Crônica XI - A Monstra do Lago Ness

Ana Esther

Era o ano de 1989 e a Mochileira Tupiniquim estudava inglês em Bournemouth, sul da Inglaterra. O mês era abril e havia um feriado escolar de quatro dias. Alguns colegas alugaram um carro e a convidaram para ir até ali à Escócia, só cruzariam toda a Inglaterra até chegarem lá!

O grupo constituía-se por Clóvis e Ada um casal brasileiro, Felipe outro brasileiro e Fortunata uma moça suíça-italiana e lá se tocou a Mochileira bem faceira com eles para aquela comprida viagem. Tão pouco tempo e uma distância tão grande significava que o objetivo da viagem era ter uma visão geral da paisagem inglesa pois teriam que viajar o tempo inteiro para chegar ao destino. Já que era assim, a Mochileira insistiu, insistiu até deixar todos cansados, e então concordarem, para que fossem até Inverness e de lá visitassem o famoso e misterioso Loch Ness... com um pouquinho de sorte encontrariam o legendário monstro.

E não é que encontraram! Encontraram uma verdadeira monstra... Explico, pois ao chegarem a Inverness, ainda coberta de neve e um frio horrível para gente acostumada aos trópicos (só a Fortunata como boa europeia parecia bem adaptada) foram logo procurar o Loch Ness. A ansiedade aumentou pois tudo na cidade fazia referência ao ilustre personagem. A visão do lago enche entre as montanhas os olhos e nos maravilha. Dirigimos ao longo das margens pela estrada e resolvemos parar e descer num lugar espetacular e apropriado para ir até a beira da água.

Foi aí que a monstra surgiu! Num ataque de alegria extrema a Mochileira Tupiniquim desandou a pular para cima e para baixo, gritando de felicidade por realizar um sonho tão incrível. Não contente em apenas ver e admirar o lindo lago foi até a beiradinha e colocou sua mão na água congelante, oh, quanta emoção! Até aí tudo bem, todos fizeram o mesmo e tiraram fotos e seguraram neve que se acumulara por ali perto... e eis então que a monstra atacou. A Mochileira sem a mínima consciência ecológica puxou de sua fiel mochila uma garrafa plástica de refrigerante e sem o menor pudor a encheu com a água de seu amado lago, ela não resistiu e tinha que levar consigo uma recordação. Que monstruosidade.

Bem, mas a Nessie, o verdadeiro Monstro do Lago Ness, depois dessa, recusou-se de vez a aparecer para uma turista tão predadora. Tiveram que matar a frustação no Loch Ness Centre sobre a história das aparições do monstro. E na loja de souvenires do monstro! E quanto à água do lago? Bem, a água do Lago Ness ficou na garrafinha com a Mochileira Tupiniquim até o final do curso na Inglaterra. Mas o mais miraculoso foi o fato de que a garrafa passou incólume por todos os aeroportos no trajeto de volta para o Brasil e até hoje está na prateleira da Mochileira lembrando-a daquela aventura em terras escocesas. Mas imaginem se todos os turistas fizessem o mesmo? O lago secaria! Que vergonha.

They seek me here, they seek me there

Those tourists seek me everywhere.

Some search in boats, some search in subs

Some may have seen me on leaving their pubs.

But come from the east or come from the west

At spotting old Nessie the Scots are the best.*

[*Autor: ??? Poema impresso num guardanapo adquirido na loja de souvenires em Inverness]

*Mais uma aventura da Mochileira Tupiniquim (Ana Esther), não-ficção, pode???