Crônica X - Cangurus à Meia-noite

Cangurus à Meia-noite!

Mochileira Tupiniquim

(Ana Esther)

Cheia de energias ecumênicas a Mochileira Tupiniquim resolveu visitar um templo Budista em Wollongong, próximo a Sydney onde ela estava morando. Combinou de encontrar-se lá com uma colega de curso chinesa, a Stela, nome ocidental que a amiga adotara. Enquanto a amiga não chegava passeou pelos jardins do templo, admirou as várias estátuas de Buda, viu um crematório pela primeira vez em sua vida e depois almoçou.

Bem no final do almoço a Stela chegou acompanhada de mais três outros colegas, todos libaneses. Papo vem, papo vai o animado grupo resolveu curtir a tarde de sábado numa praia famosa não apenas pela beleza natural mas principalmente por abrigar cangurus selvagens. Falou em canguru a Mochileira Tupiniquim já se entusiasmou! Apaixonara-se pelos marsupiais que vira em vários parques e no Taronga Zoo em Sydney... mas jamais até então havia visto algum em seu habitat natural.

Lá se tocaram os cinco no carro... bem, nem tão velho assim, do Sam. Pararam em uma praia para admirar as ondas que batiam no rochedo e subiam através de um buraco fazendo um esguicho fascinante. Fotos, fotos, fotos. Já eram 4 horas da tarde e a tal praia dos cangurus ainda ficava meio longe. Bom mas já que haviam chegado até ali não podiam desistir... Vai, vai, vai, até que encontraram a entrada do parque que dava acesso à praia. Até que enfim chegaram!

O sol já começava a pensar em se esconder no mar lá longe no horizonte. Nada tímidos foram os cangurus selvagens que se aproximaram do grupo internacional em busca de alimentos. Os rapazes haviam trazido alguns sacos de salgadinhos e foi a única comida oferecida aos pobres cangurus. Eles pareciam já conhecer os tais salgadinhos pois com suas patinhas delicadas, mortais se assim o desejassem, pediam mais e mais até que não sobrou mais nada a oferecer. A alegria da Mochileira Tupiniquim em afagar livremente os cangurus à beira da praia era tanta que ela nem percebeu que a noite caíra. Só perceberam quando os cangurus, sem comida e sem luz, deram no pé abandonando aqueles turistas ingênuos.

Ingênuos? Sim, os rapazes haviam acendido os faróis do carro para iluminar um pouco a mesa onde deixaram as mochilas. Óbvio dos óbvios. Acabou a bateria do carro. Ninguém tinha celular. O breu era total. Estavam no meio de uma floresta fechada num parque. Fazer o que? Pipi. Depois de tantas aventuras a Stela e a Mochileira Tupiniquim precisavam desesperadamente de um banheiro... Graças a Deus, o mato está cheio de ‘banheiros’! Fugiram dos rapazes, que também foram ao ‘banheiro’, e cada uma vigiou a floresta para a outra.

Todos prontos, só restava caminhar à procura de casas, barracas. A única luz vinha da Jurubeba, a filmadora da Mochileira Tupiniquim. Para cúmulo dos cúmulos a bateria da Jurubeba também acabou. Andando em círculos, chegaram a uma casa. Era a do zelador do parque. Salvação, ele emprestou o telefone e os guris chamaram o serviço de reboque.

Retornaram para o carro na beira da praia, a essas alturas já era meia-noite... ainda viram alguns cangurus na praia. Com enorme alívio viram também os mecânicos chegando e só com muito esforço de convencimento do Sam mostrando as ‘meninas assustadas’ eles concordaram em transportar o grupo junto com o carro até a cidade mais próxima... Os problemas não pararam aí, não! Só por milagre encontraram um hotel aberto que os recebeu naquela madrugada... Preço bem caro para ver cangurus selvagens na praia!