Morte por Prazer

Morte por Prazer

Ter sido convocado para resolver um caso rapidamente, não é novidade. Mas quem chamou surpreendeu. Alice é extremamente competente para nos chamar tão depressa; chamou-nos no primeiro corpo. Logo, não poderia me dar ao luxo de dividir a equipe, então todos nos dirigimos às pressas a cena do crime.

Academia de boxe de Alexandre Sodré, situada na periferia de Salvador, foi aonde chegamos. A comoção era geral, afinal, a academia ajudava vários jovens a não se ingressarem no caminho sem volta das drogas. Mas não poderia me contaminar psicologicamente, precisava encontrar com Alice e ter foco no caso. Quando vi o corpo, compreendi a urgência do caso: o homem moreno pendurado como um saco de pancada, literalmente na própria academia. Com toda a certeza, não era um simples assassino, era um psicopata.

– Diz pra mim que eu não estou vendo o que eu estou vendo – disse Sophia rompendo o silêncio.

– Desculpa, mas, sim é o que você está vendo. O homem foi morto por múltiplos golpes na região torácica... – respondeu Alice.

– Quebrando-lhes as costelas, perfurando o pulmão, causando asfixia – completou Sophia.

– É impressão minha ou temos uma versão chefa da gênia? – comentou Sonia.

– Impressão sua – respondeu Camilo,

– Impressão! As duas acabaram de olhar um corpo e dar um diagnóstico?! – retrucou Saramago.

– A única diferença que notamos é que a Sophia não é chefe de uma equipe – completou Luimar, provocando o delegado.

– A principal diferença das duas está no fato, de apesar da nossa química ter amplo conhecimento não despreza outros! – respondeu a Camilo.

– Você considera a sua capacidade de transformar tudo em lógica de jogos, conhecimento? – retrucou Alice.

– Agora o clima ficou tenso! – concluiu o hacker.

Antes que meus motivos pessoais fizessem com que perdêssemos o foco, joguei os dados novamente, e prossegui o jogo.

– Ok, vamos focar para pegar esse assassino! – dizia também para mim – Lui e Sônia olhem o computador e o celular pessoal da vítima; precisamos saber as últimas interações pessoais dele, bem como o que aconteceu depois que ele fechou a academia. Saramago observe ao redor do prédio, procure algo de diferente, afinal essa noite alguém se encontrou com ele, dopou-o, entrou no prédio, o prendeu, o matou e foi embora: impossível ninguém ter visto nada. Sophia já está trabalhando. Tenho que jogar uma fortaleza de dominó.

– Por que você sempre vê jogos em tudo? – perguntou Alice.

– Meu cérebro funciona dessa forma, se não souber o que estou jogando não sei como me comportar. Vai ficar conosco?

– Não. Existem outros casos a serem resolvidos, não só psicopatas matam. Mas estarei à disposição. Para qualquer coisa... – falou se aproximando dele e jogando charme.

– Ei! Não dê em cima do meu marido na minha frente! – reclamou a esposa do delegado.

Saramago fez questão de acompanhá-la até fora do estabelecimento de luta.

Nesse instante, sabia que teria meia hora para analisar toda a mecânica do local, antes do policial terminar a coleta de depoimentos e Sophia os diagnósticos detalhados do corpo. Comecei observando o saco de pancada jogado ao próximo gancho onde a vítima estava. Seguindo o sistema de cabos de aço observei que dava em uma esteira onde quando ligava apertava uma alavanca rolava um saco de pancada. O carro estava estacionado ao lado da esteira e um carrinho alto próximo. Sophia me chamou:

– Chefinho, preciso de ajuda para tirar o corpo – falou alto para eu que pudesse escutar.

Mesmo atendo de prontidão, demorei cerca de uns cinco minutos. Tempo suficiente para o olho rápido da doutora em química encontrar uma barra de ferro e tirasse o corpo. Falta apenas verificar uma única coisa para atender a lógica do assassino: colocar a máquina para funcionar. Coloquei calculei o tempo de aquecimento do motor: cinco minutos. Tempo suficiente para quem quer que fosse retirasse o saco antigo. O homem trabalha sozinho. Quebra cabeça montado? Não. Uma peça não se encaixa: uma região dentro da academia, no campo de onde Alexandre foi encontrado, que havia sinais de uso de substâncias entorpecentes. Pode-se faltar peças não sobrar...

Mas havia acabado o tempo, Sophia já me olhava e os outros se aproximavam. Como estava com dúvida expus o que observei a eles.

– Acho que sabemos a resposta. Havia um e-mail com a seguinte pergunta: O que te dá maior prazer? Alexandre respondeu: Ver um jovem largar as drogas e socar um saco de pancada. Ele foi morto como um saco de pancada depois de ver alguém fumando droga – interpretou Luimar.

– Chefe a Aline me informou que deveria ser duas pessoas, mas um homem que trabalha como vigia viu por volta das duas ou três da madruga alguém de boné saindo da academia.

– Mas ainda há dúvida: o outro indivíduo pode ter saído depois ou, antes.

