Desafio - Corrompendo o Mau Humor

Mais um desafio. Desta vez, envolvendo seis cronistas do Recanto e a

missão espinhenta de tentar fazer você achar graça em um assunto que, normalmente, nos embrulha o estômago: "corrupção".

Não é competição, não queremos seus votos, portanto, nem adianta

tentar vendê-los para nós. Ha, ha, ha!

O objetivo é divertir, primeiro a nós que rimos muito ao escrevê-los,

depois a vocês de quem esperamos conseguir sonoras gargalhadas.

O meu texto está aí abaixo.

Os outros estão ou estarão nas escrivaninhas de cada uma no máximo até à meia noite deste sábado. Todos começam com a palavra "Desafio" para facilitar sua identificação.

Os endereços são (em ordem alfabética):

Ângela Rodrigues Gurgel

http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=18247&categoria=B

Malu http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=18977&categoria=B

Maria Olímpia Alves de Melo

http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=27042&categoria=B

Maria Paula Alvim

http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=31232&categoria=B

Zélia Maria Freire

http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=39004&categoria=B

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Corrompendo o Mau Humor

Quando propus o desafio não pensava que seria tão difícil. Escrever um

texto divertido sobre corrupção!! Onde é que eu estava com a cabeça?

Não tem nada divertido sobre corrupção. Como fazer graça de uma coisa que só traz desgraça, que empaca o país, que elimina nossas chances de crescimento, aumenta as desigualdades, permita que crianças passem fome, cresçam sem educação, sem saúde? Ainda mais, depois que li o texto da Zélia! Aí, sim! Fiquei sem rumo. Genial!! Vontade de deixar o tal desafio pra lá e deixá-la publicar seu texto sozinha, sendo devida e justamente ovacionada por tanto talento.

Mas, felizmente ou infelizmente, nasci ariana e ariano adoooora um

desafio!

Então vamos lá! Estou aqui, tentando fazer graça da desgraça.

E a pior desgraça pode ser resumida a três palavrinhas: "O Poder

Corrompe". Já que a Zélia gosta de uma citação, vou aproveitar a

carona e visitar George Orwell, ferrenho crítico do regime comunista.

Mal sabia ele que sua escrita ferina tinha alvos mais abrangentes do

que os temíveis bolcheviques bigodudos e comedores de criancinhas, no sentido antropofágico da palavra. Sua fábula "A Revolução dos Bichos" e o pessimista "1984" mostram a banda podre do poder político legal ou ilegalmente constituído de qualquer regime.

Em decorrência dessa máxima, quase uma premonição de oráculo grego, a carreira política tornou-se sinônimo de carreira criminosa. Ao vermos numa lápide: "aqui jaz um político e um homem bom", estaremos diante de um erro de concordância. O certo seria dizer "jazem", pois certamente trata-se de duas pessoas diferentes.

Esses dias jogando com uma amiga, percebi que ela trapaceava um pouco, talvez sem maldade, mas eu brinquei dizendo que ela era tão pilantra que devia tentar a carreira política. Ela sorriu e devolveu a farra:

- Certo, vamos as duas.

- Não posso. Meu pai me ensinou a ser honesta. - respondi, na lata.

Felizmente, tudo acabou em pizza e continuamos amigas.

A verdade é que a música dos Paralamas do Sucesso era ingênua quando afirmava "Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou são trezentos

picaretas com anel de doutor".

Ingênua em dois sentidos: são muito mais do que trezentos, os

picaretas e, ainda pior: trazido ao poder, Luís Inácio não se mostrou

melhor do que eles.

Lembrei de uma piada... posso? Ah! Claro que posso!! Diz que colocaram um contador de corruptos, semelhante a um relógio, na entrada do Congresso Nacional. O ponteiro daria uma volta para cada corrupto que passasse por ali. Acabou transformando-se em ventilador.

Aliás, o que não faltam são piadas de político. Todas fazem graça

sobre a fama de salafrários que esses ilustres cidadãos angariaram

para si. Foram anos e anos construindo essa imagem. Fico me

perguntando o que leva uma pessoa que não tem antecedentes criminais na família a decidir por essa profissão. Isto é, quando moleques, brincávamos de polícia (sem propina, lembra?), casinha, construtor, médico... Ninguém brincava de subir no palanque, fazer discursos, angariar votos. Se alguém apresentava a vocação cedo, era mais para o outro lado, como aquele menininho que não ia bem na escola e o pai, como forma de incentivo, prometeu-lhe R$ 500,00 para cada nota 10 que ele tirasse. No dia seguinte, o garoto oferece à professora R$ 250,00 para cada nota 10 que ela lhe desse.

Desculpa... isso foi outra piada. Não resisti.

Alguns chegam às hordas políticas pelos braços e apoio de colegas e

amigos, cheios de boas intenções, esquecidos, porém, de que, de bem

intencionados, o inferno está cheio. Para realizar as promessas de

campanha, percebem que será preciso subverter um pouco algumas de suas convicções porque o maior poder, dentre o executivo, o legislativo e o judiciário, continua sendo o econômico. Aí, começa a carreira morro abaixo. Como diz o ditado, "trair e coçar, é só começar". Um pequeno deslize torna-se um escorregão e daí para uma derrapagem de carreta, basta um mandato.

Estamos mesmo condenados a ser governados por bandidos. Para suportar essa sina, desenvolvemos um insuperável mecanismo de defesa, que desativa nossa memória sempre que nos deparamos com as urnas. O efeito colateral é trazemos de volta ou mantemos por cima sempre a mesma canalha, não importa quantos golpes tenham sido praticados ou impedimentos sofridos.

Como vingança, torcemos que os terroristas, da próxima vez, venham

estourar as torres gêmeas de Brasília, ou fazemos graça, desejando que se descubra febre aftosa em algum de nossos representantes eleitos e por isso, seja necessário sacrificar toda a boiada.

Como o objetivo do desafio era escrever um texto alegre, gostaria de

encerrar com uma ótima notícia!

Hoje, podemos afirmar, com toda certeza: não existe mais corrupção no Brasil! É verdade!! É sexta-feira, já passa das 20h e as repartições públicas estão todas fechadas.

A má notícia é que, segunda-feira, começa tudo de novo.