O DESABAFO DE UM EXCLUÍDO!!!

Eu sou um pobre excluído

Que vive vagando a esmo

A perguntar a mim mesmo

Porque é que sou assim?

Só vejo ao redor de mim

Tristeza fome e miséria

Vivo escutando pilhéria

Taxado de vagabundo

Só ando sujo e imundo

Morrendo de sede e fome

Sem moradia, sem nome,

Sendo a escória do mundo.

Os que me encontram na rua!

Veem-me como um desafeto,

Um andarilho, um sem teto,

Um Zé Ninguém, um errante.

Apressado, segue adiante,

Frio, apático, indiferente,

Desprezando o indigente,

Sofredor desalentado

Que na sarjeta é jogado

Sem dó e sem piedade

E pela sociedade

É esquecido, ignorado.

Meus dias são torturantes

E as noites são infelizes,

Busco abrigo nas marquises

Evitando a chuva e o vento.

Pra não dormir ao relento

Eu improviso um colchão

Com um velho papelão

Que alguém já não quis mais,

Umas folhas de jornais

Servem-me de cobertura

E nessa cruel tortura

Adormeço entre os meus ais.

Outro momento irritante

É quando o dia amanhece

Que a fome logo aparece

E na barriga persiste

Nada pode ser mais triste

E nem mais angustiante

É realmente humilhante

A tétrica situação

Em busca de solução

Eu passo a manhã inteira

E nos despejos da lixeira

Pego migalhas de pão.

Num lamentável flagelo

Perdurando eu sobrevivo

E não encontro motivo

Para comemorações

Pois quem vive nos lixões

De maneira lastimável

É só mais um miserável

Um odioso, um nefando,

Que ao léu vive vagando

Sem regozijo ou prazer

E o fim desse padecer

Só Deus é quem sabe quando.

Não vou colocar a culpa

No cidadão que é honesto

Simples, humilde, modesto,

Que vive corretamente,

Mais sim no inconsequente

Do político salafrário

Que faz com que nosso erário

Vire suborno e propina

Na calada e em surdina

Sempre agindo a sangue frio,

Saquear, fazer desvio,

Pra ele virou rotina.

Enquanto isso o sem teto,

Sem comida, sem abrigo,

Na condição de mendigo

Vive implorando uma esmola

Sem frequentar a escola

Não passa de um iletrado

Esquecido, abandonado,

Malvisto, é sempre um suspeito,

Que nunca será aceito

Pelo farto ou abastado.

E sempre que é abordado

É vitima de preconceito.

Com esse meu desabafo

Não quero ferir ninguém

Porém, o que nada tem,

Sofre descriminação

Mesmo sendo um cidadão

Tem seu direito negado

Sempre será rejeitado

Pela aristocracia

Pois essa lhe deprecia

Achando que é excremento

Um crápula, um mau elemento,

Sem recato e sem valia.

Carlos Aires

19/01/2017