Mega Vó 10: Que Constrangimento!

Que Constrangimento!

Ana Esther

(25/06/2009)

Saiu na TV e jornais com grande alarido a notícia de que idosos têm desconto em eventos artísticos como cinemas, teatros, shows e até em alguns tipos de cursos. Divulgou-se ainda a obrigatoriedade de empresas de ônibus intermunicipais reservarem assentos para idosos com descontos. A D. Alvina ficou sabendo desta novidade incentivadora e acreditou, maravilhada. Agora sim ficaria um pouco mais fácil aproveitar um ‘pouquinho’!

Um belo dia a D. Alvina convidou sua amiga Camélia que, como ela, tinha 70 anos para irem ao teatro. Pegaram a quantia exata, já com desconto, e separaram o dinheiro para o táxi pois a peça terminaria tarde da noite e não haveria mais ônibus para o retorno. Quando as duas chegaram faceiras à bilheteria o atendente sorridente as atendeu. Ao falarem que desejavam ingressos com desconto o sorriso sumiu da face do atendente. Ele respondeu que para aquela sessão não seria mais possível concederem desconto. D. Alvina e Dona Camélia indagaram o porquê se elas sabiam que tinham o direito. Deu uma confusão pois as pessoas na fila começaram a reclamar. Para não ficarem nervosas elas desistiram e retornaram tristonhas para suas casas. Resolveram nunca mais ir ao teatro para não repetir o desgosto.

Passado um tempo, a irmã de D. Alvina convidou-a para que fosse visitá-la no oeste catarinense. Fazia uns cinco anos que não se viam. D. Alvina lembrou-se da lei das passagens e foi informar-se na Rodoviária. Lá chegando obteve informações tão confusas que precisou pedir maiores explicações. Aí, com descaso o atendente disse que o desconto não se aplicava a todos os idosos. A vontade da D. Alvina de rever a irmã era tanta que ela pediu à nora para acompanhá-la à Rodoviária outro dia. Após muita reclamação da nora, D. Alvina conseguiu uma passagem gratuita! A alegria não durou muito. No dia da viagem, quando ela ia entrar no ônibus uma moça e o filho reclamaram que eles mesmo pagando teriam sua viagem retardada por causa daquela velha que ia de graça. Todos olharam D. Alvina como criminosa. Tão constrangida ela se sentiu que cedeu seu acento. Ainda não era desta vez que ela visitaria a irmã.

Mais um tempo passou. D. Alvina leu sobre uma sessão gratuita para idosos num cinema e resolveu ir. Preferiu não convidar ninguém por vias das dúvidas. Ao chegar à sala de cinema pediu seu ingresso gratuito... Foi um deus nos acuda! A atendente disse que não era naquele dia, ela deveria ter se confundido. D. Alvina, mais esperta agora, mostrou à moça o artigo do jornal com a notícia. A moça leu-o e disse que deveria haver algum engano. Chamou a supervisora. Esta chegou com um sorriso nos lábios que desapareceu ao ver o artigo. Sem dúvida havia algum engano. O pessoal da fila não queria nem saber, reclamaram o que deu e D. Alvina virou alvo de olhares raivosos.De novo não! Era demais para D. Alvina, seu coração sangrou ao ver gente tão furiosa devido a um direito que ela tinha. No instante em que uma lágrima rolou no seu rosto apareceu voando no salão do cinema uma velhinha... a mais velha super heroína do planeta, a Mega Vó! Os olhares de raiva tornaram-se de espanto.

‘Mocinhas, que descaramento!’ Falou a Mega Vó com sua voz suave e bondosa colocando na atendente e na supervisora o seu poderoso Olhar do Arrependimento. ‘Que falta de profissionalismo, seriedade e honestidade ao descumprir o anunciado...’ Sob o efeito do Olhar do Arrependimento as duas desmancharam-se em desculpas por exporem D. Alvina ao indesculpável constrangimento. A Mega Vó virou-se para o pessoal da fila jogando neles as Lágrimas Transformadoras para que criassem vergonha na cara. ‘Vocês deveriam defender os idosos vilipendiados em seus direitos em casos semelhantes’, disse ela. Arrependidos, todos prometeram que doravante sempre iriam defender os velhinhos. Ela abraçou D. Alvina e recomendou: ‘Jamais desista de usufruir seus direitos! E vocês, sempre que souberem de velhinhos sendo constrangidos em seus direitos chamem a Mega Vó! E melhor ainda, denunciem o fato às autoridades competentes!’ E lá se foi embora a Mega Vó voando com sua Bengala Mágica sob os aplausos efusivos daquelas pessoas tocadas agora por um novo sentimento de bondade e justiça.

*Esta minha crônica da Mega Vó será publicada no jornal Cultura&Lazer (Florianópolis, SC).

Ana Esther
Enviado por Ana Esther em 17/07/2009
Reeditado em 03/10/2009
Código do texto: T1705272
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.