Os Segredos da Rua Baker 2: 10- Sherman

Diana só soube a verdade após a dança dos noivos, ela e Sean trocaram olhares e ambos correram para o hospital. Sherlock, Lilian e John Watson estavam na sala de espera, contaram tudo que havia acontecido. Diana insistiu para vê a irmã, mas não seria possível.

Irene não corria perigo algum, mas estava bastante agitada, portanto nenhuma visita era permitida. Ela seria monitorada a noite inteira, alguns exames e testes seriam feitos.

No dia seguinte, finalmente puderam entrar no quarto, porém não havia mais ninguém ali.

—Onde ela está? – Sean perguntou.

—Ela não recebeu alta ainda! – Lilian observou.

—Aconteceu mais alguma coisa que vocês não estão nos contando? – Diana questionou.

—Nós falamos tudo exatamente como aconteceu. – Respondeu John Watson.

—Na Rua Baker ela não está. – John Smith comentou.

—Sei onde ela deve estar. – Disse Sherlock já saindo.

John Watson o seguiu, Lilian impediu que os outros fizessem o mesmo. Muita gente poderia piorar a situação, seja lá qual fosse. Assim eles voltaram para a 221B.

***

Irene entrou sem ser anunciada no escritório do Mycroft, havia um homem lá. Ela o reconheceu, pois ele era um dos conselheiros da Cúpula dos Nobres.

—Desculpe, eu não sabia que estava ocupado.

—Você sabe quem eu sou? – Ele disse levantando-se.

—Você é um dos conselheiros da Cúpula dos Nobres. O único que não quis escolher um lado entre o Morse e eu. Apesar de ter votado em mim para Mestre.

—Não. – Ele deu um passo até ela. – Quem eu sou?

—Eu já disse.

—Não. – Mais um passo. – Quem eu sou?

—E-eu... Eu não sei.

O homem deu outro passo.

—Quem eu sou?

—Já terminamos por aqui. Você deve ir. – Disse Mycroft indo abrir a porta.

—Eu não sei quem você é... Nunca o vi antes.

Eles estavam apenas um passo de distância.

—Eu sou She... - Mycroft observa com aflição e levemente balança a cabeça negativamente. – Sherman. Meu nome é Sherman. Vamos nos encontrar novamente em breve.

Ele sai e Irene tenta puxar um ar que parece teimar em não entrar. Mycroft fechou a porta, retornou a sua cadeira, enquanto Irene continuava sem se mexer. Se ela tivesse olhado para o tio, teria entendido tudo, pois veria temor em seus olhos de gelo. Um do tipo bem antigo.

—Irene!

Ela parecia emergir das profundezas de sua mente com uma longa inspiração, como se tivesse se afogado em memória há muito perdidas, porém ela não lembrava mais em que lugar do passado se encontrara.

—Não vai me responder? – Irene perguntou.

—Responder?

—Alguma ideia sobre quem está fazendo isso? Quem me sequestrou?

—Não, nenhuma.

Assim que o Sherman saiu da sala do Mycroft, ele deu de cara com o Sherlock e o John Watson chegando.

—O que você faz aqui? – Perguntou Sherlock.

—Eu estava em uma reunião com o Mycroft, mas fomos interrompidos.

—Irene está lá dentro?

—Sim. – Ele disse com um sorriso cínico.

—Você acaba de quebrar uma promessa.

—Bem, você a quebrou primeiro. – Sherman deixou o local.

Irene e Mycorft levam um pequeno susto com a repentina entrada de Sherlock e John. Ela ia perguntar o que faziam ali, porém o pai tomou a dianteira.

—Deveria estar no hospital. Qual foi a razão de ter vindo aqui?

—Quando acordei tinha esse pensamento martelando na minha mente, dizendo para vir imediatamente. Foi quase uma ação sem pensamento.

—Como se tivesse sido implantada.

—Sim. Aliás, fico feliz por terem vindo. Contem o que aconteceu, em detalhes.

Sherlock não estava muito acostumado a alguém lhe dizer isso, John Watson parecia se entreter vendo o desconforto do amigo.

