CHAPEUZINHO DE PALHA E O LOBO MAGRO Autora: Luciana Carlos Gurgel/ Versão em cordel: Sírlia Lima

Hoje trago para vocês

Uma versão serena

Vou falar das astúcias

De uma menina morena

Nascida no Nordeste

Vivendo infância plena

Com sua pele dourada

Pelo sol do sertão

Corria pelas capoeiras

Banhava-se no Riachão

Tomava banho de chuva

Sem ter medo de trovão

A menina era esperta

Não sentia medo

Ela era impaciente

Vou te contar um segredo

Era sempre inquieta

Agia assim desde cedo

Tinha uma vida tranquila

Era uma criança feliz

Respeitava os seus pais

Era boa aprendiz

Sua casa tinha alpendre

É o que o povo sempre diz

Sua casa era distante

Bem pertinho da floresta

Sua vovó a amava

As duas faziam festa

Nunca vi uma criança

Abençoada como esta

Nos tempos da moagem

Todos ficavam ansiosos

Com derivados da cana

Os produtos preciosos

A família preparava

Os doces deliciosos

Era uma variedade

Tinha muita fartura

Cocada, mel de engenho

Alfenim e rapadura

Um trabalho cansativo

Exercido com doçura

Chapeuzinho que era esperta

Não perdia uma batalha

Se sentindo uma miss

Usando chapéu de palha

Com o presente de Biluca

Alegria ela espalha

A vovó de chapeuzinho

Morava por trás da montanha

Estava acabrunhada

Com uma saudade tamanha

De chapeuzinho de palha

Mas não fazia manha

Foi então que sua mãe

A Chapéu deu a mensagem

Vá visitar a vovó

Leve doces da moagem

Eles vão fazê-la sorrir

Trazer de volta a coragem

Preste atenção no caminho

Abra o olho e o ouvido

Cuidado com o lobo

Do Nariz comprido

A menina é corajosa

Não tem medo reprimido

Fique tranquila mainha

Eu terei cuidado

Seguirei o caminho

Que foi recomendado

Mais tarde estarei de volta

Conforme foi planejado

A menina pegou a estrada

E seguiu adiante

Quanto mais ela andava

Mais parecia distante

Ela estava cansada

Respiração ofegante

Ao chegar na encruzilhada

A menina pensou

Ao ver dois caminhos

O mais perto optou

Quem tem medo de lobo?

Chapeuzinho meditou

A menina chamou o lobo

Em tom desafiador

Venha ao meu encontro

Lobo assustador

Eu não sinto medo

Nenhum pouco de pavor

O lobo ouviu tudo

E ficou parado

A menina viu a moita

E o lobo assustado

Sentiu o cheiro dos doces

Já que era esfomeado

Chapeuzinho percebeu

O olhar do vilão

Que queria os seus doces

Demonstrou irritação

Esses doces não são seus

Seu lobo bobalhão!

O lobo quis impressionar

Ficar cheio de moral

Você sabe com quem está falando?

Já queria ser o tal

Eu sou muito valente

E posso te fazer mal

Chapeuzinho de palha

Que era mestre em esperteza

Disse vou te dar uns docinhos

Você pode ter certeza

Ao se abaixar pegou as pedras

Que achou na natureza

Deu uns passos para frente

E depois ela acertou

A cabeça do lobo

Com as pedras que jogou

O lobo amedrontado

Nas matas se embrenhou

A menina começou a cantar

“Meus docinhos para o lobo

Eu não quero, nem vou dar

Porque ele é guloso

Os docinhos para vovó

Eu vou levar”

Mesmo cansado o lobo

Foi para a casa da vovó

Sua reputação de lobo

Estava de dá dó

Apanhando de criança

Uma vergonha só

A vovozinha tranquila

Se balançava na rede

Quando viu pela brecha

Uma sombra na parede

Percebeu que era o lobo

E que tinha fome e sede

O lobo espantado disse

Eu não te assustei?

Claro que não seu lobo!

É claro que eu sei!

O que fizeram com você?

Eu bem que te avisei!

Foi Chapeuzinho de palha

Que me deu uma surra

Só por causa da minha

Atitude burra

Eu pedi uns docinhos

Quase que ela me esmurra

O lobo contou a história

De modo exagerado

A vovó percebeu

Que ele aumentou um bocado

No fundo ela sabia

Que era um pobre coitado

De repente Chapeuzinho

Na casa da vovó bateu

Ao adentrar na casa

A menina percebeu

A presença do lobo

E logo se aborreceu

Correu atrás do lobo

Segurando uma vara

A vovó interrompeu

Dizendo: Menina, para

Ele só está com fome

Isto você não encara!

Pare já com isto

Sua moleca mal

Não se pode judiar

Do pobre animal

Só porque está com fome

Isto não é legal!

Derrubaram a floresta

E sem ter o que comer

Os animais desesperados

Sem ter como colher

Os frutos da natureza

Vivem a sofrer

Pediu desculpas ao lobo

Sentindo-se envergonhada

Refletiu a sua ação

Estava desapontada

Cuidou dos ferimentos

Refletindo ali parada

Andando pela sala

O lobo ficou perplexo

Ao ver num grande espelho

Sua imagem, seu reflexo

Ficou espantado

Seu retrato em anexo

Tem um monstro na parede!

Disse o lobo assustado

Explicou que é um espelho

E que ali está projetado

A imagem do lobo

Que nunca tinha se olhado

Em seguida o lobo

Elencou muitas questões

Achando -se feio

E com pelos de montões

Tinha unhas compridas

Que provocam arranhões

E as orelhas tão grandes

Parecendo um caçoar?

E olhos tão grandes?

São faróis a iluminar?

E esse nariz enorme?

Precisava exagerar?

A vovó dava a resposta

A cada indagação

O lobo sentiu-se feliz

Com aquela explicação

Ele era diferente

Obra da Criação

Chapeuzinho, Vovó e o lobo

Fizeram reflorestamento

Plantando mudas

Repensando o sentimento

Para Deus ficar contente

Olhando do firmamento

Passados alguns dias

A vovó anunciou

Volte para a floresta

Mas o lobo não gostou

Já estava urbanizado

Na internet se conectou!

A vovó insistiu

E o lobo entendeu

E adeus para elas

O lobo logo deu

Ficaram bem amigos

Foi assim que aconteceu

Desta vez o lobo

Saiu cantando baixinho

“Pela estrada a fora

Eu vou bem sozinho

E da vovozinha

Eu comi docinho

Mas à tardinha

Ao sol poente

Por trás da moitinha

Dormirei contente

Tem a natureza

Que abriga a gente”

Chapeuzinho de Palha

Desconstruiu o medo

Para as crianças do lugar

Ela contou o segredo

O lobo magro é amigo

Espalhava logo cedo!

Eu sou Sírlia Lima

Fiz aqui minha versão

Pelos versos de cordel

Com esta linda criação

De Luciana Carlos

Que é cheia de emoção!

Luciana Carlos Gurgel
Enviado por Sírlia Lima em 29/07/2017
Reeditado em 29/07/2017
Código do texto: T6068701
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