Crônica IX - Socorro! Socorro!

Socorro! Socorro!

Ana Esther

Barreira de Corais, Austrália. Lá do outro lado do planeta a Mochileira Tupiniquim continua seu passeio com a inseparável mochila nas costas e uma enorme curiosidade pelas belezas do mundo na cabeça... e no coração. E as belezas da Austrália são infindáveis. Desta vez o destino estava bem no meio do Oceano Pacífico onde a Mochileira foi fazer ‘turismo submarino’. Até aí tudo bem, não fosse um pequeníssimo detalhe: ela não sabia nadar!

Nem nadar, nem mergulhar... Mas ela não poderia deixar de ver com seus próprios olhos essa preciosidade construída ao longo de milhões de anos pela natureza e que devido à ganância sustentada pela ignorância imperante em nossos dias está ameaçada de total extinção. Antes que a poluição dos mares termine de matar os corais a Mochileira Tupiniquim foi lá conferir de perto tão impressionante tesouro. Para tal, ela muniu-se de uma câmera subaquática descartável com 27 poses a sua disposição para registrar as maravilhas.

A lancha partiria da Marlin Marina em Cairns (Estado de Queensland) pela manhã em direção a Michaelmas Cay, uma ilhota de coral e areia, onde ancoraria para que os turistas deslumbrados pudessem mergulhar e apreciar os corais e seus fascinantes habitantes. A agência de turismo oferecia 15 minutos de teste com o equipamento de mergulho na beira da ilhota para que os mais hesitantes se decidissem pelo aluguel, ou não. Após olhar encantada os pássaros que faziam seus ninhos naquelas areias fininhas e branquinhas, a Mochileira resolveu testar um mergulho com tubo de oxigênio para aproveitar a oportunidade rara mas sabia que não alugaria nada pois além de caro era muito arriscado para quem não fazia a menor ideia de profundidade, de regras de respiração...

A sensação de mergulhar pela primeira vez no meio do Oceano Pacífico e ver os corais já a deixava sem respiração de tanta emoção! Conchas, plantas, peixinhos... e mergulhando vamos longe, perdemos a noção do tempo embriagados que ficamos diante de um mundo tão insólito quanto extasiante. Os 15 minutos diluíram-se e a Mochileira voltou à tona. Para sua alegria, estava incluído no passeio o tubo de Snorkel, para mergulhar na superfície, e então era só retornar para a lancha que ficara ancorada a um quilômetro da ilhota... Como retornar? O instrutor de mergulho que orientava os mergulhadores respondeu com naturalidade que era só nadar até lá...

Simples, nadar um quilômetro até a lancha. Mas para quem não sabe nadar aprender em alto mar não é assim tão fácil. Contudo, não querendo passar vergonha, a Mochileira ignorou o perigo e tentou nadar ‘cachorrinho’ (aquele nado que qualquer bebê conhece). Após algumas desesperadas braçadas a sedentária Mochileira já não tinha mais forças. Parou, tentou boiar e olhou para todos os lados. Só o oceano e os mergulhadores ao longe... muito longe.

‘Help! Help!’ Em um pânico repentino, a Mochileira desatou a gritar alucinada e teve a presença de espírito de gritar em inglês para que a entendessem. Conseguiu abanar com os dois braços bem levantados acima d’água na tentativa de que alguém a enxergasse. Continuava gritando por socorro, socorro, até que percebeu um rapaz de outro barco ancorado não muito distante abanando para ela. O rapaz atirou-se ao mar e começou a nadar ao seu encontro. E o herói nadador encontrou a Mochileira agarrada a um coral, esfolando-se toda em sua superfície dura e áspera, única tábua de salvação que encontrara.

O Príncipe Nemo salvou a Mochileira Tupiniquim de uma morte no mínimo ridícula. Ele chamou por socorro e um bote veio buscá-los e os levaram até a lancha da Mochileira. Ela mal teve tempo de agradecer o seu salvador pois ele, ao certificar-se de que tudo estava bem, despediu-se e retornou imediatamente para o iate que deixara abandonado no mar. Ela devia sua VIDA a um homem totalmente desconhecido o qual nunca mais tornaria a ver...

Nem um aperto como esse, no entanto, impediu-a de voltar a mergulhar com o Snorkel em Hastings Reef e encher os olhos com a visão arrebatadora dos mil e um peixes coloridos, listados, curiosos, fujões... e os corais!!! Ah, sim, após quase haver morrido a Mochileira não se esqueceu de registrar aquilo tudo para a posteridade com a sua poderosa câmera subaquática descartável. Para coroar o dia, na viagem de duas horas e meia de retorno a Cairns foi oferecido um suntuoso almoço ao balanço das ondas do Pacífico... nem tão pacífico assim naquele horário. Resultado, depois de visões celestiais, a Mochileira passou por um enjoo marítimo dos infernos! Socorro! Socorro!

*Lembrando que só pude escrever esta crônica graças ao meu Príncipe Nemo australiano!!! Fica aqui o meu agradecimento a ele esteja onde estiver!