O Preço de Uma Vida (Parte 3)

Roberto Mourão / Sônia Pacheco Mourão

Sérgio, Carlos e Daiane Mourão

Michel / Carina Ferreira / Márcio Ximenes

Mariana Fonseca / Ingrid Diniz

     Da delegacia até o esconderijo de seus ex comparsas, Roberto ia em silencio e pensativo em uma das viaturas descaracterizadas. Pensava na sua amada Daiane e no que ela deveria estar passando enquanto sequestrada, pensava na crise que seu casamento entrou e como sua família estava desestabilizada. Eles chegam umas quadras próximas onde fica o sitio, a delegada Mariana disse que faltava pouco tempo para a hora de marcada na arena central (20hrs daquele mesmo dia) e Roberto teria que ir lá com uma escuta.

     Parecia que seria o último dia de sua existência, ele sabia que seriam malvados e com certeza fariam algo perigoso demais contra ele e sua família. A cada passo em direção ao esconderijo de reuniões, só poderia pensar nos bons momentos da família em Curitiba antes de tudo isso acontecer. Porém lembrar do sofrimento que sua filha estaria passando o deixava cada vez mais aflito; se ele morrer hoje não seria ruim, não tão ruim quanto um único arranhão ou reflexo do sequestro na cabeça da menina.

      Chegou na porta e clicou nos números ''237'' da campainha eletrônica no portão de entrada do sitio:

- Michel: Oi, Roberto, nossa você está horrível hein, não deve ter dormido a noite inteira. - Sua gargalhada ao final causava ainda mais enjoo em Roberto.

- Roberto: Vamos, vocês me chamaram para uma missão, eu quero minha filha.

- Michel: Sabe, eu também não dormi, sua filha chorou a noite inteira e eu ficava me perguntando de qual jeito seria mais prazeroso matá-la.

- Roberto: NÃÃO. Me deixa entrar... - começou a chorar de soluçar - você não sabe o que é ser pai, você nunca vai ser e nem preciso te lembrar disso.

- Michel: Ah que coisa mais baixa de se dizer, vai magoar meu coração.

     O portão automático fez um barulho para abrir, o telefone começava fazer sinal de que a ligação tinha caído ou sido encerrada. Havia um caminho de pedras que entrava numa pequena mata. Roberto que passara tantas vezes por ali talvez nunca tenha entrado de estômago tão virado e tão tenso. Ao adentrar mais na propriedade, ele poderia ver o casarão em que aconteciam as reuniões. Estranhamente Michel estava no telhado com uma glock semi-automática, parecia um soldado que acabara de conquistar um estado em guerra. Roberto ia se aproximando e cada vez mais vendo o rosto nítido do homem ali.

- Michel: Sabe, eu não gostei do seu comentário lá no portão. - disse enquanto admirava a arma próxima ao rosto.

- Roberto: Não posso evitar de falar a verdade. - mesmo quase desmaiando de nervoso, aquilo pulou de sua garganta.

- Michel: Tem razão...E EU NÃO POSSO EVITAR DE ACERTAR BEM NO SEU RABO.

     Michel colocou Roberto para dançar quase que literalmente, o homem pulava pois vinham tiros em direção aos seus pés. Ao cair no chão, ele viu o rosto de Michel com a maior expressão de felicidade.

- Michel: Levem ele pra dentro. - e quatro capangas davam conta da ordem.

     Era mais um sítio normal porém sem moveis nenhum de casa. Apenas parecia um grande galpão ou deposito. Roberto era levado pelos braços e muito pouco não era levado pelas pernas também. Havia um porão e os 6 homens estavam se dirigindo para ele. Roberto foi jogado ao chão e então o acorrentaram e prenderam as correntes em um mastro central que havia ali dentro.

- Michel: Vamos, saiam todos. - e se caminha em direção a Roberto.

- Roberto: Eu não lembrava que você era ruim de mira e que tinha meninos a sua disposição. - e levou um soco em cheio na cara.

