Gripe Suína 1: Receita da Vovó - Bálsamo Alemão!

Minha avó uma mulher simples do interior, além das marcas do tempo era senhora de marcas profundas em seu caráter. Mulher sensível e corajosa, ficou viúva muito cedo. Meu avô morreu ainda jovem, não havia completado quarenta anos e a deixou esperando a última filha, dos oito filhos que criou sozinha. Sem direito a opção, dedicou-se ao trabalho que surgiu à frente, fosse no cabo da enxada, fosse ao redor do fogão, o importante era não faltar pão as suas crianças.

A vida sofrida lhe deu muita sabedoria. O tempo parece que não passou, seus ensinamentos são ainda atuais e eficazes. Especialmente, em tempos de frio rigoroso e da temida gripe suína, os apelos e conselhos médicos a respeito da imunidade tornam tão atuais, quanto necessárias as receitas da vovó. Impossível não lembrar como preocupava-se com os filhos, com os netos e em sua simplicidade, ia desfiando uma lista de boas recomendações:

"Cuidado, para enfrentar o frio, corpo sadio! Agasalhe-se bem. Alimente-se bem. Tome bastante líquido. Lave bem as mãos. Durma bem. Tome este chazinho e uma colher de açúcar com algumas gotinhas de Bálsamo Alemão para previnir-se da gripe..."

Será que aquela velha senhora tinha razão? Será que o tempo não passou? Não mudou muita coisa? Ou o tempo não muda as coisas essenciais? Talvez... Afinal, de lá para cá já se vão quarenta, cinquenta anos e, com tanta evolução como pode uma gripe ser letal para o ser humano? Ainda se fosse naquele tempo em que meu avô morreu de 'nó nas tripas', hoje seria talvez obstrução intestinal, atualizando a terminologia. Mas de que adianta sofisticá-la, como dissemos anteriormente, o essencial o tempo não muda e a vida continua tão efêmera quanto antes.

Infelizmente, ao sentir-se impotente diante de um ser microscópico capaz destruí-lo em pouquíssimo tempo, o gigante dá-se conta de sua pequenez. E dar-se conta da fragilidade e da finitude humana é mesmo muito cruel! Como pode um ser tão ínfimo derrubar tamanha arrogância humana? Acalentamos o desejo de negar a morte, vivendo a ilusão da invulnerabilidade. Quando hoje, talvez consequência das próprias invenções humanas, um vírus derruba todo e qualquer poderoso da soberba de sua pseudoimortalidade, no desespero da lei do 'salve-se quem puder' contra o tal vírus da gripe H1N1, vale tudo! Contando que apresente algum indício de proteção, vale recorrer à sabedoria popular, até às receitas da vovó. Hipocrisia, ironia ou qualquer outra adjetivação possível, mas diante do temor social em função da gripe suína, que para alguns pode até ser mais um jogo de interesse capitalista, para quem está vivendo de perto esta situação, entende-se que no desespero, qualquer tábua pode ser tábua de salvação!

Ironicamente ou não, o certo é que o bendito Bálsamo Alemão já se esgotou nos estoques das farmácias locais. Em seus estoques também já não se encontram: máscaras descartáveis de proteção, álcool em gel e inclusive o simples chazinho da vovó, Anis Estrelado. Ou seja, parece que as receitas da vovó tinham algo a mais a nos ensinar. Espero que ao vencermos esta batalha não nos esqueçamos de que a vida é tão bela e tão efêmera que não vale desperdiçar um só instante. Tampouco esquecer de que mulheres e homens, crianças, jovens ou idosos, brancos ou negros, ricos ou pobres, somos todos da mesma matéria que mais dia, menos dia por certo acabará do mesmo jeito. E como já dizia minha avó: "o sofrimento ensina", espero sejamos capazes de aprender com sua sapiência. Oxalá, esta pandemia, triste e difícil experiência que estamos vivenciando, nos torne mais humanos e melhores aprendizes nessa travessia.

Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 29/07/2009
Reeditado em 05/06/2010
Código do texto: T1726689