~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. IV

Já tendo conhecimento do pensamento do detetive à respeito de seu caso, Carlos se encontrou mais tranquilo e acomodado ao ambiente.

- Bom, sendo assim - ele disse, aguardando o momento em que o detetive se sentaria novamente e falassem frente a frente. Não demorou para que voltasse a ocupar seu assento na cadeira e ficasse de frente com Carlos -, desejo contratar o seu serviço para saber quem é que está sumindo com as coisas de minha mãe.

- Está seguro disso? Digo - deixou as costas eretas e puxou a cadeira com rodinhas um pouco para frente, só alguns centímetros a mais -, você já deve ter ouvido alguém comentar que não trabalho como os demais detetives, uso técnicas diferentes de investigação. Gosto de acompanhar bem de perto tudo o que atravessa os meus olhos, de conviver com as minhas suspeitas... O que faz muitos me chamarem de maluco.

- Eu diria "engenhoso" - disse, em recordação das palavras do amigo Henrique ditas na última vez em que se falaram. Carlos sempre se admirou com a inteligência e o belo falar de seu amigo, por isso lhe convinha copiar as palavras dele, e também porque era um homem sem muita criatividade para dizer coisas assim, tão meritórias.

- Obrigado! - o fitou um pouco surpreso, uma vez que não era o mais comum que ouvia falarem em relação à sua pessoa - mas também me adianto em dizer, e sem querer parecer exigente ou presuntuoso, que geralmente o meu trabalho pesa no bolso do cliente...

- Eu já o sei - falou de imediato e pensou novamente na conversa que teve com Henrique, afim de conseguir uma boa resposta -, mas dinheiro nunca foi um problema para mim.

- Nesse caso, só me resta informar-lhe das últimas exigências que precisarei para maior sucesso na investigação...

- Diga, pode dizer! Do que precisa? - demonstrou um sorriso exibido, como se não se preocupasse com qual pudesse ser a resposta do detetive.

- Só de um escritório e um quarto em sua mansão - entrelaçou os dedos das mãos sobre a mesa e mostrou-se bastante pacífico -, já que me instalarei na mansão para executar as investigações.

- Vai ficar morando na minha mansão? - indagou, com o cenho franzido.

- Eu disse que o meu trabalho é distinto. Mas não se preocupe, será só enquanto o caso não for solucionado.

- Bem - fez uma pequena pausa para analisar a ideia antes de prosseguir -, não acredito que sua estadia na mansão será um estorvo... Tudo bem.

- Então me passe o endereço da mansão e aguarde minha chegada amanhã de manhã - disse, oferecendo um caderno aberto numa folha em branco e uma caneta para Carlos.

- Claro.

~*~

Na manhã do dia posterior, na mansão dos Arantes, o mordomo já estava informado por seu senhor da chegada do detetive a qualquer momento e permaneceu no salão principal, enquanto o Sr. Arantes estava na antiga biblioteca da mansão que ficava num corredor da parte baixa. Quando a campainha tocou, o mordomo estava divido entre abrir primeiro a porta ou avisar a seu senhor que o detetive chegara. Mas como ter certeza de que era o detetive se não abrindo a porta primeiro? Então assim ele fez. Ao abri-la, contemplou o detetive, com sua casual camisa branca e colete, calças e sapatos pretos, e de incluso duas malas grandes de estampa xadrez.

- Bom dia, pois não? - disse o mordomo, quase com a certeza de que era o detetive, não fosse as malas para fazê-lo duvidar.

- Bom dia, sou o detetive Ruan Gaspar - se apresentou cauteladamente -, o Sr. Carlos Arantes me chamou.

- Sim, tenho em conhecimento - fez um gesto com a mão para que o detetive passasse para dentro -, por favor...

- Com licença - ele disse, ao passo que o mordomo apanhava as malas - obrigado.

De repente o Sr. Arantes saiu de um corredor e vendo que o detetive já havia chegado, foi recebê-lo.

- Perdão, eu estava verificando se os empregados organizaram com perfeição o seu novo escritório - disse, estendendo a mão para cumprimentá-lo com demasiada reverência-, seja bem-vindo à mansão, detetive Gaspar.

- Obrigado - apertou-lhe a mão.

- Robison - disse, virando-se para o mordomo que segurava as malas do detetive -, leve as coisas do detetive Gaspar para o quarto desocupado.

- É para já, meu senhor - falou o mordomo, subindo a escada.

Nesse meio tempo em que o Sr. Arantes dava orientações ao mordomo, o detetive esteve observando o grande salão e foi atentado pelos janelões, todos trancados, e câmeras nos quatro cantos do cômodo.

- A segurança aqui da mansão sempre foi tão rígida assim? - perguntou o detetive, dando uma lenta volta com o corpo para observar as quatro paredes.

- Não era - dizia o Sr. Arantes, com os braços para trás numa postura exemplar -, até as coisas de que te falei começarem a desaparecer.

- E você acha que o responsável por isso vem de fora?

- De início, foi o que imaginei, pois não me atrevia a pensar que alguém daqui de dentro pudesse fazer isso. Mas meu pensamento mudou - disse, deslizando o dedo na estante decorativa e percebendo um tanto de poeira, no que espremeu os olhos, desapontado com a negliência de seus empregados e guardando aquela indignação consigo. Então esfregou um dedo no outro para limpar a poeira e, em disfarce, olhou para o detetive, que estava agora com o olhar fixo nele -, estou com a impressão de que esse ladrãozinho está mais perto do que se pode imaginar.

Ele esperava algum questionamento do detetive sob aquela afirmação, todavia nada ouviu deste, uma vez que ele já o dera as costas e estava absorto com a pintura arrevesada de uma mulher num quadro grande pôsto na parede.

- Quem é? - o detetive perguntou, se aproximando do quadro e o examinando com as mãos para trás.

- No quadro? - indagou o Sr. Arantes, com falta de compreensão, e se pôs ao lado do detetive, que assentiu - não sei. O quadro estava entre um entulho de caixas e coisas velhas na casa em que morava minha mãe. Algumas semanas depois de quando ela morreu, fui com minha família à casa em que ela vivia na zona Sul para resolver o que faríamos com as coisas dela. Daí minha esposa encontrou esse quadro e achou tão belo que o trouxe para cá.

- Hhm...

Foi tudo o que o detetive disse, estava mais interessado na expressão desenhada no rosto da mulher no quadro. Era um tanto embaraçado, muitas cores e sombras espalhadas, mas a mulher era de uma toda beleza e traços delicados; usava um grande chapéu vermelho com plumagem e um vestido da mesma cor, mas florido; a imagem só revelava a mulher dos ombros para cima.

- Tem um olhar tão misterioso - disse o detetive, sem desviar os olhos do quadro.

- Talvez - falou o Sr. Arantes, desinteressado.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 19/08/2016
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