No Final Dá Tudo Certo


É noite. Chove muito.
No trânsito intenso, dirijo cuidadosamente, diferente do meu jeito normal. Minha visão noturna já é bem ruim, por causa do astigmatismo. Com a refração das luzes de postes e outros carros nos pingos, sinto-me ofuscada, cega em tiroteio. Pra piorar, o vidro do carro embaça.
Apesar disso, não estou tensa. Ao contrário, ouço Zélia Duncan cantando que "no final dá tudo certo de algum jeito" e lembro que se tudo ainda não deu certo é porque não chegou ao final. Sorrio com a doçura da mensagem otimista.
Penso no momento que estou vivendo. Mudanças e decisões que transformam em metáfora este meu trajeto até em casa, desde a assustadora chuva, a escuridão e ofuscamento que me fazem redobrar os cuidados, até a forma como tenho conseguido abstrair de todos esses perigos, mantendo o foco no meu objetivo, aberta às muitas mensagens positivas que a vida me traz.
Uma felicidade me invade. Sinto-me forte e capaz de enfrentar esta e qualquer outra situação. Aprendo com elas e com elas cresço. Sorrio ao lembrar-me de um tempo em que a chuva me entristecia, em que os dias chuvosos me faziam introspecta e chorosa. Tanto tempo se passou. Hoje, o vento forte e o cheiro da terra molhada que prenunciam as tempestades fazem-me voltar ainda mais um pouco no tempo e lembro-me criança, matando aula para brincar na chuva, sem medo dos raios, do frio, da gripe ou do castigo da minha mãe. Diferentes fases, diferentes formas de viver a vida. Não sou mais tão inconseqüente como quando criança e certamente sou muito mais feliz do que quando me deixava abater pelos humores de São Pedro.
Chego em casa, sã e salva... Agradeço a Deus por mais esta pequena batalha vencida.
Sei que Ele me acompanhou até aqui. Sei que Ele me acompanhará até o final, quando, enfim, tudo então terá dado certo. Até lá, redobro meus cuidados, sem perder o otimismo e a fé nEle.