Mega Vó 9: Zelo Sufocante

Zelo Sufocante

Ana Esther

(07/05/2009)

‘Mamãe! Papai! Onde é que vocês vão desse jeito? Carregando esses pacotes... Saindo escondidos, iam pegar o ônibus?’ - Eduardo José apavorou-se ao ver os pais na parada do ônibus na esquina de sua casa.

‘Mas é tão simples, meu filho. A gente pega o ônibus aqui e desce bem na frente da casa do teu Tio Batista!’ – Dona Margarida respondeu com sua voz mais firme.

‘É, Dudu, e os pacotes nem estão pesados...’ – Seu Epaminondas começou a falar mas foi bruscamente interrompido.

‘Nada disso! Deixem-me levá-los até lá. Não me custa nada. Eu só tenho que passar antes no posto de gasolina, no supermercado e deixar a Gabi na escola. É perigoso sair por aí sozinhos, na idade de vocês. Quantas vezes eu tenho que dizer isso, mas vocês não me ouvem!’ - O filho agarrou então os pacotes que o pai segurava e os acompanhou de volta para casa.

Quando chegaram na casa do Tio Batista, o Eduardo José deu 1001 recomendações aos pais: ‘Deixem o celular ligado para qualquer emergência (eu telefonarei volta e meia para ver se está tudo bem), lembrem-se de tomar os remedinhos na hora certa, bebam água para não se desidratarem, quando quiserem retornar para casa me telefonem, não voltem sozinhos de ônibus!’ Desta forma o Seu Epaminondas e a Dona Margarida nem puderam aproveitar direito a visita...

Naquela noite, de volta ao lar, Dona Margarida quis preparar para a família uma receita que aprenderam com o Tio Batista... Quem disse que o Eduardo José permitiu?

‘Mamãe, tu não podes te cansar! Deixa que a Maria cuida da janta...’

Às 23:00h o Seu Epaminondas ligou o DVD no seu quarto para assistirem um filme, um clássico de vampiros que há horas ele queria rever. Nisso, o Eduardo José apareceu apavorado na porta, ‘Pai, isso não é hora de tu assistires um filme de terror, depois vais ter pesadelo... além do mais era bom vocês dormirem cedo, já é tão tarde!’

Aaaahhhhhhh! Eu não agüento mais! Em sua casa, Ana Brasilis trabalhava em seu estúdio fotográfico com as fotografias da Ia Festança do Camarão na Praia do Matadeiro quando sua Mega Audição detectou a angústia do casal de idosos. No mesmo instante agarrou a Bengala Mágica e transformou-se num piscar de olhos na velhinha mais poderosa do mundo... a Mega Vó!

Voando pelos céus de Floripa a Mega Vó chegou rapidamente à casa do Eduardo José. Encontrou-o ainda no quarto dos pais tentando convencê-los de que na idade deles não era saudável assistirem filmes de terror àquela hora da noite. Ele quase teve uma síncope ao ver uma velhinha assim tão... tão... bem, tão velhinha, voando janela adentro.

Eduardo José colocou-se à frente dos pais para protegê-los. A Mega Vó riu-se e falou com sua voz angelical, ‘Meu filho, tu és um exagerado... estás super-protegendo os teus pais. Não vês que desta forma tu aceleras o processo de dependência deles, atrofias sua criatividade, espontaneidade, e auto-estima?!’ A Mega Vó olhou-o com seu Olhar do Arrependimento, ‘Se continuares cerceando a liberdade deles, eles ficarão uns inúteis, doentes, deprimidos e de repente até morrerão mais cedo...’

Sob a influência do Olhar do Arrependimento Eduardo José analisou-se e finalmente percebeu que mais prejudicava os pais do que os ajudava. Precisou pensar melhor nos limites entre abandono e liberdade, descaso e carinho, cuidado e exagero...

Mas quando a Mega Vó despediu-se e voou pela janela ele não conseguiu se conter e disse preocupado: ‘Mega Vó! Cuidado ao voar sozinha por aí!’

*Esta minha aventura da Mega Vó fará parte do Jornal Cultura&Lazer (Florianópolis, SC) e também em www.jornalculturaelazer.zip.net. Os desenhos das crônicas da Mega Vó podem ser visualizados no meu Blog: http://pelicanaesther.blogspot.com