SOBRE A MULHER

SOBRE A MULHER

Isabel C.S.Vargas

A cada ano, em datas especiais parece que obrigatoriamente temos que falar algo, nos manifestarmos, exaltando conquistas ou enfatizando carências.

Não é impositivo que assim seja.

Ao ensejo do dia 08 de março, não vou escrever sobre a história, sobre atos heróicos, ou exaltação das qualidades femininas. Já fiz isto em outras ocasiões.

Desejo ressaltar é aquilo que o médico psiquiatra e pesquisador Dr. Augusto Cury denunciou em sua obra sobre a ditadura cruelmente imposta às mulheres- a ditadura da beleza- impondo um padrão de beleza universal que hoje não atinge só as mulheres ocidentais, mas também os orientais, desconsiderando biótipo, cultura, saúde física ou mental.

A mídia –impressa, ou televisiva- só valoriza a mulher que corresponde ao que é exigido pelos anunciantes, pelos patrocinadores, estilistas ignorando a mulher comum, normal.

A propaganda carregada de mensagens (explícita e subliminar) atinge um imenso contingente feminino, de qualquer idade, posição social ou cultura levando-as, a despeito da inteligência de que são dotadas, a sentirem-se desvalorizadas, inferiores, se não se enquadram nos padrões veiculados.

O mercado da publicidade, da moda e da beleza está atingindo crianças, adolescentes, mulheres maduras causando danos psicológicos, emocionais, físicos, enfermidades sérias como a bulimia, anorexia e não raro causando até o suicídio.

O autor fala em síndrome do Padrão Inaceitável de Beleza que é construído em cima de um padrão doentio, que exige acima dos parâmetros normais de saúde, induzindo à baixa auto-estima, distorção da auto-imagem, ansiedade, depressão, sensação de fracasso, inadequação, desvalorização do aspecto físico, por não se assemelhar ao que é imposto.

É algo maquiavélico. Quando as mulheres olham um simples comercial de bolsa, sapato, roupas, sabonete, xampu, desodorante, roupa íntima, maquiagem, perfume, esmalte, cerveja e produtos masculinos elas não registram em seu inconsciente só os produtos, suas especificações e vantagens, mas as modelos, as mulheres que os apresentam também. Isto reforça esta imagem. Só tem sucesso, só tem valor o padrão de beleza apresentado. Por não se enquadrar na exigência, as mulheres desenvolvem ansiedade, o que as induz ao consumo. É o velho e conhecido capitalismo imperando e destruindo a auto-estima de milhões de mulheres.

Todas passam a consumir mais para tapar o buraco emocional causado pela imposição de um padrão inatingível, que ignora herança genética, cultural ou os danos emocionais que possam causar.

O autor fala em ditadura interior, que distorce a crítica e a realidade e cujo objetivo é promover a insatisfação. Quem está satisfeito, está tranqüilo, não cai nas chamadas ardilosas, não precisa consumir em excesso para ser feliz.

O mais grave é que estas sequelas causadas pela imposição midiática não se esgotam no presente necessitando de décadas para serem superadas.

As mulheres esquecem que o padrão de beleza exigido ou retratado no decorrer da história não era rígido estando ligado aos aspectos culturais e de saúde ditados pela sociedade da época. Hoje eles são ditados pelo consumo. A lei é ter mais e não ser mais.

Creio que na data de hoje, além de prestar um tributo de respeito às precursoras das lutas pela igualdade e valorização da mulher, cada uma deveria ter um olhar mais lúcido e crítico sobre tudo aquilo que aparece diante dos olhos procurando vender juventude eterna e felicidade associada ao aspecto físico. Que não se acredite em todas as fantasias vendidas nas revistas femininas, nas quais as relações de consumo aparecem mascaradas e todo anunciante aparece como um grande benfeitor capaz de acabar com as mazelas de cada um.

Que o Dia Internacional da Mulher seja um dia de valorização interior, de elevação de auto-estima, de cultivo de bom-humor, alegria, de respeito a si mesmo e as limitações de cada um sejam aceitas como princípio fundamental e que ninguém em função delas se ache indigno de ter sonhos, de lutar por objetivos, de ser feliz e realizado.