Ar-rááá!!!

Estudar é um trabalho tão importante ou até mais que qualquer outro. Quantas vezes já respondemos que nossa profissão era estudante. E se é um trabalho, então também dá cansaço. E como cansa. Eu acredito que estudar cansa mais do que o trabalho braçal, aquele em que a gente tem que pegar no pesado.

Daí que às vezes, naqueles momentos de angústia porque os trabalhos escolares não andam, a gente se irrita e acaba dizendo que a turma está com moleza. E que a vida não tem lugar para os mais fracos, para os desanimados e coisas assim. Eu até já escrevi uma crônica sobre esse assunto. O título é “A Medalha de Bronze”. Nesse texto eu defendo a tese de que não há lugar para terceiros. É ouro ou prata. O resto é o resto. Mas... A realidade não é bem assim. Há lugar para todos. O que não existe é a igualdade. Nós somos um mundo de gente diferente, gente desigual. Mas todos nós temos os nossos talentos. E na hora do vamos ver nós botamos tudo para fora. E as coisas acontecem.

Durante os dias do trabalho intelectual em que havia a necessidade de se ler, pesquisar, fichar e coisas do gênero, nós víamos que alguns faziam essas atividades com prazer, com entusiasmo. Eram daqueles que nasceram para isso. Que bom que tem gente assim, que gosta de ler, de escrever... Já imaginou se ninguém tivesse esse talento! Nós teríamos um mundo sem livros e, como diria o mineiro: seria ruim de mais, “sô”! Mas, como eu disse, ainda bem que não é assim.

Então eu ficava observando os leitores. Um liam de verdade; outros folheavam, olhando apenas as “figuras”. E eu ficava observando e pensando que estavam só na enrola. Mas, de vez em quando alguém soltava: “olha isso aqui, veio!”

Isso, para mim era o “heureca” do inventor e do pensador. É aquele “Ar-rááá!!!” das descobertas excepcionais. O estalo mágico. E esses insights sempre me chamaram a atenção e me fizeram ver que, mesmo aqueles que não estavam lendo e que estavam apenas passando as páginas para lá e para cá, também estavam redescobrindo alguma coisa do universo descoberto que se encaixava de alguma forma em seus projetos para a Feira de Ciências.

Nossos alunos não eram preguiçosos. Alguns não gostam de ler, mas gostam de criar, de inventar, de descobrir coisas novas. Mas nem por isso deixam de ler. Sabem que é necessário e também lêem, embora o mínimo necessário.

Mas tudo bem. Se o requisito mínimo é atendido, então está beleza. Porque o máximo é para bem poucos, ou talvez para nenhum. Acho que o máximo é só para Deus mesmo. Nós, seres humanos, sempre seremos limitados em nossas conquistas. Seremos medianos.

Então a fase dos textos passou e veio a fase do serrote, do martelo, do bate-bate, do serra-serra, da preparação dos painéis. Menino, aí a coisa mudou de figura. Não havia muitos martelos. Então qualquer pedaço de pau servia para martelar. Até um martelo de bife eu vi nas mãos de um batedor de pregos. Não havia muitas estruturas para a montagem dos painéis. A Coordenação fez as contas. Somou os grupos, dividiu as estruturas e deu uma fração. O monte de estruturas era insuficiente para se dar pelo menos uma para cada um dos mais de cinquenta grupos de trabalho. Isso significava que alguns grupos teriam que se virar, pedir emprestado ou montar a sua própria estrutura. Tinha a questão do pessoal da zona rural, o pessoal da tarde que precisava ter suas estruturas garantidas, porque eles não teriam tempo para correr atrás.

Mas isso tudo não foi problema. Se não tinha estrutura, então vamos construir esses painéis. Mas também não tinha madeira. E aí tinha que achar a madeira... Não deu outra. Logo, logo a Dona Maria do Portão chegou junto à Coordenação para reclamar que ela tinha dado uma bronca em alguns meninos que estavam querendo desmanchar as barracas da feirinha, em frente da escola. E isso ela não iria permitir. A professora Adjair fez coro com Dona Maria: “Mas é claro que não pode. Nós não mandamos ninguém ir pegar madeira fora da escola”. E a Dona Maria explica: Eles diziam que estava tudo velho, caindo os pedaços, mas eu lhes disse que era velho, mas era nosso. E não deixei mesmo. Ora, sô!

Esses contratempos são previsíveis. Mas retomada a ordem, o bate-bate recomeçou. As estruturas eram os painéis dos anos anteriores e muitas estavam quebradas. Mas podiam ser remendadas. E isso foi acontecendo. Emenda um pedaço aqui, coloca uma perna ali, um pé acolá e os painéis foram ficando prontos. Aí eles encaparam com esses papéis bonitos e tudo ficou uma beleza. Maravilhosos! Esses meninos podem não gostar de leituras, mas são ótimos quebra-galhos.

E a coisa é assim mesmo. Nossos alunos são nota dez. Eles inventam. Eles criam. Eles constroem. Eles fazem o milagre da transformação das teorias planejadas em coisas concretas de se ver com os olhos cheios de prazer.

Foi isso que eu vi. E é isso que eu estou mostrando aqui.

Que os pais de nossos alunos sintam orgulho de seus filhos, porque eles são bons demais. São trabalhadores que ajudarão a construir um Brasil melhor para todos nós.

Parabéns a todos. E agora, já-já poderão descansar porque ano que vem tem mais e eu quero ver todo mundo no maior gás.