Tereza

Um dia conheci Tereza. Impressionou-me seu olhar cansado, ausente às vezes. Arrastava seu pesado corpo, por entre os carros que lhe obstruíam a passagem, em seu caminho de todos os dias. Mas nada a fazia desistir. Trazia, na cor cinza de seus olhos, uma vitalidade que lhe impulsionava a cumprir seus compromissos diários.

Tereza tinha quatro filhos. Dois deles já trabalhavam, mas não se comunicavam com ela. Tinham sumido na agrura da vida, exercendo talvez, a tarefa de se fazerem aceitos por este mundo, que nem sempre se apresenta afável. Os outros dois eram pequenos e confiavam plenamente em sua capacidade de protegê-los. Talvez fosse este seu grande trunfo diante da vida.

Mantínhamos uma relação profissional, que não me impedia de partilhar algumas dificuldades que eram evidentes. É estranho... Na verdade, Tereza é daquelas pessoas que encontramos, e de cuja vida só se conhece as tristezas. Mesmo quando sorria, seu sorriso era triste. Era como se me dissesse que a vida estava sendo dura para ela. Era como se me perguntasse se eu nada poderia fazer a respeito.

E eu, por vezes, ficava imóvel, minha atenção voltada para aquela mulher, que não lutava por seu lugar, não aspirava uma liberdade merecida, não sabia nem mesmo o que desejava. Queria, sim, trabalhar para sobreviver. Sentia-me triste quando a via passar, caminhando mecanicamente, passos titubeantes, olhar vazio.

Gostaria de fazer alguma coisa, mas não sabia como. Aquela realidade era muito distante de mim. Não compreendia alguém que jamais havia me falado de seus sonhos, apesar de termos passado muitas horas juntas, no dia a dia de nossas tarefas.

Despertava-me certa aridez no coração. Quando pensava nela, mesmo estando longe, sentia um peso na alma, algo inexplicável. Talvez a culpa de poder sonhar, talvez a constatação de vidas tão diferentes Perguntava-me como seria alguém que nunca fala de devaneios, projetos, que não tem planos, apenas passa os dias, travando uma luta incessante pela sobrevivência.

Acho que foi assim que descobri a riqueza de sonhar. Gostaria de poder ter presenteado Tereza com um pouco de colorido em alguns momentos. Talvez não fosse possível, talvez ela mesma não achasse necessário. Era tudo bem intangível, fugia do meu universo.

Compreendi, com ela, o que é ser uma grande mulher. Tereza muito me ensinou. Nada de ídolos, nada de pessoas que realizam grandes feitos, nada de gente que tem facilidade de fazer amizades, muito menos mulheres vitoriosas, com uma linda história a contar.

Tereza era um exemplo. Era simples e verdadeira. Sem revolta, acordava a cada manhã, sem o brilho de meus olhos, mas com a energia daqueles que sabem que existe algo mais além de tudo isto. E ela seguia sem desistir.

Tereza, para mim, esta sim, é uma heroína.