Caminhando

Continuando a passear no mundo interno de meu eu, fascino-me com a matemática. Não aquela aprendida nas escolas e que serve, na maioria das vezes, para tornar o convívio entre homens cada vez mais frio e objetivo.

Uso da matemática para encontrar a harmonia e a perfeição. Não é um ponto a se atingir, mas um caminho a se seguir. Vou em frente, sem me preocupar bem aonde chegar. Gosto do encontro, verdadeiro e profundo, de viajantes rumo ao mesmo destino. Gosto do abstrato, aquele que não nos é dado conhecer, apenas pesquisar, sonhar e tentar atingi-lo.

Assim, compreendo porque segui até aqui, em interesses tão distintos. Tudo se liga, tudo faz parte de um todo, que o homem insiste em separar. Que tola tentativa! Ledo engano de ingenuidade quase infantil.

Compreendo agora, matemática, teologia, filosofia... Tudo se ajusta perfeitamente. Pela harmonia dos números, posso sonhar. Distancio-me deste mundo tão cheio de imediatismos. Desejo encontrar o prazer pelo prazer. Não aquele corriqueiro. Anseio estar plena no que faço. Não importa que traga resultados. A própria realização já é o que almejo.

Os números então me conquistam ainda mais. Transponho a barreira do compreensível. Os números irreais que se constituem a revelação do intangível. Deus está presente. Não compreendo, mas O reconheço. Sonho e sigo o fluxo. E cada vez que mergulho neste horizonte é um novo que se apresenta. Tudo muda, tudo se transforma. E não posso tocar, como gostaria. Mas saber-me pequena diante desta imensidão me traz a certeza de um criador.

“Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio.” É de Heráclito, discípulo de Pitágoras, esta frase que me emociona e me envia ao fascínio do amanhã. Nada será como antes. A ponte que me leva para o real é, para cada um, aquela que o próprio constrói. E o que seria o real? Viver apenas com o que se compreende? Quero mais, muito mais.

Vou aos livros, que segundo Platão, era um professor mudo. Ele valorizava o diálogo, e este estilo deu o tom de sua obra. Mas eles guardam o momento, o pensar de alguém que nos transmite um pouco de si, e um pouco de seu fluxo, que jamais será como aquele.

Reflito, sonho e assim me alimento. É bom caminhar rumo ao tudo, pelos números e sua perfeição. Lá encontro o imutável, porque na plena harmonia encontro Deus.

Nesta chegada e partida do real para o irreal, já não sei o que é um, o que é outro. Sei apenas que me sinto cada vez mais livre nesta viagem que transporta apenas minha alma e a deixa cada vez mais rica do espírito que a alimenta.