Congo é o Rei
Muito antes de ser Rei
Ele já tinha nascido coroado
Negro justo guerreiro
Pelo seu dom da cura foi abençoado
Até branco curava, de sinhá era doutor
Espalhou em vida sua bênção com ardor
Mas sentia seu coração magoado
Queria para seus irmãos negros justiça
Sem abaixar a cabeça para branco, coronel e feitor
Se todo mundo pode viver livre
Será que preto pobre sofre e sangra, só mesmo por causa da dor?
Aquele sofrimento o transformou
Naquela mesma noite cortou as cordas, escapou
Embrenhado na mata escura chorava sem sentir dor
Deixou para trás alguns amigos,
Abandonou irmãos também
Mas não podia chorar aflito
Ele escolheu ajudar sem ver a quem
Todos nós e quem mais vier
Junto com Jesus, Maria e quem mais puder
Não deixar perdido na mata ninguém
Ele pediu ajuda para Oxalá
Ergueu as mãos e suplicava
Mostra o caminho pai, que eu conduzo na mata
O coração de Oxóssi cantava
Na macega de noite eles corriam
O Caminho abria a medida que seguiam
Cada barulho da mata indicava
No cume do monte perdido
Ele ergueu o quilombo do congo em condição de iguais
Cercado por campos floridos e lagos de águas claras
Ele resgatou escravos de cafezais
A felicidade era tanta que parecia não ser real
Juraram todos de coração aberto ser leal
Ao rei que conquistou a liberdade que não alcançariam jamais
O velho Malaquias era vidente
Numa noite nebulosa ao rei ele contou
Avisou ao velho amigo para ir sozinho e preparado
Muitos inimigos o haviam cercado, o feitor o encarou
Naquela noite nublada, o Rei congo seguiuSeu caminho era incerto, mas ainda assim ele o assumiu
Até o fim ele confiou na visão que o destino assegurou
Mas o feitor era um moço conhecedor da lenda
E sua amada estava doente só Rei poderia ajudar
O negro libertador que curava doenças
Ele libertou para sua amada salvar
Rei congo curou a moça como foi prometido
E o antigo feitor foi se embora, agora o rei era como um amigo
De volta ao quilombo do congo o rei voltou a reinar
Viveu muitos anos a fio
Muitos irmãos conseguiu libertar
Sempre no cume do monte dos perdidos
Onde ele abria os braços para abrigar
Diversos amigos livres dos grilhões da escravidão
Sempre com olhos marejados eles demonstravam gratidão
Do congo é o rei da lenda que aprendi a amar