Fábula do Escorpião e da Rã

Uma das mais curiosas fábulas de autoria de Esopo que conheço é, sem dúvida, aquela que conta a história do Escorpião e da Rã. Uma bela reflexão para nós, seres humanos.

Diz a história que, certo dia, houve um incêndio em proporções irreversíveis na floresta. Alguns animais, desesperados, morriam carbonizados pelo fogo descontrolado ou afogados, ao se lançarem ao rio, no afã de salvarem suas vidas. Analisando os prós e os contras, o escorpião, temendo por sua extinção, decidiu propor à rã que esta salvasse sua vida. A rã, não menos preocupada com sua própria existência, alegou que não faria isso por motivos óbvios: ao menor deslize, o escorpião a picaria com seu ferrão mortal, levando-a ao óbito. O escorpião argumentou que não fazia sentido sua justificativa, pois se isso ocorresse, os dois certamente morreriam afogados. Após ponderar os riscos, a rã assentiu, pois não haveria razões para que o escorpião implorasse por sua ajuda se tivesse o intuito de matá-la e até pensou que, diante da situação, poderia propor após a travessia uma trégua, para que ambos pudessem coexistir em paz. Tratado o acordo, o escorpião subiu às costas da rã e, durante o nado, o aracnídeo deliciou-se com o contato macio do corpo de sua salvadora, sensação essa nunca antes experimentada, uma vez que todos os animais, por considerá-lo perigoso, nunca permitiam maior aproximação. Enquanto a rã nadava, num relance o escorpião contemplou seu reflexo nas águas e, para seu espanto, percebeu que sua cauda estava mole. Horrorizado com a perspectiva de ser visto em situação tão vexatória, não hesitou ao picar a rã e, assim, os dois morreram afogados.

Assim me parece a humanidade. As pessoas repetem gestos irracionais, ora amparados em um “inócuo” instinto de sobrevivência ou, então, apegados a conceitos ridículos e obsoletos, como a preocupação excessiva com a opinião alheia. Em vários segmentos sociais pode-se perceber esse tipo de atitude que, penso eu, não passe de pura hipocrisia e preconceito exacerbado. Se defendo uma sigla partidária de direita, sou oposição também a quem milita política partidária de esquerda. Se for católica, afasto-me da concepção da religião evangélica, que tem raízes em concepções e doutrinas distintas. Torno-me ‘persona non grata’ se for diferente em qualquer sentido. E pasmem: ninguém é igual a ninguém! Todos somos diferentes. Talvez, possamos possuir afinidades e interesses em comum, o que nos aproxima um pouco das semelhanças, mesmo diante das diferenças. Alguns indivíduos parecem preferir, inclusive, passar por cima de valores sociais, morais e éticos, amparados em conceitos sem fundamento, sem embasamento algum. Desprezível. Repugnante.

Por quanto tempo ainda agiremos como o escorpião e a rã ou quaisquer outros animais descritos nas fábulas? O que nos falta para podermos superar as diferenças e compreender que o sol nasce para todos? Que não somos donos da verdade, mas tão somente seres humanos e que podemos coexistir de maneira pacífica e fraterna? Eu tenho uma teoria, mas e você? O que fez pelo seu semelhante hoje??!!

Patrícia Rech
Enviado por Patrícia Rech em 29/07/2009
Código do texto: T1726664
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