Quem quer ser Jamal?

Compromisso poucas vezes não honrado, pois ainda que fosse previsível não deixava de ser emocionante. Mesmo sendo previsível – ou talvez justamente por isso – não deixava de nos aliviar: no fim o Bem triunfa, o herói casa-se com a “mocinha” e são felizes para sempre... Simples assim.

A esperança era reabastecida semanalmente porque havia um norte, um horizonte, um caminho conhecido e acessível para a felicidade.

Mas, então, eis que o ingênuo, puro e virtuoso deixou de existir nesse Homem a que nada mais espera e deseja, pois a Felicidade deixou de ser absoluta e sequer conhecida e tentada. Afinal, o que seria a mesma? Mistérios Existencialistas? Mistérios Hedonistas? Maior probabilidade para o segundo, pois eis que a Publicidade chegou para ficar e, filosoficamente, sabem os donos do Mundo que o que há de perpétuo é só o Movimento e nesse roldão não se pode deixar um Bem parado, logo a Felicidade é tão mutável quanto as Modas...

- os seios daquela garota são de verdade?

- vá buscá-la.

- pule! Mais rápido! Vamos! Mais rápido!

- Vem, vamos!

Sai o “pimentão recheado” e entra o “bolinho de peixe”, todavia os comensais são os mesmos: exploração, jogo, prostituição, poder, eleição, propina, suborno, corrupção. O Haiti é aqui e ali. Homens são iguais, não importa o tamanho de seus olhos.

O belo casal, entre um e outro orgasmo discute a “estética cinematográfica”, alguns conceitos filosóficos (?), falam da vida, do amor, da solidão, da carência, do desamparo e das “estruturas sociais e políticas”. Refeitos transam novamente, pois se solução não há, então que se busque o “orgasmo libertador”. O Haiti também é ali. Indigência intelectual mal disfarçada em profundidade da “nouvelle vague”.

Jovens do norte proclamam-se “vencedores” e desprezam os “perdedores”. Tomam litros de Bourbon, cheiram Cocaína, fumam Maconha e tentam apagar o tédio transando entre si e matando-se entre si. Por inércia, matam também a Esperança, pois nada mais existe. Exceto a música que fecha o filme. Antiga, linda e que me remete há vinte anos. Ao tempo em que eu ainda sonhava ser Jamal...

Baseado no filme indiano “Quem quer ser um milionário?” e na poética de Caetano Veloso e Gilberto Gil.