Viver a Maturidade

Estava sentada a frente de seu computador. Fazia o que todo dia faz, já se tornara um hábito, daqueles que se incorporaram a seu dia a dia. Abria lentamente as mensagens de “perigo”, “importante”, “vírus” e outras mais. Uma delas lhe chamou atenção por seu título: Como se manter jovem.

Parou e começou a refletir. Este também era um hábito, que vinha desde sua infância. Pensava muito. Talvez por ser um pouco circunspecta, talvez por gostar dos momentos de solidão e silêncio, que lhe rendiam muitos caminhos a ser percorridos e lhe colocavam à disposição, a variedade de sentimentos, emoções, sorrisos e lágrimas que faziam parte de sua história.

Bem, voltando à citada mensagem e a partir dos pensamentos que lhe ocuparam os sentidos, começou a ler lentamente os conselhos, não como um manual, mas como sintomas dos indícios de uma sociedade que busca e valoriza eternamente a juventude.

Entre outros conselhos que ali estavam descritos, havia a sugestão de esquecer números como idade, peso e altura; havia também uma referência a manter apenas os amigos divertidos porque os depressivos “puxam para baixo”.

Achou que era importante pensar um pouco sobre isto. Começou com a palavra juventude, seu significado num mundo que privilegia a pressa, a tecnologia, o culto ao corpo, a negação de valores que se vai adquirindo pela vida e que constituem riqueza indiscutível.

Não que fosse contra essas coisas. É bonito observar os jovens, lutando pelos seus valores, pensando com solidariedade, sua capacidade de sonhar e de idealizar. Mas tudo tem seu tempo e seu espaço. Não se pode descartar a história de vida, a liberdade que vai se tornando parte do ser humano.

Cultue-se o corpo, ele é uma dádiva de Deus. Mas cultue-se também a alma. Alimentá-la faz do homem, um ser mais contemplativo, mais capaz de inserir mudanças que perpetuarão sua presença no mundo.

Use-se a tecnologia, mas de forma racional e humana. Não se pense em substituir o saber do ser humano por um conjunto de peças e programas que só terão uma boa utilização nas mãos de um competente usuário. Os computadores podem auxiliar na comunicação, facilitar a divulgação de obra de artistas, viajar de forma virtual, encontrar formas de lazer, mas não de forma compulsória e dogmática.

E o que dizer da maturidade vivida com alegria, com a consciência do que se é capaz, a liberdade de não se estar aprisionado a valores superficiais, a idéias que surgem e que se tornam leis, a satisfação de interesses de outras pessoas em detrimento de sua própria essência em constante evolução.

Esquecer a idade? Nunca, só não se deve vivê-la com medo, inseguro, como se fosse uma declaração negativa de sua existência. Como é bom ver crianças, jovens, adultos, idosos, cada um contribuindo com as características da fase em que se encontram, trocando ingenuidade com sabedoria, ofertando assim à vida o equilíbrio de que ela necessita.

E o que dizer do conselho de se escolher amigos alegres? O que seria esta alegria? Sorrisos soltos no ar, abafando a realidade de cada um? Não, não se escolhe amigos assim. Aliás nem se escolhe amigos. Eles acontecem em sua vida, tornam-se imprescindíveis, estando eles bem ou mal.

É da troca, da solidariedade que é feita a vida, é de partilha que é feito o dia a dia, é em carinho que se apóiam relações. O cuidado com amigos se transforma em riquezas que trazem paz ao coração.

Pensando bem, este texto lhe fez muito bem! Não quer fugir de sua idade, quer vivê-la de forma justa, fraterna, idealista e com a felicidade que é destinada a todos. Quer ter amigos, deprimidos ou não, alegres ou não, nunca lhe “puxarão para baixo”. Eles lhe darão a oportunidade de participar de suas historias de vida. Isto sim, é caminhar com a idade que se tem, de forma sadia, coerente e feliz