- Michel: A resposta pras duas é ''A Dona'', ela não quer que você falte a missão e me emprestou eles para ajudar com seus amigos.

- Roberto: Que amigos? - E sua sobrancelhas começava a sangrar devido ao corte.

- Michel: Uma em duas, ora. Os policiais ou sua filha. Não vai dizer que...

- Roberto: Claro que não! Vim limpo... - ele não sabia mentir.

- Michel: Se eu achar algum link com a policia em você, posso arrancar uma de suas mãos?

- Roberto: NÃO, está bem, está bem, tenho escuta, e me dê logo as bombas para levar e acabar com isso logo.

- Michel: - ele ria de deboche - Ah, se você quer assim que seja poxa, na verdade eu nem tenho meios de causar mal a alguém que não seja você agora...então vamos.

/

- Márcio: QUE CARA BURRO!!! - Disse enquanto batia no banco da frente.

- Carina: Calma! - Ela estava no banco da frente - Acho que não tem muitos la dentro, não podemos entrar?

- Mariana: Não sem ordem judicial, mesmo que a gente entre com provas, podemos não achar nada e ficar sem como nos explicar.

- Márcio: O cara tá de refém lá, delegada. - Disse agressivo.

- Carina: Márcio, para, e o local que eles fazem as armas?

- Mariana: Estou em contato aqui com o advogado, tenho outra frente lá perto onde ele (Roberto) deu descrição. Quando permitidos, vamos entrar.

    Após alguns minutos, um garoto de bicicleta se aproximou da equipe disfarçada e entrega um celular:

- Menino: Aqui, um careca em frente ao sítio pediu para entregar. - E passou um celular mãos mãos da delegada.

- Mariana: O que tem aqui?  - Analisando o objeto,

- Menino: Não sei não, dona. - e saiu

- Carina: Vira, delegada, vamos ver o que tem. - e entrou no único aplicativo que tinha no aparelho.

     Era uma transmissão ao vivo dentro da casa. 3 homens mascarados e Roberto ajoelhado. Um deles dizia que Roberto era um traficante internacional e eles (o grupo) assim que descobriram, iriam dar uma surra nele. E de fato assim fizeram, começaram a chutar e socá-lo

     Era tudo que precisavam, Mariana deu permissão a todos para invadir o sitio, ela tinha mais que provas para pegá-los em flagrante. entraram derrubando o portão da frente. ao chegarem em frente ao casarão, haviam 11 homens armados os esperando, para 10 policiais que estavam ali na hora. Carina saiu do carro e voltou o olhar para Márcio.

- Carina: Vamos bater a sua meta hoje?

/

     Roberto estava carne viva. Ao ouvir os barulhos dos carros chegando, Michel mandou os quatro homens subirem e irem ajudar os que estavam na frente da casa. Ele que estava bebendo gim, voltou-se para Roberto e jogou e o banhou o gole que faltava. Aquilo doeu tanto nele que parecia esperar sair fumaça de onde ardia a bebida.

- Michel: Você veio pro Rio Grande (do Sul), refez toda sua vida fingindo não trabalhar para nós - e os barulhos de tiro começaram la fora - e achou que poderia mesmo quebrar a corrente?

- Roberto: Como você chegou próximo da minha família?

- Michel: Um anjo me contou...agora o diabo vai te castigar.

- Roberto: Miche... - recebeu mais um soco - por favor, não. - e estava quase desmaiado sem forças no chão.

- Michel: Isso é pra vocês verem... - falou dirigindo-se a câmera.

     Ele encerrou a transmissão ao vivo e traçou um novo plano. Pegou o que podia-se chamar de corpo de Roberto e o carregou para uma pequena porta na parede, era uma passagem secreta dali até o esconderijo na estação de trem onde estavam as bombas e armas. Até que seu telefone começou a tocar:

- Michel: Senhora?!

