Crônica II: Mochilando no Exterior

Mochilando no Exterior

Ana Esther

Por maior e mais bonito que o Brasil seja, uma alma de viajante sempre se entusiasma com a possibilidade de conhecer outras terras. Pelo menos este é o meu caso. Em viagem de excursão à Foz do Iguaçu em 1979, junto com minha mãe e uma amiguinha minha, tive a inesquecível oportunidade de ir ao exterior! E de cara dois países de uma só vez: Argentina e Paraguai! Não cabia em mim mesma de tanto contentamento. Sabia do fundo do coração que seria a primeira de muitas viagens.

Com tanto ânimo, tudo era maravilha -até os sacrifícios, as dificuldades, os desconfortos. Sentimento típico de mochileiros. O que interessava era a emoção de ver, com os meus próprios olhos, o Marco das Três Fronteiras. Ali, na minha frente três países, três bandeiras diferentes, até o idioma seria outro. Em minha vivência de adolescente, todos ‘hermanos’ de verdade. O Rio Paraná encantador unindo, ou separando, conforme o ponto de vista, os três países. Eu que já havia até desenhado na escola este mapa vibrei ao ser testemunha do encontro geográfico.

Lembro-me que cruzamos o rio para Puerto Iguazu na Argentina em um barquinho muito simples, talvez altamente perigoso, mas que para mim significava grandes aventuras. Fomos recebidos em solo estrangeiro (!!!) por militares argentinos que gentilmente nos auxiliavam a descer do barquinho colocando suas espingardas ou metralhadoras (perdoem-me a ignorância em reconhecer armas) em nossos ombros para facilitar o desembarque.

Nosso passeio à Argentina constituiu-se apenas em olharmos os arredores e, é claro, termos a experiência única de observar o Brasil com outros olhos. Olhei pela primeira vez o meu país pelo lado de fora. Indescritível, inquietante. Sentamos em um boteco rústico, mas acolhedor. A música do radinho de pilha era, naturalmente, Roberto Carlos! Surpresa das mais gratas.

Já a visita ao Paraguai teve tons de ‘laços de família’ uma vez que lembramos de uma tatara-tatara vó índia paraguaia, nosso orgulho de faca na bota. Além disso, minha mãe recebeu a primeira ‘cantada’ indireta para mim! Um rapaz olhou para ela e disse em espanhol que adoraria que ela fosse a sogra dele. Depois de tamanho elogio, o Paraguai virou uma das mais gratas recordações da viagem. Os colegas da excursão adoraram ir às compras. Nós, contudo, verdadeiras viajantes mochileiras não tínhamos tempo, dinheiro nem disposição para compras. Preferimos nos concentrar em admirar aquele mercadão aberto que era (não sei hoje) a pequena cidade de Puerto Presidente Strossner com sua terra avermelhada.

Mochileiros em excursão não têm muita oportunidade de interagir, como gostariam, com as riquezas locais. Mas já é melhor do que nada. Minha primeira viagem ao exterior foi curta e rápida. Porém deixou lembranças duradouras e uma coceira enorme por novas viagens a outras fronteiras.

*Escrevi esta minha crônica em 14/8/2007.