@@ NOSSA PÁSCOA @@

Hoje minha Páscoa foi diferente, realmente diferente. Logo cedo fomos com as crianças no Zoológico. A intenção? Liberdade para JUJU!

Esclareço: Juju é uma tartaruga tigre que tenho há anos e há anos vive numa bacia onde vez por outra tiro para que ande pela casa e volte para comer alface, cenoura, tomate, camarão e etc.

Só que nos últimos meses, vinha percebendo que ela estava mais revoltada, sem paciência para ficar ali dentro, sempre querendo sair para andar. Comecei a pensar no mal que estava fazendo a ela, afinal, desde quando uma tartaruga pode viver feliz dentro de uma bacia?

Dei início a um treinamento (não pra ela, mas pra mim), de desapego. Afinal, o que eu queria daquela tartaruga, se nem as crianças se importavam muito com ela?

No fundo eu sabia, porque em alguns momentos pegava-me conversando enquanto dava comida e me sentia bem, sabe por que? Ela só ouvia. Nem um barulho, nem um sinal de quem estaria entediada. Ao contrário, parecia me entender e dar o maior apoio. Esse elo fez com que JUJU virasse minha terapeuta particular. Logo eu que sempre disse que não precisava de terapia estava "usando" a pobre da tartaruga para me ouvir, para me desvencilhar dos desassossegos da vida.

Comecei a vê-la menos, pedindo para as crianças colocarem comida e não eu, assim, aos poucos eu estaria no processo do desapego, da dependência terapêutica que tanto me aproximava dela. Claro que gostava como um animalzinho de estimação, mas eu a usava sim. Tanto que um dia me peguei rindo sozinha pensando na frase de um filme: "everybody use everybody", frase que sempre achei tão profundamente verdadeira no sentido amplo das necessidades humanas.

Bem, mas hoje, domingo de Páscoa, resolvemos que Juju merecia ser livre, viver a vida digna de uma tartaruga. Será que isso quis dizer que me dei alta? Ou ela me deu alta? (Bem, ela não era bem ela, segundo a minha xará do Ibama, Taciana, Juju, que por anos foi minha amiga era "ele" (sempre achei que minhas amizades com o sexo masculino eram mais firmes)).

A entrega foi um pouco complicada, o Zoo nos disse para irmos no Ibama, pois lá eles não poderiam recebê-la. Então ela ficou dentro da mochila num saco com água, pois as crianças queriam ver os outros bichos, e só depois a levamos.

No Ibama ela passará por um processo de adaptação ao meio em que viverá, inclusive irá aprender a buscar o próprio alimento.

Então, quando saímos a deixamos com uma veterinária do Ibama e eu (só por garantia), pedi o telefone para acompanhar essa sua adaptação e quem sabe até o momento da soltura.

Pois é, minha terapeuta precisava da liberdade, assim como eu precisava que se fosse. Ela era ele (que tal Juca?). Mas que importa? Acho que agora nós duas (desculpem, nós dois) estaremos livres enfim do apego que nos unia. A terapia saiu barata pra mim, mas pra Juju custou uma boa parte da sua vida, além de um período de impacto para adaptar-se a vida que deveria ter sido a sua desde sempre, mas que meu egoísmo tirou-lhe.

Essa foi nossa Páscoa, nosso renascimento...

(Taciana Valença)

TACIANA VALENÇA
Enviado por TACIANA VALENÇA em 04/04/2010
Código do texto: T2177449
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