Como as estrelas no céu, cada criança é especial.

Eu sei que um filme é simplesmente um filme, uma história de ficção, fora da realidade, etecétera e etecétera. Todavia, uma história que toca fundo na alma, emociona e provoca muitas lágrimas, merece um comentário e até mesmo uma crônica. E por que não?

Como as estrelas no céu, cada criança é especial; é um filme indiano que mexeu com as minhas emoções.

Relata a história de um menino de mais ou menos nove anos de idade que enfrenta sérias dificuldades na escola devido ao problema da dislexia.

Seus professores na escola desconhecem esse fato e seus pais ignoram totalmente o assunto. Assim, a criança sofre um verdadeiro tormento em sala de aula, pois não consegue acompanhar seus colegas de classe nas lições dadas pelos mestres.

Para “esconder” sua “fraqueza” ele mascara seu sofrimento e frustração na rebeldia e travessura. Vive em um mundo de sonhos para fugir da dureza do mundo escolar que ele tenta com todas as forças, porém não consegue compreender.

A pintura é sua paixão. Faz desenhos lindos e extravasa toda a sua criatividade nessa maravilhosa tarefa.

Entretanto, na escola já repetiu a terceira série e não sabe ler e nem escrever. As notas são péssimas e com enorme freqüência é punido por indisciplina. Quando os pais dele descobrem que ele faltou um dia de aula e convenceu o irmão mais velho a falsificar um documento para justificar a falta, a situação torna-se crítica. Na escola, os pais do garoto ficam sabendo da possibilidade do menino ser expulso da unidade escolar.

O pai, em um gesto extremo resolve colocar a criança em um colégio interno. O menino implora e chora para não ir, todavia não é ouvido.

No colégio interno a criança passa por um verdadeiro martírio. A educação segue as antigas normas da escola tradicional e a temível palmatória é um dos recursos utilizados pelos professores.

O garoto sofre constantemente punições.

Isolado do amor da família, com a moral rebaixada pelos professores, o menino começa a ficar desequilibrado psicologicamente e emocionalmente. Não fala com mais ninguém e recusa-se a fazer o que mais amava: Pintar. Refugia-se em um mundo só seu: Um mundo de dor, de tristeza e de falta de vontade de viver.

Ainda bem que a maioria dos filmes nos oferece final feliz e esse não fugiu à regra.

O professor de artes ranzinza e rabugento mudou-se para a Austrália e um novo professor foi contratado.

Esse novo professor, bem diferente dos demais professores do colégio interno, primava pela liberdade de expressão de seus alunos e contagiava todos com a sua alegria.

O garoto calado e de cabeça baixa que deixava sempre em branco a folha de desenho lhe chamou a atenção. Esse professor procurou saber os motivos do menino não apreciar as suas aulas de arte.

Conversando com o colega que sentava ao lado do menino, descobriu a grande verdade: A criança possuía dislexia. Coincidência ou não, esse professor também sofria do mesmo mal.

A partir daí começou a luta do professor para salvar o garoto que visivelmente estava enlouquecendo.

Não vou contar o fim, pois pode ser que alguém se interesse em assisti-lo e perderá a graça.

O que posso dizer é que a ficção traz uma triste realidade. Vivemos em um mundo de competições, em que ser o melhor é que merece destaque.

A maioria dos pais não quer e não aceita de seus filhos menos que notas ótimas nas escolas.

A maioria dos professores vive com as salas de aula repleta de alunos e não consegue notar se aquele aluno que não aprende tem alguma dificuldade extra.

Culpa dos pais de quererem o melhor para os seus filhos e, por causa disso, às vezes não enxergarem um problema óbvio de dificuldade de aprendizagem?

Culpa dos professores por ficarem zonzos devido à tripla jornada de trabalho que têm que enfrentar e, por isso, aquele aluno barulhento ou distante que não aprende não quer é nada com a vida?

Penso que pais e professores podem ter uma parcela de culpa, cada qual com a sua fatia maior ou menor.

Contudo, considero que a grande e enorme fatia de culpa fica por conta dos valores da nossa sociedade atual.

Uma sociedade que exige perfeição intelectual e beleza física. Que exclui sem piedade qualquer um que não passe no crivo de sua “seleção natural”.

Uma sociedade que não sabe reconhecer a importância e o valor de um professor. Deixa-o recebendo salários irrisórios e obrigando-o a matar-se de trabalhar, sem poder sequer olhar um pouco mais para cada aluno.

O filme termina com um final feliz.

E a vida real?

A vida real enlouquece ou marginaliza muitas crianças especiais. A maioria não tem a graça de receber a ajuda de uma mão acolhedora e amiga.

Como as estrelas no céu, toda criança é especial. Porque o preconceito e a soberba continua a apagar o brilho que toda criança possui?

Convido todos a assistir esse filme e a refletir sobre essa dolorosa e triste realidade.

PS: Dedico essa crônica à amiga Erenilda, responsável por eu ter tido o prazer de conhecer o filme e consequentemente escrito esse texto.