Irene estava encostada na cadeira com as mãos juntas e o olhar perdido, ela ouvia tudo com bastante atenção.

—O que está escondendo de mim? – Ela disse quando o pai terminou de falar.

—O que?

—Sinto que estão escondendo algo de mim. Isso não é muito sábio. Eu vou descobrir de qualquer forma.

—É assim que pareço? – Sherlock perguntou ao John.

—Exatamente assim.

—É extremamente irritante.

—Eu sei.

—Por alguma razão alguém me sequestrou e me fez vir aqui. Quem? E por quê? Eu quero respostas, Mycroft.

—Por que pensa que eu as tenho?

—Irene, sua mãe e irmã estão sem notícias suas. – Disse John. – Devemos ir.

—Tio Watson, eu vou ficar aqui até ele falar.

Ele segura a mão dela.

—Elas estão preocupadas. Nós devemos ir, depois com mais calma, vocês conversam.

—Você está certo, tio Watson. Vamos pra casa.

Os dois deixaram a sala, Sherlock levantou-se para ir junto.

—Ele está indo muito rápido, Sherlock.

—Não é minha culpa.

—Não mesmo?

—Eu tenho de ir. Adeus, Mycroft.

Lilian não conseguia parar de andar de um lado para o outro fazendo chá, biscoitos, servindo-os, tentando parecer calma. No entanto, ela estava nervosa, ansiosa, queria notícias da filha, não tinha ideia do motivo de estarem demorando tanto, mas queria muito gritar com alguém por causa disso. O inspetor comentou com Diana e Sean o quanto ela parecia com a mãe. Por mais tensa que estivesse sempre daria um jeito de se ocupar para não demonstrar.

Irene chegou com seu habitual jeito frio e distante. Ela estava com raiva, pois não tinha ideia do que havia ocorrido. Por mais que o Sherlock contasse, ela sabia que faltava uma peça nesse quebra-cabeça e o pai e o tio a possuía, porém não iriam dividir, pelo menos não com ela. Tudo que lhe restava era investigar por conta própria, como sempre foi. Irene foi direto tomar um banho sem falar com ninguém ali.

—O que aconteceu? – Perguntou Lilian ao marido.

—Nós a encontramos no escritório do Mycroft.

—O que ela foi fazer lá?

—Irene ainda está confusa. – Explicou Watson. – Seja lá o que tiverem injetado nela foi muito forte, ainda está com sequelas.

—Não deveria voltar para o hospital? – Diana questionou.

—Nós tentamos, mas você conhece a sua irmã.

Ao regressar, Irene se viu surpreendida com a presença da Diana e do Sean.

—Vocês não deviam estar tendo suas férias de sexo?

—Quer dizer lua de mel? Não podíamos ir sabendo que você estava no hospital.

—Apenas perderam tempo, eu estou muito bem. Aliás, tenho um caso para resolver. Inspetor venha comigo.

—Você não pode ir, ainda está... – Foi dizendo Lilian.

—Eu não estou nada. Vamos John.

Ninguém ficou exatamente contente com esse comportamento da Irene, porém também não ficaram surpresos. Sean convenceu Diana de reaverem as passagens e hospedagens, assim conseguiriam ter sua lua de mel. Lilian insistiu e conseguiu fazer o Sherlock ficar mais tempo na 221B, seu velho amigo John Watson decidiu ir pra casa, mas deixou claro que se eles precisassem de algo bastava ligar.

Irene entrou com o inspetor no hospital, ele usou sua credencial da Scotland Yard para obter informações a respeito do lugar de onde ela fora resgatada. Conseguiram o endereço e partiram em direção ao frigorífico.

O lugar que antes parecia bem arrumado, agora estava com a velha cara de abandono. Cheio de sujeira e ferrugem. John perguntou do que ela lembrava, Irene contou sobre chegar em casa para se trocar e após estar pronta encontrou alguns caras encapuzados na sua sala de estar. Lutou com eles, mas um tinha uma arma de choque, depois disso só lembra-se de acordar no hospital.

