MUNDO REAL

Li um texto sobre materialismo e espiritualidade que trazia em seu corpo a Parábola da Caverna, de Platão, que está inserida no livro VII de sua obra A República.

Na Parábola, o mundo material é retratado como uma caverna escura e nós, os humanos, somos identificados como prisioneiros imobilizados desde que nasceram em uma posição tal que só lhes seja permitido olhar para uma parede.

Devido ás condições e situação em que se encontram na caverna, nada vêem além de suas próprias sombras, das sombras dos outros prisioneiros e das sombras dos animais e objetos carregados pelas pessoas que passam pelo caminho iluminado atrás de um muro. Identificam a si mesmo e aos outros como sombras. Isto passa a ser sua realidade individual.Se ganharem a liberdade,terão dificuldade de aceitar a verdadeira realidade.O texto tenta mostrar o difícil caminho da iluminação e do progresso espiritual.

Aquilo que denominamos de realidade, seria o que os sentidos percebem e que por isso mesmo passam a ser nossos modelos mentais. A verdadeira realidade, por extrapolar em muito a capacidade dos sentidos, não tem aceitação imediata.

Ao me deter nesta leitura, inicialmente, relacionei com situações individuais, posteriormente, históricas e, finalmente, percebo nele a explicação de situações atuais.

Vejamos a situação de determinados segmentos da população desta nossa republica, analfabetos, subempregados e vivendo prisioneiros da própria ignorância, cultivando o espírito de rebanho e servindo de massa de manobra para políticos inescrupulosos e marqueteiros competentes. Conseguem ver só aquilo que lhes é permitido ver, quer pela manipulação que são alvo, quer pelas próprias limitações. São induzidos a crer como realidade, como verdadeiro, só o que lhes é mostrado de forma obscura e fantasiosa. Quando tentam abrir-lhes os olhos , para perceberem a verdade,diferente daquilo que até então haviam percebido,torna-se difícil aceita-la.Primeiro porque extrapola em muito sua capacidade de entendimento e em segundo lugar porque a acomodação aparece-lhe como caminho mais fácil , menos tortuoso,visto que já conhecido.O crescimento demanda em atitude interna,que não permite acomodação,que pressupõe abertura para a realidade,solidez de princípios,vontade férrea em atingir metas sem se deixar desvirtuar ou corromper no meio do caminho.Pressupõe espírito forte,consciência da importância de cada um como ser histórico,pensante e agente transformador de uma sociedade.Isto implica em responsabilidade.Só que o comodismo leva as pessoas ,de um modo geral,atribuir culpa das mazelas próprias e sociais a outrem e não assumir ,desta forma a sua parcela de responsabilidade pelas coisas boas ou más da realidade circundante.

Ora, estamos, no momento, em uma etapa importantíssima na vida da sociedade brasileira, visto que a liberdade de escolha foi conquistada, porém a falta de percepção da verdadeira realidade confunde àqueles que ainda estão no início do processo de crescimento, impedindo-lhes de aceitarem os fatos ocorridos à sua falta. Continuam sendo manipulados, para acreditarem que escândalos, corrupção, roubos, tramóias, caixa dois, paraísos fiscais, pesquisas com resultados, às vezes distorcidos, são forjadas, irreais, visto que fogem à percepção de seus sentidos, já habilmente manipulados subliminarmente por grandes investimentos em poderosas mídias.

É importante que cada um que tenha condições de conduzi-los à luz, o faça, sob pena de amargarmos todos por mais um período de trevas, de escassa liberdade, de arbítrio, prepotência, má aplicação de dinheiro público, de descalabro nas esferas política, financeira, social, onde a despeito de campanhas institucionais, o que se viu foi a precariedade de verbas para educação, saúde, previdência, em contrapartida com altos lucros na protegida esfera financeira.

É importante o ressurgimento de valores morais, éticos sem os quais não se pode conceber uma sociedade livre na qual o peso da justiça possa equilibrar a balança, visando uma convívio social mais harmônico, menos desigual.