Crônica IV: Amizades Duradouras

Amizades Duradouras

Ana Esther

Férias de verão 1977, janeiro no Rio de Janeiro, áureos tempos! Minha mãe e uma prima alugaram um apê no bairro de Copacabana, Posto 6. Ali ficava o nosso quartel general e de onde partíamos para desbravar o ‘nosso’ Rio de Janeiro. Quantos encantos podíamos ver nas inúmeras ‘viagens’ de ônibus de um bairro a outro mas visitar o Cristo Redentor era a ordem daquele dia.

Entre subir a pé até o topo do Corcovado e pegar um trenzinho optamos pelo trem pois a prima mais idosa não agüentaria. Havia muitos turistas alegres com a perspectiva da visita ao Cristo. Sentamos todos nos bancos compridos do trenzinho. Ao meu lado sentou uma menina mais ou menos da minha idade com a família. Lembro-me que adorei ver as árvores pelo percurso mas também não conseguia tirar os olhos dos biscoitinhos que a menina comia. A mãe dela percebeu e disse para a filha me oferecer um. Vibrei, peguei o biscoito e nós já começamos a conversar.

A chegada de trenzinho foi divertida. Descemos todos e ficamos amontoados numa espécie de antecâmara para as escadarias de acesso ao Cristo. Antes de sermos liberados, porém, fomos avisados que uma foto do grupo estava sendo tirada e quem a quisesse poderia comprá-la na hora da descida. Uma gentileza pois naquela época não era todo mundo que tinha máquina fotográfica, incrível não é.

Subimos as escadarias loucas para ver a famosa estátua dos cartões postais. Minha mãe e a nossa prima. Eu e a minha nova amiga. Lembro-me que era um dia lindo mas com bastante nuvens. Quando me deparei com o Cristo Redentor, gigantesco, olhando da sua base ele parecia não ter fim, pelo menos para mim. A vista lá do alto era de tirar o fôlego. E eu precisava fazer tudo ao mesmo tempo: olhar a estátua para lembrar-me dela até morrer, admirar aquela paisagem única, dar-me conta do privilégio de ali estar por uns minutos inesquecíveis e ainda por cima travar conhecimento com a amiga que vinha do interior conhecer sua capital. Eu estava exultante, meu coração de criança batia acelerado. O Rio de Janeiro era realmente toda aquela maravilha das canções. Fotos, comentários e a paisagem envolta em uma bruma fina. O mar recortando a borda da cidade, até parecia de propósito para o nosso deleite. Eu queria ficar ali para sempre.

Viagens servem também para isto. A gente sente agudamente a realidade da ‘hora de ir embora’. Se não aproveitamos naquele momento, o momento passou. Nosso momento no Corcovado, sob o eterno abraço do Cristo Redentor estava chegando ao fim. Nem tanto! Minha amiguinha e eu trocamos endereços e prometemos escrever cartas uma para a outra sempre. Ainda tivemos a decida no trenzinho para os últimos papos ao vivo. Ah, e em preto&branco, a foto do grupo. Passados trinta anos... imaginem só, continuamos as amigas do Corcovado Por correspondência!

*Esta minha crônica da Mochileira Tupiniquim foi escrita em 20/08/2007. Ana Esther (Balbão Pithan)