O Último Socialista

Quando deve morrer um homem. Na sua dor de pensar existir quando não existe. Um homem morre definitivamente quando é enterrado no chão ainda em vida. Então é o mundo um grande cemitério. Estamos todos já mortos. Quais são seus sonhos de verdade. Sonhos, não conhecem o significado da palavra sonhos. É tudo aquilo almejado de dentro para fora e não tem preço, é genuíno. Houve dias e tempos que os homens sonhavam em ser livres como só os pássaros do céu são. Hoje, o que sonham os homens a não ser com os desejos pervertidos, doutrinados por um sistema que ilude.

Consumistas ao extremo, nunca o ser. O ser é inexistente para a modernidade. É morto. Como podem querer sonhar, conhecer o bem, mal amam os seus seres próximos. Sabem o tempo é curto e mesmo assim lutam para possuir coisas fúteis e que deixaram rodeando quando partirem pois seus caixões não possuem gaveta. O corpo não deveria morrer, a cada fase da vida, um sentimento ruim de cada ser humano deveria desaparecer, secar como uma folha. E da decomposição natural deveria germinar tudo o que esquecemos.

O poder do sorriso, a força do abraço, a alegria de apenas existir de novo no dia seguinte, pois é mais um dia inteiro para existir. Será que seriamos seres humanos piores do que somos, se fossemos capazes de mudar atitudes para gerar mudanças. Esquecer todo o peso de tantas obrigações e viver um pouco. Viver antes que o tiro de um assassino, o carro de um bêbado, a moto de um apresado acabem com a vida. Seriamos seres humanos tão melhores se tivéssemos a capacidade de pensar nos outros.

Não unicamente se emocionar com a realidade angustiante dos que sofrem, mais da maneira possível, da única capaz, resgatar a impaciência de querer ter tanto, para aparentar tanto a multidão dos fúteis, que vendem a fama, riqueza, prosperidade como um bem maior na terra. Tudo isso teria fim se deixássemos de ser individualistas. O corpo estendido no chão passaria a ser um de nós e não carne e seria considerado uma perda e não uma fria estatística. A fome doeria em quem pode comer e assim provocaria um choque de realidade em quem é alimentado e pode pensar e mudar algo sem se preocupar com o buraco latente no estômago. Um novo homem teria que nascer no lugar do homem morto. Somos chaves perdidas longe de suas portas quando não sentimos a dor do próximo.

A sua capacidade de pensar, de reagir, onde ficaram. O brilho de seus olhos onde perderam. Esperam viver num céu breve e fazem do único que conhecem de verdade um inferno. Como merecerão morar em outro, quando não sabem morar neste. Aqui deveria ser o paraíso e todas as culturas religiosas deveriam lutar para salvar e proteger cada anjo faminto desse paraíso, cada ser dolorido e doente. Que merecimento um ser humano com nossas atitudes pode esperar se não é capaz de proteger com vontade e amor o paraíso visto com seus olhos. A beleza do mar, o doce colorido do céu, o verde das florestas, a delicadeza das flores, o brilho mágico das estrelas. O outro. Um homem deve morrer. Quando o muro de seus preconceitos o impedirem de enxergar o outro lado. Um homem morre quando esta vivo, então por que morremos nós.