- Dona: Você ficou maluco? Meus parceiros estão me ligando feito loucos desde que você colocou uma sessão de surra online no facebook, a policia invadiu o sítio!

- Michel: Não se preocupe, minha senhora, depois de hoje não teremos mais com que nos preocupar.

- Dona: Não seja ridículo, você vai sair dai como? Sair pela porta da frente e ser preso pelos policiais dai ou chegar na ''base'' e ser cercado pelos outros policiais?

- Michel: Não diga que esse verme entregou até a base.

- Dona: Meus negócios estão quase arruinados, enfie a cabeça na terra se for preciso mas tente não ser mais um Roberto para mim...ou morra sem contar.

- Michel: Nunca trairia a senhora, tia.

- Dona: Michel, no dia que a policia chegar a minha porta, você vai ter morrido antes ok?

     A velha tia desligou o telefone, Michel tinha um trunfo ainda e pensava melhor nele até que ouviu alguém se aproximando e atirou próximo a porta que dava acesso ao porão.

- Márcio: Ei, ei, ei, ei, não sabe receber visitas?

- Michel: Não quando elas não são bem vindas. - e atirou mais uma vez.

- Márcio: 6 dos seus homens caíram e 6 dos meus também...podemos conversar.

- Michel: Nunca fui famoso por conversar. - e colocou Roberto a sua frente.

- Márcio: Fazê-lo de escudo não vai ajudar, se entrega e vai ser o melhor.

- Michel: Melhor para quem? Não está preocupado com a menina? Ela está no quarto do segundo andar, vai buscá-la.

- Márcio: E você me enganar? Não mesmo.

- Michel: Liga a tv em cima da cômoda então. - e viu Márcio cruzar a sala e ligar o aparelho.

- Márcio: EM QUAL QUARTO?

- Michel: O de frente para piscina.

     Márcio não poderia confiar ou abandonar Roberto com o loiro a sua frente, até que um dos capangas veio por trás e quase consegue acertar nele. Os dois já sem balas começam uma luta corporal, enquanto Michel se aperta para passar na pequena porta na parede. Ao entrar, ele consegue trancá-la com cadeados do chão e passar uma segunda porta que parecia quase indestrutível. Seria um longo caminho até a base.

     Não foi muito difícil para Márcio vencer o homem, ele então tentava arrombar a mini porta mas sem sucesso, sabia então que precisava resgatar a menina Mourão.

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- Carina: Não fica assim, cara, pegamos um bom numero. - disse ela alisando a costela que levou um tiro de raspão.

- Márcio: Tudo bem, você consegue chegar lá assim?

- Carina: Eu aguentei três partos, eu posso chegar lá numa bicicleta, bora.

- Mariana: Eu não vou, preciso entregar a garota em segurança a família e escondê-los.

- Márcio: Ela já acordou, doutora?

- Mariana: Não, com certeza foi dopada desde o sequestro.

- Carina: Certo, boa sorte, estamos indo.

     A dupla e mais 3 policiais entraram no carro. Os policiais que estavam na base conseguiram ter sucesso na missão e aprenderam quilos e quilos de artefatos criminosos. E já estavam a espera de Michel e Roberto.

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     Michel havia chegado e conseguia ouvir vozes baixas de alguns policiais. Ele só precisava que eles saíssem de perto daquele quarto em especial onde tinha uma passagem escondida. Assim que não notou mais movimento, passou sozinho e com todo cuidado, pegou um38 e algumas trouxinhas do famoso ''pó de chines''. Ele voltou para o estreito túnel onde estava Roberto. Arrastou seu corpo desmaiado até uma passagem recente, que levava até dentro da estação de trem.

- Márcio: Quase 7 horas, vamos, Carina!

- Carina: Se eu for mais rápida, você vai ter que me prender.

- Márcio: Não vai para a boca do esconderijo, vai próximo aquele buraco que da na estação.

- Carina: PRA QUE?

- Márcio: Se pegarem ele, vão nos avisar, se ele tiver outro plano, nós pegamos ele, vai.

