~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XXIX

Quando o Sr. Carlos Arantes se afastou da porta e seus amigos já tinham se ido, caminhou pacificamente até o janelão, onde estava de pé o detetive Ruan a observar através do vidro a frente da mansão, e limpou a garganta para conseguir sua atenção.

- Obrigado por ter atendido meu pedido e me deixado à vontande com meus amigos - ele disse assim que Ruan girou o rosto e o fitou.

Ruan preservou seu silêncio para mostrar apenas um sorriso e recolhendo com muita satisfação esse gesto, o Sr. Arantes deu de ombros para abandonar o salão, mas Ruan deu um passo à frente com rapidez.

- Senhor Arantes, espere! - pediu Ruan, com um movimento brusco do braço.

- Sim? - o Sr. Arantes girou o corpo para mirar em Ruan, enquanto esse outro chegava mais perto para lhe falar.

- Alguma vez o senhor Sanches já lhe falou sobre seus pais?

- Bem - dobrou um pouco as sobrancelhas, estranhando a pergunta, mas foi gentil em responder -, pouquíssimas vezes. São pessoas muito bem sucedidas e respeitadas, donos de hotéis e pousadas em Minas Gerais. Mas Henrique usa muito da restrição ao falar sobre os pais, porquanto não gosta de expô-los demasiado.

- Entendo... - Ruan olhou vagamente sobre o ombro do Sr. Arantes e fez uma pausa para imaginar.

- Mas, por que a pergunta?

- Por nada, só curiosidade - retornou a vista para o rosto do homem.

- Ah - o Sr. Arantes observou por alguns segundos o detetive antes de decidir se retirar - Bom, se me der licença, tenho que subir para o quarto.

- Sim, à vontade.

O Sr. Arantes subiu para o andar superior e Ruan, sem mais demora, caminhou até a porta de entrada da mansão e com a ajuda do mordomo que a abriu, saiu para o jardim, em direção ao jardineiro que estava cuidando das plantas e que mal notou a aproximação do detetive.

- Olá - saudou-o Ruan.

- Olá, detetive Gaspar! - o jardineiro disse a se virar e bateu uma mão na outra para limpá-las, pois estavam sujas de terra - Como vai?

- Bem, obrigado - mostrou um carismático sorriso - Jacó, não é?

- Sim.

- Até agora não tenho nenhuma suspeita do senhor - dizia Ruan, dobrando os braços na medida do peito -, mas quero lhe fazer uma perguntinha...

- Pode fazer - Jacó meneou a cabeça em concordância.

- O senhor tem algum laço familiar com o senhor Henrique Sanches?

- Olha, sei que de qualquer modo você iria descobrir, então vou dizer a verdade - ele foi rápido e não hesitou; seu semblante era tal e como uma tarde sem vento, não mudava, não movia-se - Sim, ele é meu sobrinho.

- O senhor quis dizer "filho".

- Não, Henrique não é meu filho - franziu a testa ao dizê-lo - É filho de meu irmão gêmeo Jackson.

- O senhor tem um irmão gêmeo? - indagou Ruan, demonstrando um grande interesse na informação.

- Sim - afirmou. Ia prolongar a frase, contudo foi obstruído pela fala à frente do detetive.

- É por isso que o homem da foto se parecia tanto com o senhor - Ruan jogou o olhar para além dos portões enquanto relembrava a imagem na fotografia.

- De que foto?

- Uma que o Sr. Sanches deixou cair do casaco. Era uma mulher segurando um cachorro e um senhor idêntico ao senhor - deu uma curta risada sob essas últimas palavras que disse.

- Pois é, somos gêmeos - Jacó riu junto a Ruan - Só que Jackson vive lá no interior de Minas com Isadora, sua esposa.

- Também percebi a humilde casinha na foto. Eles são pobres?

- As condições de vida deles nunca foram fáceis, posso dizer...

- E por que Henrique não os ajuda?

- Bom - Jacó melhorou a posição por começar a sentir um desconforto nas pernas -, é uma longa história...

- Eu gostaria de ouvir - falou Ruan, interessado.

Então os dois se sentaram num banco perto dos portões da mansão e Jacó começou a contar detalhadamente o caso do Sr. Sanches a Ruan, que lhe prestava toda a sua atenção como fazia no quando era pequeno e a mãe contava histórias de aventura para ele dormir.

~*~

Estava difícil para Ruan pegar no sono naquela noite, seus pensamentos faziam voltas por sua cabeça, pareciam pernilongos zumbindo em seus ouvidos de modo irritante; até agora foram tantas coisas estranhas, incompletas, intrigantes! E mais aquela conversa com o jardineiro... Tudo aquilo pesava e não o deixava dormir. Viu no relógio despertador que eram 23:00h quando despertou no meio da noite; subiu um pouco a cabeça para colocar os braços dobrados sob ela e ficou olhando o teto do quarto. Vendo que seria inútil insistir pelo sono, Ruan jogou o cobertor para o lado e com um brusco movimento do corpo, ficou na posicão de sentado na cama para calçar os pés e em sequência se pôr de pé; estava vestindo sua roupa de dormir, uma camisa cinza sem mangas e uma calça comprida azul, então pegou no cabide seu robe de cetim azul marinho e vestiu-o por cima da roupa. Andou até a porta, abriu-a e saiu do quarto, fechando-a em suas costas.

Ruan seguia em frente pelo corredor com o propósito de buscar na cozinha um copo de água, sucedeu que quando ia saindo do corredor e após um longo bocejo, ele viu o mordomo subindo a escada, os passos do homem eram tão silenciosos que Ruan demorou a perceber sua aproximação, então jogou as costas na parede e se camuflou com a escuridão do corredor. O mordomo virou o corredor esquerdo ao passo que Ruan o observava para saber onde ele estava indo àquela hora da noite; esquisitamente, o mordomo parou diante da sala onde, Ruan lembrava muito bem, ficava o cofre secreto do Sr. Arantes. O mordomo deu uma olhada nos dois corredores como se temesse estar sendo observado, para assim abrir a porta e entrar na sala. Ruan se apartou da sombra e ficou alguns segundos imóvel ali. O que o mordomo buscava naquela sala? Porventura o cofre secreto do Sr. Arantes já não era secreto? Só havia um jeito de saber... Foi até lá. Não arriscou mexer na maçaneta, só colou o ouvido na porta para ver se conseguia escutar algo e ouviu murmúrios de uma mulher, sim, uma mulher que já estava se tornando um palco de atrações! A Sra. Beatriz Arantes.

- Não devíamos estar aqui, é perigoso - a voz de Beatriz soou apreensiva, mas com um pouco de manha.

- Achei que você gostasse do perigo - falou o mordomo, num tom devasso.

- E se meu marido nos pega aqui?

- Estou pouco me importando com o idiota do seu marido - a fala do mordomo foi hostil e ignorante, mas o que impressionou o detetive foram as palavras de insulto - Agora vamos acabar com isso de uma vez, anh?

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 23/09/2016
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