O Peixe, o Rio e o Candidato

Paraibuna significa rio de águas escuras, esse é o nome do rio que corta nossa cidade, Juiz de Fora. Mas se um dia as águas desse rio foram escuras devido ao húmus levado pelas chuvas hoje infelizmente elas são escuras devido aos anos de esgotos doméstico e industrial lançados todos os dias em seu curso. E uma imagem muito triste de se ver, ainda mais na época de seca, quando o leito do rio fica aparente tamanha a quantidade de bancos de areia.

Mas nem tudo esta perdido, ainda existe vida naquelas águas, nos últimos anos famílias de capivaras percorrem o rio de cima a baixo quebrando a paisagem urbana da cidade, há também um incontável número de aves como garças, marrecos e saracuras. Esses animais, não sei como, sobrevivem ao mau cheiro e aos metais pesados que dominam o manancial.

E foi ontem, domingo, quando passava pela maior ponte da cidade que tive a prova definitiva de que a vida não pode ser vencida por maiores que sejam nossos cegos esforços para isso. Em uma das margens do rio, no meio de sacolas plásticas e garrafas pet eu o vi: um peixe! Tive que parar, quase trombei com outros pedestres, alguns dos quais olharam na mesma direção que eu e também pararam para observar, sim era um belo peixe branco de uns trinta centímetros nadando calmamente entre os dejetos. Não sei de que espécie era em matéria de peixe eu não sou bom, mas aquela imagem me encheu de esperança.

Será que a poluição no rio estava finalmente cedendo? Será que as pessoas estavam se conscientizando de que o rio não é uma lixeira?

Triste ilusão.

Um pouco mais tarde nesse mesmo domingo, não muito distante dali rio acima, vi o pior exemplo de poluição e desrespeito ao Rio Paraibuna: em uma pequena canoa, que flutuava não sei como, um barqueiro usando um pedaço de pau como remo descia o rio exibindo uma placa com a propaganda de certo candidato, cujo nome não vem ao caso.

Não culpo o barqueiro, ele achou um modo de ganhar um dinheiro que talvez necessite, de outro forma não enfrentaria o sol quente, o esforço físico e o fedor.

Mas me lembrei de como o Paraibuna é sempre usado com fins eleitoreiros, de todas as promessas feitas e de todo o dinheiro gasto em nome de sua recuperação, planos ambiciosos de candidatos como aquele que nunca saíram do papel. Agora novamente os sanguessugas encontraram uma nova maneira de usar o rio.

Temi pelo peixe, ele que mostrava força ao enfrentar toda espécie de sujeira criada pelo homem teria força para sobreviver ao próprio homem?

Aquele peixe tinha seu habitat invadido pela pior criatura existente, o pior representante da espécie humana, um tipo de ser que só depreda o meio onde vive que pensa só em si e que não poupa nem seus iguais. E cabe a nós, os “iguais”, impedir que essa depredação continue, cabe a nós garantir águas calmas para esse e outros peixes ter onde nadar.

Luciano Silva Vieira
Enviado por Luciano Silva Vieira em 23/08/2010
Reeditado em 17/08/2011
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