     Carina entrou de tão mal jeito na rua seguinte e praticamente já estava do lado do muro que dava para a estação. Sairam do carro abruptamente e invadiram pelo buraco que ali havia.

- Carina: Não acredito que estou fazendo o que digo para meus filhos não fazerem.

- Márcio: Você sabe que mesmo em missão, eu vou falar pro Heitor que cuida da estação e pro baixinho guarda de transito o que você fez né?

- Carina: Fala e eu não deixo você ir no churrasco - e viu de longe, Michel carregando Roberto. - ali eles!

     Os cinco foram correndo e Michel também os viu. Ele já tinha colocado o colete de bomba em Roberto que agora estava despertando.

- Michel: Olá, amigos do facebook - e começava a transmissão mais uma vez - hoje eu planejava uma explosão na arena principal mas mudei de planos, o trem das 7:20 está chegando e seria uma pena o trem descarrilar... - e pendurou o pé nos ombros caídos de Roberto ajoelhado.

- CARINA: PARADO!

- Roberto: Salvem a minha filhaaa.

- Michel: Ah eu não acredito que temos plateia ao vivo.

- Márcio: Vamos lá, saia de perto ou leve um tiro.

- Michel: Tiro? Eu e ele estamos cheios de bombas...atirar em mim iria explodir vocês e o próprio trem chegando.

- Roberto: Digam aos meus filhos que eu os amo.

- Márcio: Vai dizer pessoalmente à eles.

- Carina: Não me faça ir ai e chutar a sua bunda pra cá.

- Michel: Venha e eu aciono as bombas.

- Márcio: MICHEL, VOCÊ SE CHAMA MICHEL NÃO É?

- Michel: Do que você está falando?

- Márcio: TRABALHA PRA TAL DE DONA, VOCÊ TRAFICA ARMAS JUNTO COM O ROBERTO MOURÃO, CERTO?

- Michel: Eu vou encerrar a transmissão se nossa plateia continuar contando mentiras.

- Carina: Você tem marido, ele deve estar esperando você em casa, volte pra casa por favor!

- Michel: CALA A BOCA, CALA A BOCA. - E usou todas as balas atirando nos policiais ali presente.

     Márcio então correu na direção de Michel e agarrou suas mãos para que ele não acionasse as bombas.

- Márcio: OLIVEIRA, PEIXOTO, PEGUEM O ROBERTO, TIREM AS BOMBAS DELE E TIREM ELE DAQUI, RÁPIDO - e fazia força para continuar segundo Michel.

     Carina mesmo baleada chegou a segurava uma das mãos dele, Márcio então pegava o celular caído no chão. Ele leu o nome do facebook e que já tinham mais de 8 mil pessoas assistindo.

- Carina: Parece que você deixou bastante gente esperando você ser preso né, seu rato?

- Michel: NÃO ADIANTA, NÃO ADIANTA!1!

- Márcio: Fala aqui pro seu público, dá um beijo enquanto você é algemado.

- Michel: AMOR, ME PERDOA, EU NÃO PODERIA CONVIVER MAIS ASSIM, NÃO PODERIA AGUENTAR SABER DE VOCÊ DESCOBRINDO A VERDADE, EU TE AMO...VOCÊ FOI A ÚNICA COISA BOA QUE TIVE.

     Carina arranca o celular de sua mão ao ver uma mensagem que parecia ser da esposa de Roberto. ''NAAAOO, POR FAVOR''. Márcio tentava cortar o colete de bombas que descobriu nele.

Peixoto: SAIAM DAI, SÃO BOMBAS RELÓGIO!!!

     Os dois ali só tiveram tempo de se encararem e ouvirem o trem se aproximar.

- Michel: O trem está chegando. - ele foi largado no chão enquanto os policiais saiam dali correndo.

BOOM

(Continua na Parte 4/4)

TEXTO E REVISÃO: Raphael Maitam