ele mesmo entregava o leite ao caminhão da cooperativa. Não foi ele. E você está com sorte?

– Depende de você – disse rindo ao telefone – Eu identifiquei algumas substâncias, aqui no laboratório, e preciso de um mandato para verificar todos os containeres vindos de Santos nos últimos três meses. Consegue pra mim?

– Gênia, me espera no porto terrestre do ABC, lá tem vários containeres que vem do litoral, onde podem ser alugados a terceiros.

Enquanto os dois se uniam, outros dois se separavam. Aline e Luimar ao chegarem Agência Melhoramentos Recursos Humanos dividiram as atividades: o perito em eletrônica, com o mandato obtido na delegacia, pediu as imagens do circuito interno para verificar as entrevistas que as aprovadas acabaram sendo assassinadas. A psicóloga decidiu conversar com as suas colegas de profissão que trabalhavam na agência para verificar como foram convencidas a disponibilizarem as vagas.

Luimar conectou seu computador no sistema de monitoramento interno e começou a assistir as imagens. A única constatação que teve foi: elas realmente pensaram que estavam indo aprender uma nova profissão, pois o entrevistador passava conhecer muito bem a profissão, ou seja, ele era um padeiro mesmo. Aline chegou à mesma conclusão: a padaria tinha CNPJ verdadeiro, a entrevista feita com o dono da padaria mostrava que realmente ele realmente estava disposto a contratar jovens para ensinar uma profissão, a imagem da padaria pronta esperando o pessoal para trabalharem, foi o mais forte argumento para as responsáveis disponibilizarem as vagas para o homem.

Ela percebeu que tinha algo errado com a imagem. Levou até Luimar para que ele a examinasse. Ele antes de começar a verificar a imagem comentou:

– Diz pra mim que você tem mais que uma fotografia modificada para eu analisar. Diz que tem o nome do padeiro assassino.

– Eu tenho um nome sim. Mas o Saramago ainda está investigando com a Sophia, os containeres. Então, teremos que esperar até eles voltarem. O que a foto nos diz.

– Truque simples. Foto colorida através de foto shop. A foto parece nova, mas parece que...

– Foi tirada nos anos 40 – entrou Camilo completando. – O nome que você me passou bate com o nome do verdadeiro dono da Padaria São Gonçalo. O Saramago encontrou o contêiner onde as vítimas foram assassinadas, está registrado no mesmo nome: José Luís Gonçalo Dias.

– Vem comigo, Lui, vamos conversar com seu José Luís.

Os dois entraram no carro e se dirigiram até a casa onde o suspeito morava. Chegando ao local, uma casa onde a porta da frente da casa dava diretamente a rua, falaram:

– Senhor José Luís, precisamos conversar com o Senhor!

– Podem entrar a porta está aberta! – disse ele lá do fundo da residência.

Camilo e Luimar abriram a porta, uma grande explosão arremessou os dois alguns metros de distância. Enquanto, José Luís tentava escapar do local por uma saída lateral deparou-se com a equipe do capitão Saramago apontando a sua pistola para ele e lhe dado voz de prisão.

Na delegacia, antes da conversa com o senhor José Luís, Camilo, já recuperado, perguntou:

– Como sabia que tínhamos ido a casa dele?

– Eu não sabia que vocês tinham ido lá. Mas eu sei que quando o líder de um bando perde o bando, mas sobrevive nunca abandona o local de sua perda. Eu fui lá dar voz de prisão pela morte das cinco jovens, mas ele complicou-se mais ao atentar contra a vida dos meus amigos.

Os dois entraram na sala de interrogatório, primeiramente, Saramago depois Camilo. Os dois sentaram diante do acusado e ficaram em silêncio. Vendo que o homem não dizia uma palavra, Saramago falou:

– Acha realmente que precisamos dizer por que você está aqui? Só queremos saber o porquê disso.

– Não precisa. Confesso, fui eu quem matou essas moças. Mas vocês me forçaram a isso: no momento em que colocaram o homem que tirou tudo de mim na rua novamente, me obrigaram a refrescar a memória da sociedade, o que monstros como ele fazem como pessoas como eu, não merece uma segunda chance.

– Errado. O maior monstro está diante de mim. Você destruiu a vida de cinco jovens apenas por um capricho pessoal. O seu orgulho não tem limite e este monstro eu não posso colocar em uma prisão.