ÚLTIMO FÔLEGO

Aos poucos eu me afastava, deitada naquela prancha. O mar puxava e as pessoas, com as quais estava, iam ficando um pouco mais pra trás... Não entendia. Por que o mar me puxava mais do que a elas? Eu tentava falar, conversar, entender o que diziam, até mesmo ajudar....Mas o mar me puxava e elas se distanciavam de mim... Não saberia dizer exatamente quem eram, as pessoas sempre foram incógnitas em minha vida, até mesmo as mais íntimas. A distância já era grande e eu não mais conseguia ouví-las. Embaralhavam-se em minha mente todas as conversas, os sentimentos, os laços, os pensamentos.... Quem seriam? Por que estariam em minha vida? Acaso? Destino? E quanto mais me distanciava, menos entendia. Foi então que uma onda enorme veio em minha direção. Apavorada mergulhei fundo, o mais fundo que pude. Quando levantei percebi a onda passando por cima de todos eles. Meu Deus, não conseguia ver mais ninguém! Senti medo, frio, vazio... Olhei novamente. Nada. Todos haviam sido levados...Estava só, cercada entre horizontes e água. Quis chorar e as lágrimas não vinham... Estranho. Por que choraria? Por estar só ou por ter perdido a todos? Parecia vazia. Nenhum sentimento, nenhum lamento, nenhuma recordação que merecesse mais atenção que o baruho dos ventos... Talvez estivesse louca. É isso, loucos perdem completamente a noção do que são, de quem foram. Será? Eu, completamente perdida na imensidão do mar e tão vazia que nem conseguia pensar. De repente era bom estar assim. VAZIA. Nada dentro, nenhum sentimento, completamente fria. Um alívio quem sabe. Já não me incomodava com nada, nem mesmo em estar só, perdida num oceano, sem direção, com a morte me esperando...Mas nem isso me assustava... Olhei novamente o horizonte e uma onda imensa se formava. Crescia de tal forma que parecia não ter fim. E erguendo-se mais e mais veio em minha direção. "É o fim", pensei. Tomei fôlego e mergulhei, como o último mergulho num lugar que sempre fora por mim admirado: o MAR. Não mais lutaria. Iria morrer na imensidão dos seus mistérios. Ali, sozinha, ele e eu, completamente vazia.... Mergulhei tão fundo que não conseguia mais voltar. Nadava, nadava e não chegava...quanto mais subia mais parecia não ter fim. "Acabou". Percebi então que por milagre não precisava de ar. Estava ali há tanto tempo sem respirar! Foi então que tudo escureceu. "Será que anoiteceu?" Não sei, mas estava ficando confortável. A temperatura da água, o escurinho, a mente vazia....Estava gostoso, tranquilo...Mas onde era que eu estava? Devagar encolhia-me num aconchego. Vazia. Sem medos.

(Taciana Valença)

TACIANA VALENÇA
Enviado por TACIANA VALENÇA em 17/05/2010
Reeditado em 01/08/2017
Código do texto: T2263136
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