Protesto

Protesto

Acordou para mais um dia. Lentamente espreguiçou-se mas não podia deixar de notar o lindo dia que apenas começara e que podia observar de sua janela. Era um vista linda. Parecia-lhe poder, em apenas um olhar, vislumbrar este imenso Brasil tão cheio de mistérios e encantamentos.

Aprendera a amar seu país. Desde pequena sempre ouvira de seu pai, os ensinamentos que faziam de um povo, uma grande comunidade. Segundo ele, todos deviam zelar pelo bem comum. Não importava qual a grandeza do ato, tudo é importante e influi no ambiente, tornando-o mais ou menos adequado.

Não sabia porque, tudo isto vinha ao seu pensamento. E uma ponta de tristeza começou a lhe incomodar. Gostava de participar de movimentos populares e o envolvimento que denota a cidadania sempre a emocionara.

Ultimamente andava meio desanimada. E aquele dia, tão luminoso, veio como para despertá-la deste torpor. Não conseguia aceitar que brasileiros vindos da mesma terra, alimentados de frutos do mesmo solo e embalados pela mesma música podiam se distanciar tanto, por meio da ambição e da valorização do dinheiro.

Acompanhava sempre, muito melancólica, os acontecimentos de corrupção que invadiram o país, como uma onda, como um terremoto. Não era daquelas pessoas muito envolvidas com a política. Gostava de sonhar, escrever e se perder em seu devaneios, mas aqueles atos, vindos de sua gente a revoltava.

Pensava em como poderia participar de um caminho para uma melhoria, de uma chamada aos padrões de ética e moralidade que aprendera em tão tenra idade. O protesto então surgia como a principal saída. Um protesto puro, doído, saído de um coração que confiara.

Mas cada um é especial neste mundo, acreditava. Deus, em sua infinita sabedoria doava a todos. Cada um tem por isso um jeito de protestar. Este era o seu. Pensando em sua alma, doando-a e animando-a. Tinha para com ela uma preocupação singular, sempre tentando absorver de tudo que de bom apreciava. E seu caminho era este. Protestar através do devaneio. Mas preservando a integridade de sua alma. Sentira-a morta, por uns tempos. A desesperança tomara conta dela, quando viu o rumo dos fatos que aconteciam em seu país.

Mas despertara. Não podia crer num mundo sem expectativas. Por enquanto só podia escrever e... Sonhar e era isto que estava fazendo. Chorava pelos que não entendiam o quanto estavam perdendo.

Que linda oportunidade! Estar numa posição de destaque, neste imenso país, e poder fazer alguma coisa pelas pessoas mais necessitadas. E dormir! Dormir como os justos, dormir como um deles. Ter podido partilhar, de forma justa e honesta, ofertando a merecida oportunidade a todos.

Como seria bom, se pudessem, em vez de ficar ambicionando mais e mais, dessem daquilo que ia enriquecê-los de honra e mérito. Mas muito ainda se tem a caminhar. E desejava estar no caminho, sem voltar, sem parar.

Gostaria de poder dizer a estas pessoas, de sua total decepção. Tentaram matar sua alma, mas ela sobreviveu alimentada com esperança de que um dia, este país será partilhado por todos e todos se sentirão respeitados, não por seu dinheiro, mas pela integridade de seus atos.