O fim - parte dois - o desfecho de uma guerra

- Hehehe...

- O que é tão engraçado?

- Toda essa adrenalina e tensão... Sonho com esse momento a anos....

- Por isso que matou tantos inocentes?

- Que culpa tenho deles serem fracos? Um samurai precisa praticar, do contrário sua espada enferruja e se torna inútil...

- Que praticasse nas árvores ou fundasse seu próprio dojo! Não há nenhum motivo para matar aos outros assim!

- E qual seria a graça em fazer isso? Não tenho família, tampouco amigos. Vivo pela lei da espada, do encontro de espadas!

Assim, a luta entre Jairo e González ia se acirrando. A movimentação agora era mais frenética. Jairo pulava por todos os lados, confundindo Érico que passava a sentir dificuldades em acompanha-lo. Aos poucos ele sentiu que não bastava ter um espírito combativo e habilidades de luta. Era preciso “sentir-se” um samurai autêntico para vencer.

A luta seguia num ritmo frenético. Jairo mantinha a vantagem e começava a acertar os pontos cegos de González. Em um rápido jogo de pernas, Jairo aplicou uma finta em González e o acertou violentamente nas costas. González sentiu o golpe.

- Ah miserável! Arf... arf...

- Já está cansado? Cadê aquela disposição e agressividade de antes?

Numa atitude desesperada, González partiu com tudo para cima de Jairo. Novamente, tomou outra finta e, agora um golpe no braço esquerdo. Um corte que dificultou ao mesmo manipular a espada com perfeição.

- Isso está ficando entediante...

- Me... mesmo?

- Você mal consegue falar... Ai, ai. Acho que chegou a hora de finalizar com isso.

- Enfim, concordamos em algo...

Naquele momento, González fechou os olhos e se abaixou, aguardando o ataque de seu oponente. Só lhe restava um golpe, justamente “aquele” golpe que aprendera há muitos anos atrás. Não tinha muita confiança de que fosse dar certo, mas tinha de tentar. Sua vida estava em jogo naquele instante, além de toda uma reputação como investigador e defensor da justiça. Precisava tentar. Era tudo ou nada. O fim de tudo ou a prorrogação da destruição.

Assim, meio que “sem querer”, as dúvidas se apagaram da sua cabeça. Compenetrado, González passou a sentir todo o ambiente e as pessoas que o cercavam. No caso, “pessoa” no singular. Sua confiança em si voltou a subir em um pequeno espaço de tempo. Justamente na melhor hora. Seria o suficiente para derrotar Jairo, o assassino da chuva? De fato, não sabia. Mas aquela era a sua melhor chance em anos...

Jairo achava aqueles movimentos engraçados. Tudo para ele era uma diversão, criar um mundo melhor não passava por suas ambições. Desde moleque sentia-se diferente, especial. Hoje não era diferente. Será?

Dessa forma, foram os dois para o “fechar das cortinas”. Por um lado, Jairo se aproximava com grande velocidade. A distância de dez metros entre eles se reduzia em uma questão de segundos. Vinha com fome, ansioso por sangue e pela vitória sobre o seu grande adversário em muito tempo. Por outro lado, González optou por esperar. Mão direita próxima à espada, ainda na bainha. Olhos fechados, ouvidos atentos. De repente começa uma contagem:

- 5, 4, 3...

- Já está rezando? Morra!

Com dois saltos alternados da esquerda para a direita, Jairo desferiu seu golpe na lateral da barriga de González. Todavia, González fez um movimento espetacular para escapar. Deu dois passos para frente, girando no próprio centro. Ao final do giro, sacou a espada e com um corte de baixo para cima, acertou as costas de Jairo. Atônito, Jairo tentou contra-atacar mais teve sua espada quebrada e mais um corte profundo em diagonal, dessa vez pela frente. Jairo estava de joelhos. A luta, enfim estava terminada.

- Bra.. bravo... González... Enfim, revelou o seu segredo.

- Não precisávamos chegar a esse ponto.

- Foi muito divertido... Agora você vai saber como é matar pe...pela espada.. Cought (tosse);

- Antes de mais nada, preciso saber: você vai suspender os ataques a esta cidade?

- Mas é claro... afinal, sou um homem de palavra...

- Bom saber...

- Está duvidando das minhas palavras, porque sou um assassino?

- Sou apenas cético como qualquer policial. Ah... ainda sinto dores no meu braço...

- Hehe... Nem na vitória você sossega...

- Vou chamar ajuda para você.

- Não precisa... meus ferimentos são pesados...

- É o meu dever.

- Mas não o meu desejo. Amanhã pela manhã meus homens se entregarão... Cough (tosse) cough (tosse)

- Enfim, acabou...

- É... foi uma lon...longa jornada...

- Venci.

- Mor... morri.

Assim, Jairo fechou os olhos e morreu. Enfim, a jornada do assassino da chuva terminava. González começava agora a refletir nos ganhos da sua vitória. Outrora improvável, tornou-se real, brilhante. Ainda assim, sentia-se mal. Não pelo seu braço quebrado, mas pelas várias mortes causadas pelo assassino da chuva. Sua incapacidade em evita-las seria pra sempre uma marca desse caso. Além disso, teria que treinar mais. Aprimorar os seus reflexos como um samurai, afinal vai que aparece um novo assassino da chuva? No fim das contas, a justiça prevaleceu com várias cicatrizes e caminhos a serem refeitos. Nem precisa dizer que essa era mais dentre as tantas sinas que o seguia no caminho de um policial. A diferença é que agora ganhava um novo caminho: o de um samurai.

No dia seguinte, a grande maioria do exército de Jairo se entregou. Faltaram apenas dez, segundo os relatos dos demais, que ficaram para honrar os “ensinamentos” do mestre. Atento, González mesmo com o braço quebrado, pensou consigo mesmo: “Hei de ser uma boa diversão”...

Andarilho das Sombras

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 29/11/2015
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