O curso de Direito

O Direito é um sonho de muitos. Para cursá-lo, os brasileiros, em princípio, tinham que ir à Universidade de Coimbra, em Portugal. Isso era acessível somente a “uma porção escolhida da grande família brasileira”, e que mesmo assim, gemia “ali, debaixo dos mais duros tratamentos de opressão” (2) que recebiam, conforme declara o Visconde de São Leopoldo, mentor, em 1823, da primeira indicação para a criação dos cursos jurídicos no Brasil. Era “preciso tirar os brasileiros da penosa necessidade de irem mendigar as luzes nos países remotos”(3), complementava o deputado Almeida e Albuquerque. Todavia, em que pese tais e incessantes esforços, somente pela Lei de 11/08/1827, foram criados os dois primeiros cursos jurídicos brasileiros, os quais foram instalados em São Paulo (01/03/1828) e Olinda (15/05/1828).

De lá para cá, 180 anos se passaram. O Direito continuou sendo um sonho para a juventude, da mesma forma que, cursá-lo, ainda era um grande problema, uma vez que o mesmo quase sempre era oferecido apenas nos grandes centros urbanos. Estudar Direito no interior do Brasil certamente era uma “missão quase impossível”. Mesmo assim, tantos não perderam a esperança e continuaram acreditando nos sonhos, tanto quanto nas utopias.

Assim o Direito chegou a Primavera do Leste, em 2004. Torcida não faltou para que isso acontecesse, como também para o contrário. Mas, graças a Deus, os pessimistas foram vencidos pela vontade de fazer dos empreendedores, como o Dr. João Medeiros, que trouxeram a UNICEN para a nossa região, agora incorporada ao grupo IUNI, com o nome de UNIC – Universidade de Cuiabá, Campus de Primavera do Leste. Desse modo, aquilo que era uma utopia, virou realidade. E hoje, na condição de concluinte, me sinto muito honrado de poder dizer que não estou apenas realizando o sonho que sempre tive, mas principalmente, que estou fazendo um curso cuja qualidade não deixará a desejar em relação aos melhores do país, diante do zelo e do empenho de todos aqueles que estão envolvidos com a sua realização.

É fato que, poeticamente, tudo começou com um sonho de Primavera. Isso foi imprescindível.

Quando fiz o curso de Gerente de Cidades, trazido para Cuiabá pelo empreendendorismo do então prefeito de Primavera do Leste Érico Piana, na época, o presidente da AMM (Associação Mato-grossense de Municípios), aprendi que o sonho era a base para todas as realizações. A cidade sonha com isso, com aquilo e com aquilo outro que pode mudar a sua qualidade de vida. O prefeito, então, captando essa vontade coletiva, elabora com ela o seu plano de governo e sai em busca dos meios possíveis e dos parceiros necessários para torná-lo realidade. Enquanto isso, a cidade ficaria sob a responsabilidade do city manager, o administrador dos sonhos coletivos, dando concretude àquilo que é possível para transformar utopias em realidade.

Naquele tempo, quando assistia às aulas de inspiração e criatividade ministradas pelos professores Victor Mirshawka e Raimundo Ignácio “Alemão”, entre outros, aprendi a acreditar que as utopias são possíveis. Posteriormente, já no curso de Direito, meus mestres José Carlos Iglesias, Paulo Henrique Miotto Donadeli, Divanir Marcelo de Pieri, Neusa Maria Mariussi, Derly Garcia, Reinaldo R. de Oliveira Filho, Marcelo Antonio Theodoro e Ana Cristina Medeiros, entre outros, continuaram alimentando as minhas esperanças de que é possível construirmos um mundo mais justo e melhor para todos. Desde então, estamos sonhamos juntos que poderemos ter um curso de Direito da melhor qualidade em Primavera do Leste, desde que cada um vista essa idéia com entusiasmo e disposição. É preciso que deixemos de ver a UNIC como um negócio privado que apenas objetiva o econômico, para vê-la e assumi-la como um projeto nosso, de desenvolvimento e progresso da nossa cidade e da nossa região. Se ela nasceu do sonho e da vontade de poucos, hoje ela é uma razão de esperança e de alegria para todos nós. Meus olhos brilham por cada tijolo que se assenta nessa construção, por cada livro que amplia o acervo da nossa Biblioteca, por cada curso novo que é anunciado, mas, principalmente, por cada dia em que vejo tudo isso se transformando em realidade.

Infelizmente, muitos colegas ficaram para trás ao longo dos anos. O rigor que vem sendo cobrado pela direção e coordenação do curso, tanto dos acadêmicos, quanto dos professores, embora não seja o único, certamente tem sido um dos fatores que contribuíram para que isso acontecesse. O mito de que “todo mundo passa em faculdade particular”, certamente já não é mais uma realidade em Primavera do Leste. Aqui, ao custo de um ano de estudos, muitos têm aprendido que não estamos brincando de estudar Direito, mas sim, atuando como desbravadores, sendo os responsáveis para garantir o reconhecimento para que esse curso possa continuar, em benefício das próximas gerações. Se isso não acontecer, então o sonho não terá passado de sonho e teremos perdido o nosso tempo e a nossa vida. Eis porque, com o perdão daqueles que pensam que tudo podem porque pagam, estamos fazendo um curso de direito com seriedade em Primavera do Leste.

Tendo o privilégio de sermos os pioneiros, também tivemos a responsabilidade de não sermos os derradeiros. Nesse sentido, haveremos de fazer um Direito “Classe A” por aqui, que venha ser cobiçado e desejado até mesmo por aqueles que estão nas capitais, servindo de alicerce para que se tragam outros cursos para cá.

O sonho é o princípio fundamental de qualquer realização. Acreditar nele é a energia que o transforma em realidade. Eis porque o curso de Direito continua sendo ministrado em nossa região.

NOTAS

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1. Bastos, A. Wander. O Estado e a Formação dos Currículos Jurídicos no Brasil, in Brasil, Câmara dos Deputados. Os Cursos Jurídicos e as Elites Políticas Brasileiras, Brasília, 1978, pág. 16.

2. Pereira, Nilo. Perspectivas da Universidade na Assembléia Constituinte de 1823, in Brasil, Câmara dos Deputados. Os Cursos Jurídicos e as Elites Brasileiras, Brasília, 1978, pág. 17.