SÚPLICA DE POBRES E CÃES

Ao romper da aurora, lá iam eles... À noite, certamente de insônia, pelo barulho que vinha de suas barrigas vazias.
Despertados pelo instinto da fome, saem juntos com os cães que perambulam pela rua com o mesmo destino, achar alguma coisa para comer dos latões espalhados, para o lixo da cidade.
Lá começavam o bota e tira, mexe e remexe de todos os lados e lá se repartem do pouco e estragado que encontraram. Há quem diga que é o mundo do cão, mas não, é o mundo de pobres pessoas também. Os cachorros magros, pouco pêlos, com sarnas e muito sujos. Os humanos que dividem aquele espaço, também, magérrimos, sem dentes, desfigurados e muito doentes. Doentes na alma e no corpo. As duas espécies levam a marca do descaso no próprio corpo. Um faz companhia ao outro.
Quando me sento à mesa, lembro de cada um desses, muitas vezes não quero lembrar, mas ao lembrar a comida desce amarga, lembro de alguns que blasfemam pela vida que levam, mas compreendo...
Imagino que Deus também recebe tais blasfêmias como súplicas. Tento racionalizar desta forma para que me diminua a dor da fome dos meus irmãos que sinto ao pensar.
Diante de tudo isso, reflito sobre a oração desses pobres e cães...

Pai nosso que estás no céu, já é Santo.
Santifica-nos por todas as nossas dores,
Perdoa-nos e nós lhe perdoamos...
Só um pouco, do teu Reino,
Apenas o pão, um teto e uma cama.
Se possível atenda a nossa necessidade,
Aqui mesmo e na eternidade.
Se é que nos ama!

 Assim, imaginando a oração destes sofridos, mas no fundo era a minha alma que fazia esse pedido. Já me sentia como eles, absorvi a fome, dor e agora, a súplica.
Não sei se alguém já parou para pensar nesses famintos nos caminhos da vida, mas pensa por um momento quando estiver comendo, a comida torna-se amarga, o sabor não é o mesmo e a garganta parece fechar. O que fazer para esse mundo mudar?
NATIVA
Enviado por NATIVA em 28/02/2010
Reeditado em 28/02/2013
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