Baratas!! Eca!!


Quem me lê há algum tempo ou já passou por minhas crônicas: "Eu Gosto de Ser Mulher" e "Depilação e Outras Torturas", já deve ter percebido que eu tenho bastante intimidade com o universo masculino e nem sempre me identifico com as representantes mais características de meu próprio sexo. Sou das poucas mulheres que conhecem a regra do impedimento no futebol ou a intrincada contagem de pontos no tênis.
Tenho cá minhas pieguices, meu romantismo e a tal da sensibilidade, mas se tem uma coisa na qual eu sou mulherzinha, com todas as letras, é na relação atávica entre mulheres e baratas. Não é medo, que fique claro. É nojo. Muito nojo! Nojo que me faz arrepiar como se a morte houvesse passado por aqui e, se a monstrenga ainda for daquelas com asas, sair do ambiente correndo e gritando, só voltando depois devidamente munida de um bom inseticida. Por isso, digo que não é medo. Portando artilharia adequada, seja ela química ou mecânica, neste caso, um bom chinelo, enfrento mesmo. Sem recursos, porém, não conte comigo.
O pior é que a recíproca não existe e elas me amam.
Uma vez, era menina ainda, estava tomando banho na casa da minha avó, no Rio de Janeiro e senti uma coisa grudada no peito do pé. Com a cara cheia de xampu, sacudi a perna sob o chuveiro, pensando ser uma folha da caramboleira. A tal folha não saiu e quando olhei era uma barata enorme. Lembro de ter gritado horrorizada, fazendo com que os homens da casa, meu pai e os cinco irmãos entrassem correndo no banheiro minúsculo, para deparar-se comigo escondida pela cortina, apenas o pé de fora, a baratona lá, solene. Depois que eles conseguiram parar de rir, resolveram me socorrer e pude terminar meu banho, lavando o pé com muito álcool e sabonete.
Algum tempo mais tarde, eu fazia ginástica rítmica na escola e uma delas subiu em mim no vestiário. Desta vez não fiz um escândalo, dei-lhe um safanão e ela caiu, correndo para debaixo de um armário. Fiquei com calafrios por uns três dias.
Houve outras ocasiões, mas nunca mais com exemplares tão grandes, graças ao bom e misericordioso Deus.
Uma das minhas cachorrinhas parece ter herdado essa minha caraterística: Anita, com seu ouvido privilegiado, é capaz de ser acordada por uma barata média correndo no piso de madeira. Isso basta para que ela saia da caminha e comece a latir, furiosa, na direção do bicho. Porém, ela não ultrapassa a distância de segurança e, assim que eu ou o marido entramos na batalha e assumimos a missão de destruir o monstro, ela retorna à caminha satisfeita, de onde acompanha nossos movimentos atentamente e só relaxa quando o animalzinho asqueroso queda de pernas para cima. A imagem caricata que nos vem à cabeça ao vê-la latir e apontar o inseto é de que ela está gritando:
- Uma barata!!! Mata! Maaataaa!!!
Até no Recanto já li declarações de guerra contra elas. Dalila* ao mudar-se para um pequeno apartamento, trocou todas as quarenta e duas armadilhas já existentes no imóvel. Mesmo desconfiando de uma psicótica fobia do senhorio por Blattarias**, achou melhor garantir-se contra elas.
Aliás, não é necessário ser mulher para odiar essas pestes. Meu marido também não é muito fã de periplanetas**. Costumo dizer que ele não as mata envenenadas, mas afogadas. Joga tanto inseticida nelas que elas morrem, debatendo-se, no meio de uma poça oleosa, mesmo com a nova geração de produtos realmente eficientes, desses que basta um tchiiiiii para garantir a morte quase imediata de quase qualquer invertebrado.
E até atordoar alguns vertebrados. Outro dia desses, um morcego entrou no quarto onde eu estava. Esperei-o pousar e joguei-lhe um pouco de um desses inseticidas... O bichinho ficou completamente dopado. Foi fácil pegá-lo e jogá-lo pela janela. Caiu como uma maçã no chão, acho que nem tentou abrir as asas. Eu não queria matá-lo, só retirá-lo do ambiente, e fiquei feliz por não encontrar o corpo no dia seguinte. Creio que o ar fresco deve ter-lhe feito bem.
Esses novos inseticidas são capazes de destruir famílias inteiras de aranhas, dizimar formigueiros, despovoar casas de marimbondos e, claro, causar a morte rápida de qualquer barata, a despeito de sua fama de que serão os únicos sobreviventes do holocausto nuclear. Um dia desses, acertei uma delas apenas de relance e ela foi morrendo aos poucos, dolorosamente. Primeiro, pareceu que as patas traseiras haviam ficado paralisadas. Ela, então, arrastava-se pelo piso, com espasmos, até que também as patas dianteiras congelaram-se e ela tombou de lado, estrebuchando. Compadecida, resolvi acabar com aquela agonia e pisei nela. Vou poupar o caro leitor da descrição do resultado.
Taí... acabei de me lembrar de mais uma característica bem feminina minha: conseguir apiedar-se de uma asquerosa barata moribunda é mesmo tarefa para muita progesterona.

* Referência a Dalila Langoni em seu texto Diário de Bordo # 2
** Vou quebrar seu galho, não precisa recorrer ao Google: Blattaria é o nome que se dá a ordem de insetos cujo principal representante é, nada menos, do que a "periplaneta americana" nome científico das baratas.