Quando ela foi até a geladeira, agora desligada, achou uma rosa vermelha junto com um cartão. Era um convite para jantar. Ela guardou tudo no bolso da jaqueta, continuou com sua averiguação por mais algumas horas.

—Não encontrei nada de relevante, quem fez isso era profissional.

—O que pretende fazer agora?

—Apenas dormir um pouco, eu estou um tanto cansada. Enfim, se eu encontrar alguma pista te aviso.

Ele concordou, dividiram um táxi até a Scotland Yard, então Irene foi até o endereço no cartão. Era uma enorme e antiga casa na região sul da cidade. Ela disse seu nome no portão e foi conduzida até a sala da lareira.

—Você está bastante adiantada. É um tanto rude da sua parte. – Disse um homem extremamente elegante sentado perto do fogo.

—Eu nunca me importei com essas cordialidades sociais. Quem é você?

—Você realmente não sabe?

—Eu deveria saber?

—Nos encontramos mais cedo. No escritório do seu tio. - Irene franziu o cenho sem entender como pôde ter esquecido. – O jantar pode ser adiantado, venha comigo.

Ela o acompanhou até um cômodo com uma mesa com pratos, colheres, garfos, facas, taças... Todos os objetos daquele recinto eram antiguidade. Ele sentou-se e a acomodou a sua frente.

—Por que quis estragar o casamento da minha irmã?

—Acha que esse era meu propósito?

—Obviamente. Ninguém corria real perigo de vida.

—Como tem tanta certeza?

Irene percebia estar sendo testada.

—Homens portando apenas uma arma de choque invadiram minha casa, drogaram-me somente o suficiente para ser induzida a ir ao escritório do meu tio no dia seguinte e fazer meu pai não comparecer ao casamento da minha irmã.

—E por qual razão?

—Para eu me deparar com você.

—Bravo! - Ele a aplaudiu. - Eu vou te contar um segredo: Seu tio Mycroft, ele está acabado.

—Você não o destruiu ainda.

—Não, mas a natureza fez o trabalho por mim. E com o tempo comecei a achar você mais divertida.

—O que quer dizer com a natureza fez o trabalho?

—Irá saber no momento certo.

—De qualquer forma me pegar não o fará ganhar nada. Nem mesmo a Cúpula, afinal meu tio já é o meu substituto oficial.

—Você destruiu muitos dos meus planos para acabar com o Mycroft. – Ele fala de forma pensativa. – Agora, eu terei prazer em destruir você, depois irei pegar a herdeira dele... A verdadeira herdeira. - Irene bufou nessa hora. – O que não será tão difícil.

—Se acredita mesmo nisso... É um idiota.

Ele solta uma gargalhada.

—Ela pode ser filha do Mycroft, mas não foi criada por ele.

—Mas eu fui. A Alex pode não ter crescido sob os cuidados do meu tio, no entanto veja onde ela chegou.

—Bem longe, tenho de admitir. – Ele solta um risinho. – O mais engraçado é você não perceber como vou te tirar do meu caminho.

—Explique-me.

—Sean.

—O que tem ele?

—Ele fez coisas que vocês nunca pensariam; que você nunca conseguiu deduzir.

—Do que está falando?

Ele sorri.

—Detesto ser indelicado, no entanto eu estou um pouco fatigado, vamos pular o conhaque após o jantar. – Ele vai até a Irene e sussurra em seu ouvido. – Esteja preparada.

—Pra que?

—Isso é guerra! - Ele sobe para o quarto deixando-a sozinha.

—Irei conduzi-la até a saída. - Disse o mordomo.

Porém ela não o escutou, pois só conseguia pensar naquela voz; aquele murmúrio conseguiu paralisar Irene. Ela já havia ouvido aquela voz antes, bem no fundo de sua mente. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, um tremor e um frio subindo pela espinha.

Medo!

Irene Holmes estava com medo e não tinha ideia do real motivo.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 19/05/2017
Reeditado em 20/05/2017
Código do texto: T6003204
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