A HISTÓRIA DE MARIA DEGOLADA - Parte 1

Ciúme, veneno mortal

que mata gradualmente

dose a dose massacrando

passo a passo, cruelmente,

causando dor e sofrimento

como noite de tormento

como grito inocente

Flui de coração sinistro

que de tudo desconfia

contornando sentimentos

brotando na alma fria

serpenteando na mente

mesma trilha da serpente

panela tosca vazia

Esse pensamento negro

se transmite friamente

põe fuligem no coração

e atitudes de demente

em quem o carrega consigo

que se faz de inimigo,

de alguém inconsciente

Um ciúme tão doentio

outrora se mostrou fatal

foi um fato bem sinistro

que ganhou mórbido final

da jovem assassinada,

que por fim foi degolada

vitimada por esse mal

Muito se falou do caso

quando tudo aconteceu

até livro foi escrito

tanta versão apareceu

porém em versos de cordel

eu tentarei por no papel

o que na verdade ocorreu

Como tudo na poesia

que provém da inspiração

vou versejar livremente

carregando na emoção

como se fosse pedreiro

farei como faz o oleiro

cujo barro molda com a mão

Narro um instante negro

duma mulher muito linda

descendente de alemães

loura sem uso de tinta

metida em enrascada

por isso foi degolada

vida jovem logo finda

Esse fato aconteceu

mais de dois séculos atrás

a jovem Francelina Trenes

era amante de um rapaz

e envolveu-se numa trama

o nome jogado na lama

as gracinhas que a vida faz

Bruno Soares Bicudo

o soldado apaixonado

duma Brigada Militar

por Maria tão amado,

(pois esse o prenome dela)

faria tudo por ela

tal qualquer enamorado

Os dois viviam felizes

pareciam dois pombinhos

cantavam seu grande amor

à guisa dos passarinhos

passeavam de mãos dadas

e nas noites enluaradas

se abraçavam juntinhos

Mas eles tinham amigos

um com rima de menina

cujo nome esquisito

Felisbino de Medina

nada tinha de Antunes,

foi Francisco Alves Nunes

um partícipe da sina

Manoel Antonio Vargas

outro dos acompanhantes

ao lado de Joaquina

por sinal sua amante,

e José Alves, Maria,

essa participaria

com mais dois participantes

Maria José Almeida,

Alves no meio do nome,

e um cara chamado José

que não mostra sobrenome,

- parte dos protagonistas -

desapareceu de vista

quando houve a hecatombe

Na verdade, esse José

apareceu de gaiato

transformando-se no pivô

tipo cão com carrapato

surgiu trazendo confusão

mexeu num calmo coração

causand'o assassinato

Esses amigos alegres

ao lado das namoradas

acharam por bem preparar

uma grande churrascada

no Arraial do Parthenon

lugarzim danado de bom

pra namorar as amadas

Na estória já contada

por algum escritor chique

ou segundo outras versões

dizem que foi piquenique

porém isso não importa

para abrir bata na porta

entre, saia, corra, fique

De forma que lá se foram

para a festa programada

todos eles sorridentes

de pronto já começava

com enredo delirante

dali então por diante

essa trama desgraçada

Brincaram, dançaram muito

riram tanto, conversaram,

comeram porções de carne

se amando, namoraram,

sorriram com as piadas

beijaram as namoradas

logo as horas passaram

Pelas três horas da tarde

Manoel Vargas, soldado,

tendo ao lado Joaquina

(por quem decerto amado)

que também levou Maria,

deu na telha que iria

fazer algo engraçado

Esse destino danado

parece andar de tanga

porque José com eles foi

para apanhar pitanga

que coisa mais inocente

não é nada indecente

numa narrativa manca

Mas José tinha seus planos

olho grande na Maria

talvez ela por sua vez

decerto o mesmo queria

assim ele a convidou

pra com ele fazer amor

como faz qualquer vadia

...continua

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 16/11/2011
Reeditado em 16/11/2011
Código do texto: T3338511
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