Saudades do Futuro

Muitas vezes é bom ter saudades do passado. É maravilhoso, sem dúvida, recordar um passado bom. Mas é melhor ainda ter “saudades do futuro”, pois poderemos antecipar a ausência de violência do ser humano; a ausência das fronteiras que separam os países; a ausência das prisões infectas e imorais; a ausência da ignorância; a ausência do medo do seu semelhante; a ausência do egocentrismo; a ausência do lucro; a ausência da fome; a ausência do preconceito; a ausência da doença física e mental; a ausência do orgulho e da vaidade.

Ah! como tenho saudades desse tempo que virá, não em sonho, mas que efetivamente acontecerá concretamente.

Quase que posso enxergar um certo sorriso de desdém ou de incredulidade do leitor que está lendo essas linhas.

Então, o leitor acha impossível esse avanço? E a história da humanidade já não foi bem pior? Por que desanimar e contar só histórias de horror, de sangue e de violência? Não, recuso-me a me fixar no lado triste do ser humano. E as conquistas, com todas as dificuldades possíveis, que já alcançamos, vamos esquecê-las? Saídos recentemente das cavernas, perambulando por terras inóspitas, começamos a mergulhar na vastidão do universo, descobrindo estrelas e novos mundos. E não quero nem falar nas pessoas que se dedicam ao próximo de corpo e alma, nas áreas mais miseráveis da terra. Não são, ainda, a maioria, é certo, mas formam legiões! É muita gente na senda do bem! Então? Repito, então? Não se pode falar do bem? É proibido ter saudades do tempo bom que virá? É preciso encher páginas e páginas dos avanços nossos, não só tecnológicos (e que são impressionantes), mas da prodigiosa inteligência do homem e do progresso ético também, um pouco mais lento, mais progride ... Até bem pouco tempo, segundo li, os religiosos de séculos primitivos não tinham consciência de que a ética tinha que estar vinculada à religião. Nesta aurora da consciência, os movimentos de defesa do meio ambiente, dos animais e o respeito pelo outro despontam fortemente e é por isso que começo a ter saudades desse futuro.

- Belo discurso, cara! – fiquei todo arrepiado.

- Pois é, em resumo, a luta maior é pra acabar com o sofrimento, mas não só dos humanos, de todas as espécies que vivem no planeta.

- Isso seria possível?

- Claro, veja um só e belo exemplo dos vegetarianos, ao tomarem conhecimento da matança cruel dos animais, se recusam a comer carne, deixaram, vamos dizer assim, de ser “canibais”. Claro, é bom que se diga, respeitam a opção dos que ainda necessitam comer carne animal, pois essa prática é milenar e a mudança é difícil. Sabem que não há superioridade ou inferioridade no fato de comer ou não carne animal. Mas acho que essa turminha de vegetarianos colocou um pé neste futuro que estou vislumbrando.

- É, você me convenceu, pelo menos para mim, diante do sofrimento, não há quem não recue. Estou morrendo de saudades do futuro!