– Quem socou foi uma única pessoa. Posso garantir que a estrutura de impacto a mesma. Ele foi dopado com sonífero leve. Efeito de duas horas, confirmando a ideia do teatro, sugerida pelo Lui.

– Temos tudo: passo a passo do assassino, quando, como matou, mas não sabemos quem, apenas que mandou esse e-mail, se passando por jornalista de um computador público.

– Falta apenas a peça principal, vamos encontrá-la – Sophia, consegue traçar um perfil físico com base nos golpes usados observados?

– Posso me aproximar o máximo possível – respondeu a perita em ciências orgânicas.

– Lui, criptografe a conta, precisamos descobrir que fez isso.

– Mestre, criptografar um e-mail do Google demora cerca de 24 horas e pode ser um tiro no escuro.

– Corremos o risco. Sonia e Saramago procurem outras interações suspeitas nas redes sociais. Eu vou jogar pega-vareta, onde a preta não estamos vendo.

Fiquei na delegacia, em uma sala cedida, às pressas, para minha equipe. Olhando para o quebra-cabeça montado com as informações que detinha, tentando achar a solução, mas nada fazia sentido. Não queria um segundo caso, mas se houvesse mais um poderia mudar a tática. Estava tão concentrado que não percebi Alice chegando, apenas senti o seu toque. Levei um susto.

– Você é real, ele é também! Não se preocupe, você vai pegá-lo.

– Obrigado, mas queria saber como – respondi a ela.

O rádio tocou. Alice se afastou e depois.

– Chame a equipe, novidade, o assassino do prazer apareceu novamente.

– 24 horas! Esse cara é rápido – falei ao olhar o relógio.

Liguei para a equipe, ia dispensar a Sophia de vim para montar o perfil físico do assassino, mas ela fez questão de ir conosco. Nunca imaginei que veria alguém morto assim. A jovem foi, literalmente, escrita. Todo seu corpo estava marcado com letras que às vezes formavam palavras. Segundo, minha esposa a causa da morte foi perca de todo o sangue do corpo. O computador da vítima foi trazido ao acessar o e-mail, a mesma mensagem de um e-mail diferente, resposta: sair do mundo escrevendo.

– Maldito e-mail! Como eles me matariam se eu dissesse sexo e rock? Mandaria uma Striper com uma metralhadora em forma de guitarra? – bracejou Saramago.

– Não posso garantir isso. Mas não dá ideia Saramago – disse o chefe de computação.

– Perfil de vendedor, não escolhe vítimas, faz ofertas, aparecendo a oportunidade ele executa – declarou a Sonia.

– Tubarão é complicado, só uma vítima para mantê-lo afastado – comentou o policial.

– Chefe, temos que agir rápido – falou Luimar. – Descobri que as duas vítimas têm uma rede social em comum e também um mesmo contato Sonhos Meu. Perfil é uma foto de longos cabelos loiros, sem nome ou qualquer outra informação. A pessoa quer ser anônima. Ela está on-line, conversando com Sergio Gonçalves.

– Hacker, entra em contato com o Sergio e, com ajuda do Saramago, oriente ele para que possamos pegar esse cara.

– Como podemos prendê-lo se ele usa armas improvisadas? – perguntou o capitão.

– Através dos acessórios, o lacre de aço usado para imobilizar as vítimas é vendido em lote, ele utiliza-se do mesmo sonífero para dopá-las, precisamos encontrá-los em mãos.

Nos dirigíamos para o bar o encontro foi marcado. O hacker deixando as coisas apenas com o Saramago, identificou o cartão de crédito usado na compra do lote de lacre, bem como o seu endereço. Os cabelos longos loiros não existiam mais, e sim uma mulher magra, forte, morena de cabelos curtos. Sergio chegou, se apresentou, pediram bebidas e lanches. Não demorou muito, Marcondes, sob ordens de Alice chegou, entrou fazendo uma geral, encontrando o sonífero e um caldo feito com restos de peixe na bolsa do homem. A mulher morena era Alice.

Alguém escreveu que seu sonho era mergulhar em um mundo de cheio de tubarões, esta era a morte programa após a morte de Sandra, a jovem escritora. Muitas outras viriam, se não agíssemos rápido.

Sergio era um verdadeiro hacker e invadindo o computador de locais públicos envia e recebia e-mails fictícios. Luimar tinha constatado isso quando percebeu que esses computadores estavam com defeito. Logo, hora de montar a armadilha para enganar o hacker.

Na delegacia, o homem não tinha como explicar a quantidade de acessórios e o mapeamento seqüencial de possíveis lugares para cometer os crimes.

Depois de tudo, a única coisa que pude fazer foi perguntar:

– Desde quando você gosta de tubarões?

– Não gosto, mas foi fácil conhecer o mergulhador dono do e-mail a trocar comigo. Lembra quando eu disse que ele era humano.

– Agora tudo faz sentido, você já sabia ali, porque não me falou

– Para você se lembrar que todos trabalhamos em equipe, não esqueça de confiar nela.

– Obrigado!

Algumas horas depois, no aeroporto, todos reunidos a única palavra de Camilo foi:

– Sabe o que mais me dar prazer? Ter uma equipe excelente. E assim o Sergio não poderá me matar.