O grande arquiteto do mundo

Todo garoto de 16 anos, sonhamos com um mundo melhor, pelo menos era o que o meu pai dizia: “Eramos sonhadores, iamos a praia no fim de tarde, apenas para ver o por do sol, o mar, bater uma bolinha e depois discutirmos o que fariamos se pudessemos ser os grandes arquitetos do mundo”. A verdade é que na época de meu pai, não havia Blogs, Celulares, Wall Mart, Big Brother, Google, Orkut, Mercado Livre, Amazon.com, Wikipédia, Windows, Apple, Torrent, MP9, Palm Tops e Iphones. Enfim, ele não tinha como mostrar ao mundo quem ele era e o que pensava sobre o mundo... Pois é, nem eu.

A adolescencia é um periodo conturbado para qualquer um e eu simplesmente detestava Biologia e justo eu, pois nesta noite me formo em Medicina. Ironias a parte, sempre temos uma história interessante para contar a nossos filhos, apenas para observar seus rostinhos com sorrisos a acreditar no que falamos. Alguns mentem, mas eu não.

Odiava Biologia, logo cabulava aula da professora Margarete Lins, uma distinta senhora lá pelos seus quarenta e cinco anos, de magistério, que dizia que o homem não poderia ter vindo do macaco e que nos obrigava sempre no início da aula a cantar uma música religiosa mais ou menos assim: “Em nome do Pai... Em nome do Filho... Em nome do Espírito Santo... Amém!”.

Sinceramente naquele dia eu não estava com vontade de ouvir a Margarete. No Colégio Santo Tomás de Aquino, onde estudei boa parte da vida, eu disse “boa parte” porque aos dezesete fui expulso, estava fumando um “beke” com alguns amigos. Tinhas três alas e uma delas era desativada e sempre que eu queria escapar da aula, ia pra lá e sentava em um dos bancos quebrados da praça central.

Deitado em dos bancos, colquei o braço sobre a cabeça para tentar tapar o Sol, algo que me icomodava o sono, foi quando senti um perfume de jasmin, por achar que poderia ser de uma das plantas do imenso jardim mal cuidado, nem notei ela chegar. Portadora de uma voz doce e com certeza a mais bela que já ouvi, ela disse: “Com licença...”.

Tentei observar quem falava, mas o Sol não me permitiu então me levantei, meio que irritado no início, ela era linda. Pele morena de traços indigenas, olhos pouco puxados e castanhos com tons esverdeados, cabelo liso do tipo que nunca foi cortado, preto como a noite e ainda era dia.

- Posso sentar aqui? – me perguntou educadamente.

- Claro. Claro que pode garota... – respondi cretinamente, como um homem da minha idade deveria fazer, sempre com segundas intenções.

- Você tá cabulando aula? – ela me perguntou, na verdade era até obvio, mas mesmo assim respondi evasivamente.

- Não! Quer dizer, mais ou menos...

Não poderia deixar de notar algo de estranho na garota, ela usava uma farda estranha, sua saia muito grande, blusa branca de botões e meias três quartos. Ingenuo como eu era, perguntei quase que automaticamente sem tempo de formular se seria ou não uma boa idéia fazelo.

- Essa sua farda...

- Sim o que tem ela? Está suja? Ah não! Se a Margarete olhar isso, ela me mata. – ficou tão preocupada que começou a procurar defeitos na roupa, e achava.

- Não. Só estou achando o modelo dela muito velho. E, além disso, tem manchas de cathchup no ombro.

- Antiga? – respondeu – Mas eu comprei ontem. Você esta falando do modelo? É a última moda nas escolas francesas.

Achei que a primeira impressão não foi das melhores então parti para um plano B. Peguei minha mochila e procurei algo para oferecer... Só achei uma maça me dada pela vovó.

- Aceita uma maça?

- Sim aceito. Obrigado – tomando a maça rapidamente e levando a boca, mastigou educadamente e ao terminar me perguntou – Você é novato? Nunca vi você por aqui.

- Bom na verdade sou sim, cheguei a menos de uma semana, minha mãe estudou aqui quando era uma garota, então minha avó achou uma boa idéia eu ter a mesma educação que ela no Tomás de Aquino, mas tô achando esse colégio de freiras um saco.

- Nossa! Como você tem a boca suja garoto. – me disse logo após levar às duas mãos a boca.

- Calma, até parece que nunca ouviu isso na televisão.

- Não, durmo cedo, esse tipo de coisa e para adultos e...

- Adultos!? O que adultos sabem sobre o mundo? Quando querem resolver seus problemas mandam exercitos, pagam os outros para fazer o serviço sujo. Dinheiro! Dinheiro! O mundo é sujo e só funciona por dinheiro. Bem que poderia ser bem mais facil apenas conversar.

- Mesmo assim – me disse ela, meio irritada – se eu fosse sua mãe eu mandaria você lavar sua boca.

- Relaxa que ela não vai reclamar, ela morreu.

- Oh meu Deus, me perdoe.

- Tudo bem, ele está em um lugar melhor que está porcaria de mundo.

- Você a amava?

- Sim, muito.

- Será que ela iria gostar de te ver cabulando aula?

- Talvez, mas a Margarete é uma velha, muito chata.

- Velha? – disse ela surpresa – Ela é um amor de pessoa trata há todos muito bem. Na verdade vou lhe contar um segredo, ela é minha mãe.

- O que?! A Margarete é sua mãe? – agora quem tinha ficado surpreso era eu.

- Olha. Eu tenho que ir tá! – me disse terminando a maça e já se levantando.

- Não! Espera. Você muito bonita para ser a filha da Margarete.

- Vou levar isso como um elogio, - disse sorrindo, não era um sorriso apenas, era o céu – Eu tenho que ir Romeu.

- Tá bom.

- Mas tenho um recado pra você, é o seguinte: Sonhar é fundamental, pois sonhando acreditamos no futuro e podemos seguir em frente e tornar o mundo um lugar melhor. Sabe se eu fosse a grande arquiteta do mundo eu...

Macilio Oliveira
Enviado por Macilio Oliveira em 25/07/2009
Reeditado em 03/07/2012
Código do texto: T1718571
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